Bela Gratidão é um livro da autora Corey Ann Haydu. Sua publicação é de 2017 pela editora Galera.

Sobre o Livro

Montana e a irmã Arizona sempre foram próximas, mas após terem sido abandonadas pela mãe esse laço se estreitou e o relacionamento entre as duas se transformou em uma parceria que pouco se vê por aí. Elas se conhecem melhor do que ninguém, se entendem e desejam as mesmas coisas. Lutam juntas para que suas vidas permaneçam o mais normal possível e para que as idas e vindas de madrastas não cobrem um preço alto demais.

O pai das jovens, um cirurgião plástico perfeccionista e com tendência a modificar fisicamente todas as mulheres com quem se envolve, faz com que as garotas desenvolvam certa resistência em aceitar seus relacionamentos, que sempre terminam cedo demais e que mesmo assim costumam deixar marcas difíceis de apagar. É por isso que elas se consideram a única constante na vida uma da outra. É por isso que elas fazem um pacto para sempre se apoiarem. Será para sempre elas contra o mundo.

“Não pense no que vem depois, se ainda estamos fazendo o agora.”

Acontece que conforme os dias passam, as coisas mudam. Gratas surpresas aparecem, como o garoto que costuma flertar com Montana quando está sentado do outro lado do Parque. Marissa também promete ser uma mudança bem vinda, com seu jeito espirituoso e sua perfeição imperfeita cheia de energia que é ao mesmo tempo vital e melancólica, uma espécie de mistura perfeita. Infelizmente nem toda transformação, seja ela física ou emocional, é capaz de despertar somente sentimentos positivos… E Arizona chegar em casa para as férias de verão parecendo um tanto diferente pode dar início a uma série de desdobramentos que promete abalar a vida de todos.


Minha Opinião

Quando vi a capa de Bela Gratidão, me apaixonei. Delicada, significativa, convidativa ao extremo, passa a sensação de que se trata de uma leitura sensível, delicada. O conteúdo demonstra, através da sinopse, seguir uma direção aparentemente oposta ao optar por falar sobre temas que incomodam e angustiam bastante: perda, abandono, apego, idealização da aparência perfeita e a ditadura da beleza injustamente imposta às mulheres. Quando começamos a leitura temos essa sensação, de que a autora vai falar sobre assuntos difíceis, mas embelezando-os para que sejam mais facilmente digeridos. E é isso que ela tenta fazer.

Arizona tem 17 anos e tudo o que mais quer neste verão é conseguir aproveitar a presença da irmã e os dias ensolarados no parque. É ali, aliás, que ela conhece Bernardo, o garoto que usa cachecol mesmo quando o clima está quente e que decide pintar os cabelos de rosa para impressioná-la. E é sobre ele que Arizona mais gosta de falar quando está com Marissa, uma amiga que conheceu nas aulas de teatro e alguém que está ganhando cada vez mais espaço na vida da jovem. Isso porque Marissa é uma espécie de estrela particular, capaz de deixar tudo ao redor mais brilhante, mais interessante.

“Eu passo tanto tempo pensando no que há de errado comigo, me perguntando por que eu não sou uma irmã boa o suficiente ou amiga ou filha ou pessoa, que a ideia de ser boa é um pouco insuportável.”

As festas regadas a vinhos e cigarros se tornam cada vez mais constantes, ao mesmo tempo em que o relacionamento com Arizona começa a ficar estranho. Isso porque as irmãs passaram a enxergar a beleza de maneira diferente… E os subterfúgios para consegui-la também. Enquanto Montana busca maneiras para entender o que está acontecendo dentro dela e formas de lidar com tantas questões mal resolvidas, o leitor embarca em uma narrativa que promete muito, mas entrega pouco. Peca pelo excesso – do álcool, da necessidade de auto aceitação da protagonista, pela infantilidade disfarçada de jeito cool e despojado, das lembranças deixadas por tantas mulheres que passam pela história, mas que no fim das contas não importam tanto, com exceção de uma ou outra.

A história é longa e isso acaba se tornando um paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que a leitura flui que é uma beleza – talvez por causa dos diálogos dinâmicos e capítulos curtos – a impressão que temos é que o livro inicia vários assuntos e fala demais, mas não chega a lugar nenhum.  As diversas questões levantadas são interessantes e achei válida a proposta de falar de maneira ora sensível, ora irônica, sobre os prejuízos causados pela ditadura da beleza. Mas a relevância disso veio abaixo quando a autora gastou tempo demais deixando os personagens jovens brincarem de adultos, e os verdadeiros adultos se comportarem como adolescentes inconsequentes.

Ficou nítida uma inversão de papeis que particularmente achei desnecessária, embora entenda que talvez essa inconstância toda possa ter sido um dos pontos que ela quis abordar, afinal, quem consegue se desenvolver bem emocionalmente se não há um ambiente favorável para isso? Quem consegue entender o que é beleza quando o próprio pai pega fotos da família e marca com caneta vermelha de ponta grossa tudo aquilo que mudaria naquela pessoa caso ela estivesse em sua mesa de cirurgia? Como se permitir investir no relacionamento com alguém se você não sabe quanto tempo terá essa pessoa por perto? E como conseguir manter a sanidade quando nada é realmente o que parece? Sei que é difícil.

Por esse motivo eu esperava mais. Mais profundidade dos personagens, mais coerência na história e mais clareza com relação a direção que a narrativa tomaria. O livro não é ruim, ele tem seu charme. As partes em que a protagonista compartilha seu diário de gratidão me inspiraram a escrever o meu próprio, e são um lembrete sutil do quanto as pequenas coisas podem fazer diferença em nossa vida. A capa é linda. A edição está belíssima. Mas às vezes beleza não é tudo. Não deveria ser, pelo menos.

BELA GRATIDÃO

Autor: Corey Ann Haydu

Editora: Galera

Ano de publicação: 2017

Um romance sobre amadurecimento e a dureza de crescer em uma cultura que exige das mulheres nada menos que a perfeição. Corey Ann Haydu explora as complexidades da família, os limites do amor e quão duro é crescer em uma cultura que premia a beleza acima de qualquer outra coisa e cobra das mulheres nada menos que a perfeição. Uma leitura atual que dialoga direta e honestamente com a multiplicidade de questões enfrentadas por adolescentes e jovens no mundo todo – a confusão do primeiro amor, os dramas familiares e a construção da própria identidade no meio de toda essa loucura. O livro está cheio de personagens realistas, que tropeçam nos próprios medos e cometem erros com alguns dos quais é impossível não se identificar. Montana e sua irmã Arizona têm um pacto desde que a mãe as deixou: São elas duas contra todo o mundo. Com o pai sempre imerso em relacionamentos tóxicos e uma sucessão de madrastas essa foi a maneira que encontraram de seguir em frente. Mas agora que Arizona foi para a faculdade Montana se sente deixada pra trás e perdida, mergulhando em uma amizade vertiginosa e empolgante com a ousada Karissa. No meio disso tudo, Montana encontra uma distração em Bernardo. Resta saber se Montana têm a confiança necessária no que sentem um pelo outro para encaixar Bernardo na sua vida imperfeita.

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