Além-Mundos é lançamento de 2016 de Scott Westerfeld pela Galera Record. O autor também escreveu a série Feios e Leviatã.

Sobre o livro

Darcy Patel escreveu Além-Mundos em apenas um mês e quando menos esperava foi aceita por uma grande editora para ter seu sonho realizado e se tornar uma autora publicada. Junto com uma quantidade significativa de dinheiro, também veio o prazo de um ano para que ela entregasse o segundo volume. Com isso, ela resolve suspender sua ida para a faculdade, mudar-se para Nova York e viver o sonho pelo tempo em que o dinheiro durar, contando que ao fim desse período vai ter sido bem sucedida e poderá continuar a viver da escrita.

Porém, ela é uma autora iniciante e desconhece como a coisa funciona. Assim, iremos acompanhar sua inserção no mundo dos autores e as descobertas do passo a passo no processo editorial. Todas as revisões, modificações, pressões de prazo e desafios de se manter atrativa frente a tantos autores bons e mais experientes.

“O mundo era assombrado pelo passado.”

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Intercalando com os capítulos de Darcy vamos ter o livro que ela escreveu e a história da Lizzie, sua protagonista. Ela está no aeroporto, prestes a embarcar, quando um grupo de terroristas entra atirando e ela se vê sem saída. Ao tentar se fingir de morta, Lizzie acredita demais no que está fazendo e acaba atravessando para o Além-Mundos, um lugar onde os espíritos transitam e os ceifadores ou “psicopompos” ajudam a conduzi-los para o caminho certo. Confrontada com essa descoberta de que também é um deles e que pode atravessar esses mundos, sua perspectiva de vida muda e ela descobrirá que não estava tão sozinha quanto pensava em sua própria casa, podendo agora desbravar o mundo sem cor que fica do outro lado.

Com o ponto de vista da autora e depois de sua obra, vamos conhecer um pouco mais da história de Darcy e de Lizzie, cada uma a sua maneira, com seus desafios, cruzando entre a realidade e a fantasia.

Minha opinião

Acho a ideia de termos em um mesmo livro a trajetória do escritor e a história da sua obra algo muito legal. É ter a convergência de duas coisas que são tão diferentes e que partem do mesmo princípio, uma ideia na mão de um autor. A realidade versos a fantasia.

Darcy é uma adolescente de família Hindu que mora nos Estados Unidos, apesar de já ter abdicado de várias características de sua cultura, ela tem isso ainda muito presente na sua vida, incorporando traços da religião no seu próprio livro. E esse é apenas um dos conflitos que ela vai se deparar ao longo da jornada. Sua sexualidade também entra em questionamento e ela provavelmente estará vivendo seu primeiro amor em meio a esse turbilhão de emoções.

Ela, como é citado no livro, é uma garota mimada e sortuda que teve um insight, escreveu um bom livro e agora vai ter a oportunidade de descobrir todo um mundo novo por causa disso. Por ela não saber como as coisas funcionam, tudo é uma novidade, tudo a fascina e a preocupa no mesmo grau numa vertente de sentimentos que muda rapidamente. Ao mesmo tempo em que ficamos animadas por acompanhar a “sorte” que lhe sorri, ficamos apreensivas por ver o quanto ela pode ser negligente com a oportunidade em alguns aspectos, enquanto se agarra a outras com unhas e dentes.

Por ser seu primeiro livro, tudo o que diz respeito a revisões, alterações e solicitações do editor e da editora são coisas desconhecidas que ela vai aprendendo a lidar conforme o livro caminha. E, enquanto isso acontece, vamos começar a ler a história que deu à Darcy essa oportunidade.

“Não era só exaustão. Ainda havia um resquício de frio dentro de mim, uma lembrança da escuridão pela qual eu passara. Um presente do outro lado.”

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Lizzie é uma personagem menos complexa e mais frágil em vários aspectos, assim como a história em si do Além-Mundos. Quando parei para pensar sobre isso me confrontei com uma questão: será que não tinha sido proposital, por Darcy ser uma autora estreante e consequentemente não ter construído tudo com mais atenção? Várias vezes recebemos spoilers da trama de Lizzie pelos capítulos da autora, porém, ela vai mudando os detalhes de acordo com as correções que recebe da sua editora, fazendo com que tenhamos um vislumbre do que a trama foi, como ela está se transformando e qual o seu resultado final.

Falando em final, me atentei sobre isso quando a Darcy conta sobre o final do livro no meio da história e do quanto terem pedido que ela o mudasse a balançou. Várias opções vão se apresentar, mas é somente ao lermos mesmo as últimas páginas de Além-Mundos é que descobriremos o desfecho que Darcy deu a Lizzie e ao seu universo, apenas o primeiro livro de uma trilogia.

Esse é um livro com personagens adolescentes então é óbvio que teríamos romance na história. O de Darcy foi muito mais cativante e compreensível, por mais que ela também estivesse muito suscetível no momento, enquanto o que acontece com Lizzie reflete claramente a falta de experiência de quem escreve a história sobre como um “romance deveria ser”. Em consequência disso, acabei pegando uma birrinha com Yamaraj, o Deus da Morte do outro lado que, ao invés de explicar como as coisas funcionam para a garota, a leva na corda bamba por toda a trama. Já Imogem, que contracena com Darcy e tem todo um background melhor construído, acabou por me cativar mais, mesmo tendo posturas enigmáticas e irritantes em vários pontos do livro.

De forma geral eu gostei bastante da história  e da proposta de trazer a autora e a obra se degladiando nas páginas. Porém, não sei se o formato foi o mais assertivo por estar sempre interrompendo o leitor e o seu raciocínio frente à trama. Pensei que se tivéssemos, ao invés de capítulos alternados, mas ambos os livros separados, poderia dar ao leitor três opções diferentes de leitura e criar experiências completamente diferentes para cada um. Poderíamos ler o capítulos alternados, conforme está hoje; ou primeiro a história da autora e depois sua obra; ou primeiro a obra e depois a história de como ela foi completamente concebida. Três opções. Três experiências. Múltiplas percepções.

Para um primeiro contato com a escrita do Scott Westerfeld, acho que o saldo foi positivo. Além-Mundos não é extremamente fluído, mas se passa pelas páginas de forma confortável. Acredito que só não flua mais rápido pelo constante interrompimento do raciocínio de quem está lendo, que precisa flutuar entre as histórias de poucas em poucas páginas. Mesmo assim, foi uma experiência completamente nova pra mim ler um livro que trouxesse esse desafio como história. Além, claro, de haver uma referência muito direta ao Nanowrimo, evento que acontece de verdade todo novembro, e que incita os autores a escreverem uma meta diária de 2 mil palavras e concluir um livro em um mês.

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Darcy Patel escreveu seu primeiro livro em um mês. Não muito tempo depois, se mudou para Nova York, para realizar o sonho de viver de escrever. Lizzie se prepara para mais uma viagem de avião, até terroristas invadirem o aeroporto e começarem a atirar em todos. Desesperada, Lizzie se joga no chão. Eu estou morta, eu estou morta… No fim, está tão convencida de pertencer ao lugar dos mortos que acaba atravessando a fronteira do além-mundo. Darcy criou Lizzie. A menina de Além-mundos é sua protagonista. Enquanto Lizzie se vê cada vez mais envolvida nos assuntos dos mortos e do submundo, Darcy luta para se manter no paraíso do YA, na Big Apple, e quanto mais Darcy aprende e amadurece, mais a história de Lizzie também cresce. Ou seria o contrário? Sempre atravessando as barreiras entremundos, as duas irão se redescobrir, se reescrever e explorar os infinitos mundos dentro de si mesmas.

 

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