A Canção do Sangue é o primeiro livro da trilogia A Sombra do Corvo de Anthony Ryan. A publicação é de 2016 pela editora Leya.

Sobre o Livro

Vaelin Al Sorna foi entregue à Sexta Ordem pelo pai quando era apenas um garoto de 10 anos. Sem entender o porquê e sabendo que segundo as novas regras de sua vida, sua família antiga deveria ser esquecida, ele terá de enfrentar uma jornada de violência e celibato.

Com um treinamento árduo e cruel, o menino se moldará em um homem e este em um líder entre os irmãos. Porém, enquanto lida com seus conflitos de entender porque seu destino é aquele e o peso da fé, também será confrontado com outros perigos que rondam esse mundo.

“A vida na Ordem é dura e, não raro, curta.”

A escolha do pai pode não ter sido assim tão egoísta, a Ordem a que segue pode ter alguns segredos e o rei que governa essa lugar pode não ser a pessoa que muitos acham que ele é. Envolto em uma trama política, de mentiras e troca de favores, Vaelin terá de trilhar seu próprio caminho, saindo da sombra do nome de seu pai, o antigo Senhor da Guerra do Rei Janus.


Minha Opinião

Quando comecei a leitura desse livro foi sem nenhuma pretensão. Eu não sabia nada sobre a história e nem esperava encontrar aqui algo grandioso, mas logo na primeira metade do livro descobri que seria surpreendida. A Canção do Sangue é o primeiro livro da trilogia A Sombra do Corvo de Anthony Ryan e eu nunca tinha visto ninguém falando sobre esses livros por aqui, além do pouco proveniente da editora.

Eis que encontrei uma história adulta, cheia de desdobramentos e com muito a ser explorado. A trama começa expondo o nosso “herói” já mais velho e nos mostrando como ele está no presente. Depois, voltamos ao passado para começar sua jornada e entender como aquela criança de 10 anos abandonada pelo pai vai chegar ao homem que conhecemos no capítulo inicial. Porém, esse trechos vão se intercalando e não temos uma revelação somente no final, mas em fragmentos ao longo de todo o livro.

Vários autores já usaram esse recurso, como Patrick Rotfuss e Ursula Le Guin, mas achei o formato de Ryan bem interessante e instigante, pois mescla a curiosidade de descobrir como chegar até aquele momento, com a de entender para onde o presente está indo. Outra referência que encontrei aqui foi com relação A Saga do Assassino da Robin Hobb e publicada pela mesma editora. A estrutura da história é muito parecida, mas aqui a obra é mais adulta e tem cenas bem mais fortes e violentas do que as encontradas na outra trilogia.

Eu já li uma quantidade significativa de livros onde um garoto ou garota vai parar em uma escola – seja ela mágica ou não – para treinar e se tornar o melhor que tem a oferecer. Então, toda vez que um livro começa dessa forma meu primeiro pensamento é de torcida para que o autor consiga apresentar esse cenário de forma menos clichê, inserindo algum diferencial na construção para que o leitor possa aproveitar a história sem tanta referência.

O diferencial aqui está na dureza e na crueldade dos ensinamentos. Cada etapa para se formar na Ordem é acompanhada de um desafio que normalmente envolve vida ou morte. E ninguém aqui facilita. Se você sair pro teste e não voltar mais, porque morreu, seu corpo é recuperado, e vida que segue. Só os fortes são mantidos e, por mais que haja uma certa relutância por parte dos garotos, também há um entendimento que para o que eles são treinados não há espaço para fraqueza.

Dentro de tal cenário temos boas cenas de coisas acontecendo e momentos de bastante tensão quando não sabemos ao certo o que está acontecendo com certos personagens. Nesse meio tempo várias coisas fora dessa linha começam a acontecer e não perdemos muito tempo no crescimento em si de Vaelin, é algo que acontece naturalmente e nas 600 páginas do livro, vários anos se passam até que ele seja um homem feito e responsável por suas decisões.

Há um enorme mistério em volta de Vaelin, pois ele tem muitas dúvidas sobre o porque de seu pai tê-lo entregue à ordem ou de coisas que vão acontecendo depois que ele já está em treinamento. Há bem mais nas sombras dessa situação, assim como há bem mais sobre as Ordens que compõe essa estrutura. Cada uma delas é responsável por um aspecto, sendo a sexta a dos guerreiros. Há muito tempo atrás existia também uma Sétima Ordem que acabou saindo do controle e sendo extinta, mas que pode não estar completamente morta quanto todos esperavam.

Isso, juntamente com o conflito político que o reino passa abre um leque enorme de possibilidades para serem trabalhadas aqui. E as questões que envolvem o rei, a relação dele com o pai de Vaelin e seus atuais aliados também é vasta. Além disso, algo muito interessante aqui, é que a fé, composta por todas essas Ordens, age de forma independente ao monarca, tendo autonomia para fazer suas próprias coisas e julgar seus crimes, não ficando veiculada aos desejos do Rei.

“Para outros ele era o Senhor da Batalha, Primeira Espada do Reino, o herói de Beltrian, salvador do Rei e pai de um filho famoso. Para Vaelin, seria sempre um homem receoso que abandonara o filho no portão da Casa da Sexta Ordem.”

Além de Al Sorna, que é muito determinado, apesar de remoer muito suas relações, temos uma penca de personagens, incluindo os colegas do garoto dentro da Ordem, como Dentos, Barkus, Nartah e Caenis. Uma personagem que achei interessante e que esperei que fosse relevante foi a Irmã Sherin, da Ordem das curandeiras. Algo que vale mencionar de positivo sobre o personagem é que ele não é bom em tudo, como costuma acontecer em casos assim. Ele tem suas peculiaridades, mas pode ser superado em vários aspectos. Com isso ele afia também sua inteligência, para ter vantagem sobre quem se fia apenas no dom.

Porém nem tudo são flores e ele toma algumas atitudes e decisões durante o livro que considerei bem questionáveis. Há um juramento específico que causa alguns problemas e que não necessariamente precisava ser cumprido, mas por ser uma questão de “palavra” é levado a diante. E esse juramento foi feito em uma situação bastante duvidosa que esperava provar algo sobre a personalidade do personagem, e não sei se acabou surtindo o efeito esperado, já que pra mim ao invés de ele provar honra, acabou soando como estupidez.

Há também um interessante debate sobre a fé e o peso que ela tem sobre as pessoas. Você consegue participar de algo em que não acredita fielmente? É possível se entregar de corpo e alma a uma fá sem Deus? Porque sim, aqui a fé não possui um Deus a ser adorado e também achei isso muito legal e diferente.

“Aqueles que não viveram não podem meditar acerca dos mistérios da vida.”

Outro ponto interessante é o nome do livro e o que significa a tal Canção do Sangue. Aqui, de uma forma diferente, mas em certo ponto também parecida, a história põe outro pé junto com a Saga do Assassino. E, por mais que isso pudesse me incomodar, não o fez. A diferença maior aqui está no peso das duas obras. Enquanto a de Hobb é mais juvenil por ter um personagem jovem em 98% de sua história, mesmo que passando por poucas e boas, a trama de Ryan começa com um personagem novo, mas logo já o põe em crescimento e, desde o começo, dá um tom mais adulto e violento à narrativa. Sendo assim, apesar das similaridades são obras que se distanciam bastante também.

Quando terminei esse livro e absorvi todos as revelações e todo o peso da obra, que é sim um pouco longa, mas que vale a quantidade de páginas, estava ansiosíssima pra saber onde isso tudo vai dar. E esse é o melhor tipo de livro né? Quando começamos sem expectativa e, sem esperar, estamos mergulhados e tão envoltos na história que é impossível largar. A leitura pode ser um pouco lenta no começo, como todo livro de fantasia nesse estilo, mas depois anda bem e o leitor se torna ávido por descobrir todos os mistérios.

Pra quem gosta de fantasia e quer uma obra mais adulta e bem construída, deixo aqui a recomendação. A trilogia já está toda publicada no Brasil e esse primeiro volume sofreu uma alteração de capa em 2016, o que favoreceu bastante, já que a antiga era muito genérica. Agora, quero por os outros dois livros na fila de leitura e descobrir o que acontece em O Senhor da Torre e A Rainha do Fogo.

A CANÇÃO DO SANGUE

Autor: Anthony Ryan

Editora: Leya

Ano de publicação: 2016

Quando Vaelin Al Sorna, um garoto de apenas 10 anos de idade, é deixado por seu pai na Casa da Sexta Ordem, ele é informado que “sua única família agora é a Ordem”. Durante vários anos ele é treinado de forma brutal e austera, além de ser condicionado a uma vida perigosa e celibatária. Mesmo assim, Vaelin resiste e torna-se líder entre seus Irmãos. Ao longo de sua jornada, Vaelin também descobrirá de quem foi o verdadeiro desejo para que ele fosse entregue à Ordem – o objetivo sempre foi protegê-lo, mas ele não tem ideia do quê. Aos poucos, indícios de uma esquecida Sétima Ordem e questões acerca das ações do Rei Janus fazem Vaelin Al Sorna questionar sua lealdade. Destinado a um futuro grandioso, ele ainda tem que compreender em quem confiar. Neste primeiro volume da trilogia A Sombra do Corvo, Anthony Ryan estreia de maneira promissora na literatura com uma aventura repleta de ação.

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