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Recentemente adicionado na Netflix, “500 dias com ela” (2009), dirigido por Marc Webb, tornou-se um cult obrigatório para todo término de relacionamentos amorosos.

Quando nos recordamos de um relacionamento acabado, normalmente, ele ressurge à memória aos pedacinhos. As lembranças nunca vêm em ordem cronológica, e sim aos poucos e em largos saltos temporais: alternamos momentos ruins com momentos bons, lembramo-nos das brigas, dos risos, do fim, do começo, do meio; nossa mente vai viajando no tempo, nostálgica, até voltarmos ao presente e nos vermos na ausência daquele ente amado que estava aqui há pouco e de repente foi embora. “500 dias com ela” é um filme que rememora um relacionamento enrolado pela ótica de Tom (Joseph Gordon-Levitt), acompanhando seu amadurecimento amoroso e humano ao longo desse um doloroso processo.

A trama inicia-se quando chega à empresa de Tom, que confecciona cartões com mensagens (aniversários, casamentos, velórios, etc), a nova secretária do chefe, Summer (Zooey Deschannel). Disto, iniciamos uma trajetória não linear pelos 500 dias de Tom com ela, desde o dia 1, o amor à primeira vista, o encantamento e a aurora da paixão, até o dia 500 e a total superação da tragédia amorosa. Não obstante, é possível traçar paralelos entre essa história e o modelo dramático das antigas tragédias gregas: aqui, Tom é o nosso herói cujo erro trágico surge de uma de suas “virtudes” (acreditar no amor romântico e nos contos de fadas dos amores perfeitos e eternos), o que somado ao enamoramento por Summer, desenrola uma história em que, através da compaixão e da nossa empatia com o herói, nós (o público) aprendemos em conjunto com o protagonista que as demasiadas idealizações no amor são sentimentos a serem superados, pela imaturidade dos quais provém e pela infelicidade que causam; e como tal erro trágico já foi o erro de muitos de nós, não é exagero dizer que aqui a arte também imita a vida.

Esta obra audiovisual pretende-se uma comédia romântica para jovens, e, apesar de não esconder as próprias referências, de The Graduate (1967) até Annie Hall (1977), mantém-se sempre original e com sequências memoráveis, como a montagem que compara as expectativas do protagonista com a realidade frustrante que o cerca. Iniciando-se próximo de uma mentalidade mais adolescente, a narrativa parece ir também amadurecendo junto do protagonista; cuja através da qual, de início, o filme denota nuances machistas e parece tratar apenas dos conflitos masculinos de um homem que não consegue lidar com uma mulher com vontade própria, mas que ao desenvolver-se, transparece os amadurecimentos necessários por Tom frente às frustrações de suas expectativas e sua evolução simbólica.

Por evolução simbólica, noto aqui que Tom confecciona cartões com mensagens – efêmeros e descartáveis, como ele mesmo diz diversas vezes. É este seu trabalho, apesar de sua graduação em arquitetura. Parte do amadurecimento sugerido pelo filme se dá na medida em que o protagonista abandona sua labuta na produção fugaz de cartões (que não são feitos para durarem, são objetos decorativos e, às vezes, “falsos”) e passa a dedicar-se a sua “vocação”: ser arquiteto; tratar da construção de coisas duradouras, como prédios ou monumentos – objetos edificados “tijolo a tijolo”; ou melhor, relacionamentos mais maturos e fortes, no lugar das relações efêmeras, idealizadas e juvenis.

Acompanha o filme uma trilha sonora memorável, responsável por lançar hits e desenterrar clássicos, que vão desde The Smiths e The Pixies até Carla Bruni e Regina Spektor. Primeiro filme dirigido por Marc Webb, popular diretor de videoclipes (Green Day, My Chemical Romance, Fergie, etc), vemos nas boas atuações de Joseph Gordon-Levitt e Zooey Deschanel os destaques. Enquanto Zooey incorpora um tipo de femme fatale com grande eficiência e precisão, Joseph traduz muito bem a ingenuidade, as expectativas e o niilismo que assolam Tom ao longo de seu arco de personagem. Com guarda-roupas que frequentemente misturam-se aos cenários, Arte e Fotografia ocupam-se de suas funções de maneira econômica, sem chamarem maiores atenções para si mesmas através de paletas de cores extravagantes ou sombras, texturas e outros artifícios, havendo homogeneidade nas composições e sobriedade nos cenários: nossa atenção está sempre voltada para os personagens, seus sentimentos e suas ações.

Tornado clássico necessário para términos, “500 dias com ela” destaca-se enquanto uma jornada de maturidade; esta não é uma história de amor (diz o próprio filme), é uma história de amadurecimento, penso eu. É uma obra interessante para nossa geração hoje, pois em tempos de amores líquidos e efêmeros, em que relacionamentos amorosos não parecem mais durar, sendo comparáveis a itens de consumo (trocados com frequência, às vezes por moda e segundo as disponibilidades do “mercado”), é vital que repensemos os “cartões de mensagens”, fugazes e descartáveis, e passemos a arquitetar as moradas de nossas vidas, acompanhados ou não.

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500 DIAS COM ELA

Diretor: Marc Webb

Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Geoffrey Arend e mais

Ano de lançamento: 2016

Tom Hansen (Joseph Gordon-Levitt) está em uma reunião com seu chefe, Vance (Clark Gregg), quando ele apresenta sua nova assistente, Summer Finn (Zooey Deschanel). Tom logo fica impressionado com sua beleza, o que faz com que tente, nas duas semanas seguintes, realizar algum tipo de contato. Sua grande chance surge quando seu melhor amigo o convida a ir em um karaokê, onde os colegas de trabalho costumam ir. Lá Tom encontra Summer. Eles também cantam e conversam sobre o amor, dando início a um relacionamento.

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