O Brasil foi, assim como muitos países, vítima de guerras, ditaduras e regimes autoritários… Em 1853 o Rio Grande foi o protagonista da Guerra dos Farrapos, uma revolução republicana que durou dez anos, tendo como líder o General Bento Gonçalves da Silva. O livro A Casa das Sete Mulheres de Leticia Wierzchowski ocorre durante esse período histórico e revela grandes emoções. A obra foi relançada em uma nova edição pela Bertrand Brasil em 2017.

SOBRE O LIVRO

O General Bento Gonçalves decide enviar as mulheres de sua família para viverem em um local afastado da guerra, na Estância da Barra, interior da província, enquanto os homens lutam contra o império pela causa dos latifundiários.

Vivendo em meio aos pampas, as sete mulheres tinham somente a companhia de crianças, escravos e peões enquanto esperavam por notícias de seus familiares sem que pudessem fazer algo para protege-los ou mudar o rumo de suas empreitadas. A espera e esperança dessas mulheres para ter sua liberdade e a volta da vida normal, além de esquecer tudo o que o conflito causou. No entanto, é claro que mesmo afastadas de tudo, a guerra traria consequências em suas vidas, alterando suas personalidades e destinos.

“Cantava sem pressa, porque a aurora tarda a clarear, e não alçava a voz. (…)”

Uma das mulheres da família era Manuela, uma jovem sonhadora e cheia de carisma que teve a vida transformada pelo conflito, assim como as demais mulheres de sua família. Mas ela, somente ela, teve uma visão do futuro pouco antes de a guerra estourar, e junto com a premonição de todo aquele horror e morte, descobriu que algo a aguardava, a chegada de um amor independente, jovem e cheio de surpresas. Seu nome, era Giuseppe Garibaldi.


MINHA OPINIÃO

Durante toda a narrativa acompanhamos a história da angústia das mulheres em uma espera que parece interminável, enquanto a solidão as acompanha.  Carregado de sentimentos e emoções, a história envolve facilmente o leitor, não somente criando entre ele e os personagens uma afinidade, mas fazendo com que ele se torne parte da história, onde todo o cenário e contexto é tão bem descrito e desenvolvido que faz com que seja fácil nos imaginarmos vivendo a vida daquelas mulheres.

A escrita da autora é bastante fluida e apesar de rica em termos “sofisticados”, é de fácil compreensão. É claro que como todos os romances, muitas tramas de amores proibidos, o drama é o ponto forte, com fugas, conflitos e, é claro, acontecimentos improváveis e surpreendentes. Um bom romance, entrelaçado a uma guerra histórica, sem perder o foco, mas sempre englobando os principais aspectos entre a realidade e a história criada.

Um ponto que, no entanto, pode incomodar a alguns leitores, é que vários termos “racistas” serem empregados ao longo de toda a narrativa, apesar de serem bem comuns àquela época, e o fato de eles serem utilizados para trazer certa “veracidade” quanto as personalidades, diferenças sociais e hierarquia. Eles são corriqueiramente empregadas, o que causa certa repulsa em alguns momentos.

A narrativa é alternada em diferentes tempos e versões, como visões de personagens a cada capítulo, além do uso dos trechos escritos nos cadernos da personagem Manuela, que dia após dia narrava os acontecimentos, sentimentos e esperanças que a acometiam. Isso colabora para que a história seja contada com todo o tempo necessário, mas sem se estender demais, usando-se destes trechos como complemento a fatos que não foram especificamente narrados.

“Viveram seu destino como em um sonho, sem saber quem eram ou o que eram. O mesmo acontece, talvez, conosco.”

Outro ponto, é que o fato de termos estes fatos narrados pela visão dos personagens é que podemos acompanhar como tudo se torna pesaroso e difícil para elas, as perdas, as mortes e a esperança que aos poucos fica mais escassa.

Por fim, é preciso dizer que a autora gaúcha representa de forma extraordinária a literatura brasileira, expondo não somente os pontos históricos que temos em nosso país, mas nos levando por uma viagem onde não precisamos ir muito longe para estarmos presentes.


Confira a adaptação!

A obra escrita por  Leticia Wierzchowski foi transformada em uma mini-série de cinquenta e um capítulos pela emissora de TV Rede Globo e foi transmitida no ano de 2003. Ficou cerca de três meses no ar e atualmente é possível encontrar em DVD com a mini-série completa, lançado pela emissora.

Alguns dos atores que compuseram o elenco são: Mariana Ximenes, Giovanna Antonelli, Thiago Lacerda, Daniela Escobar Thiago Fragoso, além de outros grandes nomes da televisão brasileira.

A minha recomendação é que leiam a obra antes de assistirem a mini-série, que apesar de bem fiel, não é tão completa devido ao tempo de duração e, é claro, se tratar de uma adaptação. Mas acima de tudo, é uma ótima pedida para aqueles que se sintam entusiasmados com a história, mas ainda não estejam a vontade para ler o livro.

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A CASA DAS SETE MULHERES

Autor: Leticia Wierzchowski

Editora: Bertrand Brasil

Ano de publicação: 2017

Durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) — uma luta dos latifundiários rio-grandenses contra o Império brasileiro —, o líder do movimento, general Bento Gonçalves da Silva, isolou as mulheres de sua família em uma estância afastada das áreas em conflito, com o propósito de protegê-las. A guerra que se esperava curta começou a se prolongar. E a vida daquelas sete mulheres confinadas na solidão do pampa começou a se transformar. O que não está nos livros de história sobre a mais longa guerra civil do continente está neste livro de Leticia Wierzchowski, um exercício totalizador sobre a violência da guerra e sua influência maléfica sobre o destino de homens e de mulheres.

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