As Memórias do Livro foi escrito pela autora Geraldine Brooks. A publicação é de 2016 pela Globo Livros.

Sobre o livro

As Memórias do Livro conta a história do Manuscrito de Sarajevo, a Hagadá. Criado no século XV e de valor inestimável, o livro narra a história da libertação do povo de Israel do Egito. Considerado uma obra prima do judaísmo medieval, com belíssimas ilustrações e de autoria desconhecida, o manuscrito ficou desaparecido durante séculos e ressurgiu numa Sarajevo bombardeada na década de 90, durante uma guerra civil.

Através de circunstâncias inusitadas o códice reaparece, e com a ajuda da ONU uma restauradora é convidada para examinar a Hagadá, avaliar as condições do livro e restaurá-lo. Hanna Heath é a encarregada do trabalho, mas ela não é apenas uma restauradora australiana comum. Por ser apaixonada e meticulosa, ela recolhe todas as pistas oferecidas e parte em busca de descobrir tudo o que aconteceu com ele desde 1400 até aquele momento.

“Era uma sensação que já conhecia; um risco ocupacional. Era como se eu enfrentasse um gênio que vivia nas páginas de livros antigos. Às vezes, se tivesse sorte, eu o libertaria por um ou dois instantes, e ele me recompensava com uma visão vaga do passado.”

Quem criou o livro e qual a motivação? Quem foi o artista responsável pelas iluminuras tão belamente feitas, mas que iam contra as restrições judaicas da época? O que significa aquela pequena mancha de vinho, ou a falta dos fechos na capa? E aquela asa de inseto, por que ela está ali, entre as páginas tão bem conservadas? Aliás, a conservação é uma questão que também precisa ser respondida, pois, depois de tantos séculos, como o livro se manteve em tão perfeito estado? Esses são questionamentos feitos por Hanna e que vão sendo respondidos durante a leitura, através de uma narrativa que alterna passado e presente, e que mescla realidade e ficção.


Minha Opinião

Desde a Espanha do século XV, passando por vilarejos remotos, por guerras das quais ninguém estava a salvo, a Hagadá foi parar nas mãos justamente de uma restauradora que tem uma alma extremamente investigativa. Quando Hanna descobre que será a responsável por analisar todos os detalhes daquela obra, ela sente um misto de medo e excitação. Isso porque para ela não basta apenas ter certeza de que o exemplar será perfeitamente preparado e preservado para ser exposto ao mundo, tal qual toda obra dessa magnitude. Ela precisa entender tudo o que está relacionado ao livro, desde o momento em que foi confeccionado até aquele instante, em que foi parar em suas mãos trêmulas.

A partir deste momento o leitor passa a conhecer diversos personagens, todos eles como uma espécie de fio que tece a trama deste livro. Cada um que em um momento, por algum motivo, deixa sua marca. Uma jovem aparentemente inofensiva, que tem seu irmão levado pela inquisição pelo simples fato de ter um livro judeu em casa. Uma garota judia que enquanto foge dos nazistas se torna uma militante, uma lutadora, uma sobrevivente, e por isso faz amigos inusitados. Um padre católico que usava a bebida para minimizar toda sua dor, e que era responsável por salvar ou condenar escrituras à fogueira na inquisição papal. Uma pintora muçulmana que foi roubada da família e que agora é responsável por criar retratos que vão contra tudo aquilo que ela acredita. Pessoas com crenças distintas, de culturas diversas e que mesmo tão diferentes umas das outras têm seus caminhos cruzados e entrelaçam suas histórias com a do Manuscrito de Sarajevo.

Tudo isso enquanto Hanna trava uma batalha não só pela proteção do Hagadá, mas luta também para descobrir como lidar com diversas questões pessoais. Afinal, qual seu papel enquanto amante de Ozren, o bibliotecário muçulmano que lê para o filho em coma?  O que precisa fazer para melhorar o relacionamento com a mãe, uma médica que coloca a carreira em primeiro lugar, que nunca quis ter filhos e que até hoje esconde de Hanna quem foi seu pai?  Que atitude deve tomar quando, em determinado momento, suas habilidades profissionais são desafiadas e colocadas em xeque, e ela se vê duvidando de si mesma?

“Aquele era um homem que arriscava a sua vida por causa de livros perdidos. e do qual você tinha de arrancar informações a saca-rolhas para saber o que ele tinha feito. Eu começava a gostar dele, e muito”.

Com uma narrativa muito rica e envolvente, mas que muitas vezes pede uma visita ao Google para descobrir o significado de palavras e expressões, As Memórias do Livro mantém um ritmo instigante do início ao fim. Retrata de maneira detalhada o cenário histórico de todos os momentos em que o livro aparece, mas isso de forma alguma o torna chato ou monótono. Durante a leitura a gente passa a conhecer particularidades seculares que envolvem de religião a culinária, e que são mostradas ao leitor de maneira bonita, mas ao mesmo tempo didática. O único ponto que me incomodou um pouco foi o tamanho dos capítulos. Todos muito longos, pois cada um está relacionado a um momento específico da história do livro, e acabaram deixando uma sensação de cansaço.

“Eu queria que este [livro] fosse diferente. Queria passar uma imagem das pessoas do livro, das diferentes mãos que o tinham feito, usado, protegido”.

Este é o tipo de obra que conquista os curiosos desde o início. Isso porque que leitor não gosta de saber as particularidades relacionadas a uma obra? Por onde esteve antes de chegar a nossas mãos. Quem leu, o que achou, de que maneira foi tocado por aquela história. Se somarmos isso ao fado de que a Hagadá de Sarajevo realmente existe, que sua trajetória é misteriosa e que remete a tempos muito antigos, percebemos que esse é um prato cheio para leitores que apreciam um bom romance histórico.

Uma sugestão, além da leitura deste livro, é não ignorar o posfácio escrito pela autora. Ela conta um pouco sobre suas inspirações e fala sobre os pontos verdadeiros da história que escolheu modificar para dar vida ao seu livro. Vale muito a pena conferir.

AS MEMÓRIAS DO LIVRO

Autor: Geraldine Brooks

Editora: Globo Livros

Ano de publicação: 2017

Inspirado em uma história real, As memórias do livro apresenta a trajetória de Hanna Heath, uma talentosa conservadora de livros que recebe a missão de restaurar e analisar a famosa Hagadá de Sarajevo, manuscrito resgatado após um bombardeio sérvio durante a guerra da Bósnia. A partir das pistas encontradas, a personagem desvenda uma série de enigmas fascinantes enquanto reconstrói as memórias do livro.

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