A Beleza é Uma Ferida é do autor Eka Kurniawan, publicado aqui no Brasil em 2017 pela editora José Olympio.

Sobre o Livro

Vivendo na cidade de Halimunda está Dewi Ayu, a prostituta mais famosa que volta a vida depois de 21 anos. Antes de descobrirmos o que a fez voltar à vida, conhecemos o seu passado. Somos então levados de volta para a sua infância e adolescência. Quando a guerra estava em seu ápice, ela e outras dezenas de refugiadas foram destinadas a uma casa de prostituição.

“Não há maior maldição do que dar à luz fêmeas bonitas, num mundo de homens perversos como cães no cio.”

Alamanda, Adinda e Maya são as três filhas que Dewi teve, com pais que ninguém conhece. Como era de se esperar a beleza da mãe passou a sua prole e a maldição de carregá-la e se tornar alvo dos olhares também se seguiu. Porém, quando engravida pela quarta vez, algo diferente acontece: nasce uma criança feia, a qual ela da o nome de Beleza. Com seus destinos marcados por violência os anos vão passar, e até mesmo a última a nascer, indesejada e diferente, terá uma história não feliz para contar.


Minha Opinião

A beleza é uma ferida é um livro que conquista logo de cara pela capa e pelo nome. A sinopse acrescenta mais ainda a despertar o desejo de leitura e foi assim que eu fui fisgada. O livro apresenta uma trama de realismo mágico pelo autor indonésio Eka Kurniawan, o primeiro de sua nacionalidade a concorrer ao Man Booker International Prize. E foi exatamente de sua cultura, através de contos e o folclore que ele se inspirou para compor sua obra. Posso dizer que foi um primeiro contato estranho e surpreendente.

No mundo de Kurniawan, a ânsia de vingança é interminável, desde a época dos colonizadores holandeses até os anos que precedem a ditadura. Os conflitos internos e políticos da Indonésia são temas que ele retratada vividamente seu impacto na vida de pessoas comuns. O abuso de mulheres e meninas é apresentado como a consequência inevitável desses conflitos.

“Tudo começou com um ruído vindo de uma velha sepultura, de lápide sem inscrição e coberta de mata até a altura dos joelhos, mas todo mundo sabia que era o túmulo de Dewi Ayu. Ela morrera aos 52 anos, ressurgiu depois de morta durante 21 anos, e a partir de então ninguém mais soube como calcular exatamente sua idade.”

Em a beleza é uma ferida não iremos só acompanhar a história de Dewi Ayu e de suas filhas, mas também dos maridos e dos filhos delas. Uma das coisas que deixaram a leitura cansativa em alguns momentos foi a criação exagerada de personagens, e o fato de sempre voltarmos no passado para conhecer cada um deles. A história da protagonista acaba ficando em segundo plano, ofuscada.

Incomodou-me também a repetição das cenas de estupro e de violência. O autor usa e abusa das expressões mais pesadas. E sua maneira de escrever deixa a história ainda mais densa. Não sei se essa era a real intenção dele, mas me parece pecar pelo o excesso de detalhes e repetições. Não é um livro fácil pelo teor da trama e pelo que acontece em seu desenvolvimento. É uma obra exótica, inquietante e crua.

“Existem dois tipos de mulher que um homem pode amar: o primeiro tipo, ele ama para cuidar e proteger, e o segundo, para foder.”

Há muitas coisas que ficam implícitas nessa trama, através da capa e da sinopse, mas o que eu encontrei aqui foi além em termos de carga dramática. Apesar de não ser o que eu esperava, foi incrivelmente interessante e diferente encarar essa leitura. Se você gosta de livros desafiadores, fica aqui a dica de um que certamente tem isso a oferecer.

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A BELEZA É UMA FERIDA

Autor: Eka Kurniawan

Editora: José Olympio

Ano de publicação: 2017

Um romance inconfundível de Kurniawan, combinando folclore, sátira e a formação da Indonésia. A vida da prostituta mais procurada da fictícia Halimunda, Dewi Ayu, e das quatro filhas é marcada por estupros, incestos, assassinatos e fantasmas – muitas vezes vingativos. Astuta, destemida e engenhosa, Dewi levanta-se do túmulo após 21 anos para contar a própria história e desvendar alguns mistérios. Mas talvez a principal razão para o forte desejo de voltar à vida seja visitar sua quarta filha, a quem ela deu à luz antes de morrer. Seu nome é Beleza, mas foi abençoada com a feiura que Dewi tanto desejou para afastar a família da maldição da beleza. Ao contar essa história, Eka Kurniawan, o aclamado escritor indonésio, faz uma crítica mordaz ao passado conturbado da sua jovem nação: a ganância do colonialismo; a luta caótica para a independência; a ocupação japonesa; o assassinato de um milhão de “comunistas” em 1965, seguido por três décadas de governo despótico de Suharto. Combinando folclore, sátira e a formação da Indonésia, a voz inconfundível de Kurniawan – inspirada em Melville e Gogol – traz originalidade e relevância para a literatura contemporânea e oferece aos leitores o prazer na linguagem exuberante usada para descrever uma carnificina; defendendo simultaneamente a força necessária para sobreviver.

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