A Livraria Mágica de Paris é um romance alemão da escritora Nina George. O livro foi publicado originalmente em 2013, na Alemanha, e traduzido e publicado no Brasil em 2016, pela editora Record.

Sobre o Livro

Jean Perdu é um livreiro, ou melhor, farmacêutico literário, parisiense, que tem a sua pequena livraria – Farmácia Literária – dentro de um barco ancorado no rio Sena, contabilizando aproximadamente oito mil títulos, todos separados em categorias de acordo com seus respectivos potenciais curatórios para todas as dificuldades da vida: livros para quem tem incapacidade de tomar decisões ou confiar em amigos, livros para quem tem muitos conflitos entre a realidade e o idealismo, livros para a compreensão do amor materno e contra as lembranças supervalorizadas da infância, livros para autores com bloqueio de escrita, livros para quem tem a sensação de ser incompreendido por todos, livros para ajudar a responder se você se envolveu rápido demais numa relação, entre outros.

No entanto, o livreiro acaba perdendo alguns clientes que não entendem seu jeito de trabalhar, consequentemente são os clientes que enxergam a literatura como algo comercial ou como puro entretenimento, sendo que vai muito além disso. Monsieur Perdu não vende o que as pessoas querem ler, ele vende o que as pessoas precisam ler; vê os livros como remédios e acredita que estes são os únicos antídotos para as inúmeras e indeterminadas doenças da alma. Fazendo uma análise intuitiva dos seus clientes, ele identifica e recomenda o livro ideal para cada um, seu pai chama esse dom de transpercepção, qual a partir dos sentidos e, principalmente, do instinto, era possível num breve contato ser capaz de identificar em uma alma o que lhe faltava ou o que lhe tinha em excesso. 

“Os livros podem fazer muitas coisas, mas não tudo. As coisas mais importantes a gente deve viver. Não ler.”

O curador de almas e amante dos livros era abraçado por uma ironia sem fim, sabia exatamente o que qualquer desconhecido tinha que ler para curar traumas que ele conseguia enxergar numa breve análise, mas a única dor que não conseguia curar era a sua, qual já lhe atormentava por 21 anos, quando fora abandonado pela mulher que amava enquanto dormia, o deixando apenas com uma carta que ele não conseguiu abrir. Por 21 anos ele se privou de viver e se puniu das mais diversas formas, desde parar de experimentar refeições saborosas, manter amizades, se tornar íntimo de alguém e até mesmo, não se relacionar sexualmente com outras mulheres. Foram 21 anos de uma morte viva, até que Monsieur Perdu decide não apenas ler o que era preciso para começar seu processo de superação, como decidiu ir em busca da sua própria história, mergulhando no mar no autoconhecimento e da reconciliação com seu passado.


Minha Opinião

58 post its. Cinquenta e oito foi o número de passagens que praticamente esmagaram o meu coração, me fizeram refletir muitas coisas da vida e enalteceram a minha paixão já desenfreada por livros.

Ter lido A Livraria Mágica de Paris só confirma ainda mais a mensagem que o próprio livro passa: livros são curadores de almas; livros te abraçam, te aconselham, te fazem enxergar a vida com mais clareza; os livros estão ali o tempo todo para te dizer que você não precisa enfrentar nada sozinho; mas também estão ali para te fazer compreender que, independente do que você esteja passando, você precisa viver a sua vida, traçar seu próprio caminho e escrever a sua própria história.

“Acho que aprendi todos os meus sentimentos com os livros. Neles amei mais, sorri mais e aprendi mais do que em toda a minha vida sem leitura.”

Quando você já está bastante familiarizado com a literatura; com a arte da escrita, consegue ver que existem muitas coisas por trás daquelas páginas e daquelas histórias. Você até se torna mais cuidadoso ao dizer que um livro é ruim simplesmente porque leu e não gostou ou não lhe tocou o suficiente. Quantas vezes você já leu um livro e não gostou, mas numa releitura se surpreendeu e ficou se perguntando o que antes você não tinha enxergado? Não é o que antes você não tinha enxergado, é o que antes você não tinha vivido. Muitas vezes, para compreender certas histórias, você precisa ter uma bagagem de vida, caso contrário, as palavras escorrem pelos seus dedos e você não encontra sentido nem se reler uma, duas, três vezes.

Monsieur Perdu tinha quase como uma missão fazer seus clientes entenderem que um livro é muito mais do que aquilo que você está ali segurando. Se um livro tivesse o peso da história que ele carrega por trás, com certeza não conseguiríamos carrega-lo. Por isso ele acredita que certos livros são feitos para tocar pessoas em momentos específicos de suas vidas, às vezes, para tocar uma pessoa só. Apesar da ficção, há muitas verdades dentro de determinadas histórias, e é preciso de muita identificação para serem lidas e compreendidas; sentidas.

“Existe um mundo intermediário entre o fim e o recomeço. É o tempo ferido. É um pântano, e nele se reúnem sonhos, preocupações, intenções esquecidas. Seus passos ficam mais pesados nesse período. Não subestime esse tempo de transição, entre a despedida e o recomeço. Dê tempo ao tempo. Às vezes, essas soleiras são mais largas que nossos passos.”

Estamos muito acostumados, ainda, a ler a literatura dos homens, a adentrar no mundo da imaginação pela perspectiva deles; estamos acostumados a ler histórias com protagonistas mulheres imaginadas, idealizadas e criadas por homens. Isso não é uma crítica, apenas um contraponto para dizer que foi lindo demais ler uma história com um homem protagonista criado por uma mulher. A construção que Nina George dá para seu personagem Jean Perdu é sensacional; ela consegue criar um ideal cheio de defeitos e isso, se você conseguir sentir, é incrível, porque a vida é assim mesmo… buscamos ser o melhor de nós todos os dias, mas se tropeçarmos no meio do caminho, tudo bem, a gente levanta. A alusão que ela faz com o nome do personagem “Perdu” [Perdido, em francês] faz muito sentido, uma vez que ele vive no limbo do próprio passado por 21 anos.

Nina consegue urdir seu personagem perfeitamente para que a história criada a partir dele e antes dele não fosse superficial. Deu a Perdu um tom bastante romântico, solitário, ranzinza, empático; teve maestria em nos fazer sentir compaixão pela dor que aquele homem estava sentindo e o porquê de não ter feito certas coisas e feito outras. Ao mesmo tempo que você sofre junto, sente vontade de estar perto dele e de embarcar junto naquela viagem de descobertas.

Quando Perdu decide tomar um outro rumo na sua vida – afinal, já estava com 50 anos -, desancora seu barco e parte numa viagem de reconciliação com o passado. Vai de Paris a Avignon pelo mar e depois parte de carro até Sanary-sur-Mer. Mas não vai e não fica sozinho todo esse tempo. Contra seu consentimento, ainda em Paris, o jovem escritor de 21 anos, Max Jordan,  se joga no barco quando este já estava há 1 metro do pier, e diz que vai, que precisa ir junto. Jordan não precisava curar o coração partido, mas depois de ter lançado um livro e, sem esperar, ter se tornado best-seller, ele não consegue lidar com toda a pressão da mídia, das editoras e dos fãs e vê na viagem de Perdu a oportunidade de descobrir o que ele realmente quer para sua vida, principalmente no âmbito profissional.

A amizade construída entre Perdu e Jordan foi bastante verossímil e teve seu crescimento gradativo, lento, arisco, até chegar num ponto em que na relação entre os dois floresce um carinho paternal e isso é muito bonito, pois acaba preenchendo lacunas que existem na vida de ambos. Pelo meio do caminho eles vão fazendo paradas em alguns lugares, conhecem passageiramente algumas pessoas e nas conversas de bares sempre têm uma troca de dores e experiências que se tornam abraços em forma de palavras ganhos inesperadamente, mas nos momentos certos.

“O hábito é um deus perigoso, vaidoso. Não permite que nada interrompa seu reinado. Mata um desejo atrás do outro. O desejo de viajar, de trocar de emprego, de ter um novo amor. Impede o homem de viver como quer. Pois não refletimos mais se queremos o que fazemos.”

Quando Monsieur Perdu chega onde queria, percebe que aquele não é o fim da sua viagem, mas apenas o começo de uma nova jornada. Se arrepende por ter demorado tanto para começar a viver até refletir por outro ponto de vista: se ele não tivesse passado por tudo que passou, não estaria ali agora, não teria passado pelos lugares que passou, não teria conhecido as pessoas que conheceu e não teria se tornado o homem que se tornou. Então, quem seria Perdu se não tivesse trilhado seu próprio caminho?

A LIVRARIA MÁGICA DE PARIS

Autor: Nina George

Tradução: Petê Rissatti

Editora: Record

Ano de publicação: 2016

O livreiro parisiense Jean Perdu sabe exatamente que livro cada cliente deve ler para amenizar os sofrimentos da alma. Em seu barco-livraria, ele vende romances como se fossem remédios. Infelizmente, o único sofrimento que não consegue curar é o seu: a desilusão amorosa que o atormenta há 21 anos, desde que a bela Manon partiu enquanto ele dormia. Tudo o que ela deixou foi uma carta — que Perdu não teve coragem de ler. Até um determinado verão — o verão que muda tudo e que leva Monsieur Perdu a abandonar a casa na estreita rue Montagnard e a embarcar numa jornada que o levará ao coração da Provence e de volta ao mundo dos vivos.

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