Carbono Alterado é o livro de estreia do autor Richard Morgan. É um lançamento de 2017 pela editora Bertrand Brasil.

SOBRE O LIVRO

Takeshi Kovacs acorda em uma clínica, em um planeta totalmente desconhecido. Ele descobre que está na Terra, 148 anos-luz longe de sua casa, o Mundo de Harlan. Sua última lembrança foi ter levado um tiro no peito e “morrer”, pelo menos em teoria. No século XXV, a galáxia já havia sido colonizada vencida. Todo mundo, ao morrer, tinha a mente armazenada em um chip e, posteriormente, implantada em um novo corpo. Foi assim que ele veio parar em Bay City, antiga São Francisco.

“As mulheres são a raça humana, Tak. Não há dúvidas quanto a isso. Os homens são só uma mutação com mais músculos e metade dos nervos. Máquinas de lutar e foder.”

Ele fora contatado por um magnata chamado Laurens Bancroft, que acredita ter sido assassinado dentro de casa. Apesar de a conclusão da polícia ter sido homicídio, Laurens está convencido que não se matou, e caso tivesse tentando fazer isso, teria garantido sua morte permanente. A missão de Kovacs é, então, investigar o crime e encontrar o responsável, e levá-lo a justiça. Como recompensa, receberia um bom pagamento e retorno para casa.

Porém, conforme Kovacs conduz sua investigação, ele começa a descobrir o lado podre da sociedade terrestre que vê a troca de corpos como uma forma de fazer negócios, além também de despertar a intenção de outras pessoas de poder político influente que farão de tudo para impedir a investigação, inclusive, tentar causar a morte permanente de Kovacs. Nessa rede intrincada de conspiração, ninguém pode ser confiável, nem mesmo seu próprio empregador.

MINHA OPINIÃO

Uma coisa que me fascina muito em histórias de ficção científica é a criatividade com o que o futuro é imaginado. Carros voadores, robôs, colônias espaciais, ciborgues, entre outros. Coisas essas que talvez um dia sejam verdade. Agora, imaginar uma sociedade onde é possível viver “eternamente”, é sem dúvida muito interessante e até certo ponto, perturbador.

Carbono Alterado se passa no século XXV onde “não morrer” é possível. Apesar da ideia de baixar a mente de um corpo para outro não ser nova, a forma como Richard Morgan a abordou em seu livro foi bem convincente. Além de todas as implicações políticas que isso causou, houve também uma mudança radical no âmbito religioso.

“Você é um cara de sorte, Kovacs. Claro, a 148 anos-luz de casa, vestindo o corpo de outro homem num acordo de aluguel de seis semanas. Fretado até ali para fazer um serviço que a polícia local não queria tocar nem com um cassetete. Qualquer fracasso me botaria de volta no armazenamento. Eu me senti tão sortudo que quase comecei a cantar ao sair pela porta.”

A única religião citada no livro é o catolicismo. Acredito eu que tenha sido a única que sobreviveu à evolução tecnológica, já que, a ideia de poder mudar de corpo por meio de um download destruía o conceito de alma. Entretanto, o Vaticano é citado como um forte empecilho, mesmo no futuro, já que por lei da Igreja, uma pessoa que fora católica, ao morrer, não pode ter sua mente baixada para outro corpo. Para os católicos fervorosos, ditos como minoria, esse procedimento era uma afronta à Criação Divina e que devia ser combatido. Porém, em um mundo em que até a mente humana se torna moeda de troca, ficou difícil competir.

O universo criado para a trama é rico e detalhado, sendo que às vezes se torna até confuso, diante de tantos termos, tecnologias e aparatos novos. Porém, ao longo da narrativa as explicações vão sendo entregues e em pouco tempo, já estava me sentindo imerso nele. Trata-se de uma época onde a Terra é só mais um dos vários planetas colonizados pela galáxia. A comunicação é feita à velocidade da luz, e existe de tudo um pouco, desde carros voadores, androides e filmes holográficos, a boates e bares totalmente imersos em realidade virtual. Não há como negar que o mundo de Carbono Alterado é incrível. Entretanto, o mesmo não se pode dizer da sociedade, que aparentemente, estava tendo uma qualidade de vida cada vez pior.

“Os ricos fazem essas coisas. Eles tem o poder e não veem motivo para não usá-lo. Homens e mulheres são só mercadorias, como tudo mais. Armazene-os, frete-os, decante-os.”

Takeshi Kovacs não nasceu na Terra, mas em sua visão, não poderia ter estado em lugar pior. Oriundo do Mundo de Harlan, em algum lugar longínquo da galáxia, ele era um emissário da ONU, um tipo de patrulha policial especial. Após uma carreira bem sucedida e algumas lembranças ruins, ele se deixou levar ao mundo do tráfico. Cometia pequenos delitos e estava sempre fugindo, até que um dia foi pego. Quando volta a vida novamente, estava em um novo corpo e preso em um contrato abusivo. Sua missão, enquanto na Terra, era de investigar e esclarecer o suposto assassinato de um influente empresário. Se tentasse fugir ou não cumprisse sua parte no contrato, sua mente poderia ser apagada, o que significaria morte verdadeira. Uma tarefa não tão simples quanto ele imaginava, já que estava pra descobrir uma intrincada rede de conspiração.

Apesar de o personagem ser bem construído e conduzir a narrativa por um labirinto de conspirações, disputa política e desejos físicos, não consegui criar muita empatia com ele. Ele é, em sua maior parte, frio e calculista demais; em outras, o piadista, ainda que suas piadas sejam em momentos errados. Mas o aspecto que mais me incomodou é que, de uma hora para outra, o personagem encontra todas as respostas e sai resolvendo os problemas. Me senti perdido em vários momentos. Em algumas, até tive de reler a página para ver se havia deixado algo passar.

Também achei desnecessário as frequentes cenas de uso de drogas e de sexo, que na prática não agregaram nenhum detalhe importante. Entendo que em livros cyberpunk essas características são mais evidentes, mas não havia razão de a narrativa ser interrompida constantemente para mostrar os momentos de “prazer” do personagem. Se fosse uma ou duas vezes, tudo bem, mas são várias vezes. Às vezes parecia um livro erótico, dada as descrições detalhistas das cenas.

“A vida humana não tem valor. Você ainda não aprendeu isso, Takeshi, depois de tudo que já viu? Ela não tem valor intrínseco nenhum. Maquinas custam dinheiro para construir. Matérias-primas custam dinheiro para extrair. Mas gente? -Ela fez um barulhinho de cuspe.- Sempre dá pra arranjar mais gente. Pessoas se reproduzem como células cancerosas,quer você as queira ou não. São abundantes, Takeshi. Por que deveriam ser valiosas?”

Mesmo tendo esses pequenos problemas, as questões políticas envolvidas também são bem interessantes e ajudam a manter as constantes aventuras de Kovacs suportáveis.

Eu estava bem empolgado para ler esse livro, já que a Netflix está produzindo um seriado baseado nele. Ainda não foi divulgada a data de estreia ou mesmo um trailer, mas espero que seja uma boa adaptação. Apesar da minha frustração com o personagem, a trama é agradável e a representação visual dela na tela poderá, talvez, compensar o distanciamento que tive com o protagonista. Para quem gosta de thrillers policiais futuristas, Carbono Alterado pode ser uma boa escolha.

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CARBONO ALTERADO

Autor: Richard Morgan

Editora: Bertrand

Ano de publicação: 2017

No século XXV, a consciência de uma pessoa pode ser armazenada em um cartucho na base do cérebro e baixada para um novo corpo quando o atual parar de funcionar. A morte, agora, nada mais é que um contratempo inconveniente, uma falha no programa. Takeshi Kovacs, um ex-militar de elite, após sua última morte, tem a consciência transportada a Bay City, a antiga São Francisco, e é trazido de volta à vida para solucionar o assassinato de um magnata. Isso só para descobrir que seu contratante é a própria vítima, que voltou à vida em um novo corpo, mas sem as memórias do crime. Porém, Kovacs não sabe que essa investigação irá lançá-lo no centro de uma conspiração perversa até para os padrões de uma sociedade que trata a existência humana como um produto a ser comercializado.

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