Céu Sem Estrelas é um lançamento de 2018 da autora nacional Iris Figueiredo. Foi publicado pela editora Seguinte, selo jovem do Grupo Editorial Companhia das Letras.

SOBRE O LIVRO

Cecília está prestes a fazer 18 anos, está prestes a começar a graduação em Desenho Industrial, é apaixonada por livros e por desenho e tem duas grandes amigas a apoiando em seus novos passos. Bernardo está no segundo ano da faculdade de engenharia, tem uma irmã e pais amorosos e que sempre deram a ele tudo do melhor e vive em festas e bares com os amigos. Tudo parece estar caminhando de acordo com os planos para os dois.

“Havia duas versões de mim mesma. A que estava sentada em uma mesa de bar, com um sorriso artificial no rosto, e que todo mundo via. Mas a Cecília real estava escondida, enrolada em posição fetal, afogada em autocomiseração”.

Porém, um olhar mais atento, revela uma Cecília presa entre uma relação complicada com a mãe e o padrasto, uma paixão platônica por Bernardo, que é o irmão mais velho de sua melhor amiga, e uma constante inadequação por conta do seu corpo fora dos padrões, além de um certo desinteresse pelo curso que escolheu, já que o que realmente quer é desenhar livremente e ilustrar livros. Enquanto isso, Bernardo também demonstra ter suas próprias questões para lidar, pois fica claro que sua vida não está indo tão bem quanto pode parecer.


MINHA OPINIÃO

Antes de entrarmos na minha opinião propriamente dita, acho importante mencionar que Cecília sofre de um determinado distúrbio mental, algo que vai ficando claro ao longo da narrativa, por meio de uma série de pensamentos e atitudes. Por conta disso, é importante o leitor estar preparado para presenciar, entre outras coisas, pensamentos suicidas e práticas de cutting (automutilação).

Se o leitor está preparado para ler sobre um tema delicado como esse, essa história pode ser uma das coisas mais poderosas, transformadoras e intensas que você vai ler no Jovem Adulto Contemporâneo. Isso porque Iris Figueiredo trabalha o tema com muita maturidade e responsabilidade, mostrando-nos, aos poucos, como a saúde mental de Cecília vai sendo mais em mais prejudicada, em parte por conta de seu distúrbio, em parte por conta de situações bem difíceis que acontecem à personagem, até chegar em um nível bastante perigoso.

“Não existe um céu sem estrelas, Cecília. Mesmo quando estão cobertas pelas nuvens, ainda estão lá. A gente só não consegue enxergar”.

O romance é também um aspecto importante dessa história, e nesse ponto poderíamos dizer que ele é um clichê: a garota que sempre teve uma quedinha pelo irmão da melhor amiga e o garoto que de repente não a vê mais apenas como a amiga da irmã e sim como uma mulher interessante. No entanto, isso é o que eu consideraria um clichê bem aproveitado.

Pois, além de torcermos pelo casal, os dois são mais do que apenas o par romântico um do outro, e o arco narrativo de ambos tem poder próprio, para além apenas do romance. E, o mais importante: fica claro que, por mais lindo que seja o romance, ele não anula os problemas nos outros campos da sua vida e, principalmente, que ele ajuda muito, mas não vai ser suficiente sozinho para Cecília lidar melhor com seu distúrbio e sua saúde mental.

Além disso, a própria representatividade de Cecília, assim como de outros personagens secundários, vai além de qualquer clichê e estereótipo. Pois Iris Figueiredo faz a escolha de mostrar que uma personagem lésbica ou uma personagem cadeirante, por exemplo, não precisam ser reduzidas a apenas uma de suas características; é possível representarmos todas as nossas individualidades sem que isso nos reduza a ser apenas uma coisa. A própria Cecília, que é muito marcada pela forma como seu corpo gordo é percebido socialmente, não é em momento algum limitada ou reduzida a isso; essa é apenas sua realidade.

“E, sempre que vejo um fusca azul, lembro que dentro dele cabem pessoas o suficiente para me estender a mão se um dia eu precisar. Isso é força”.

Graças a isso, e a uma escrita fluida e envolvente, o leitor sente, desde o início, que esses personagens são tão reais quanto ele mesmo. Sentimos vontade de abraçar Cecília, dar umas sacudidas em Bernardo e ser melhores amigas de Rachel, Iasmin e Stephanie. Nos apaixonamos por esses personagens e, como não poderia deixar de acontecer, sorrimos e sofremos com eles, como se eles fossem mesmo parte do nosso grupo de amigos.

Com uma capa e quarta capa que se completam lindamente, formando uma vista muito conhecida por quem circula pela cidade de Niterói (Rio de Janeiro), onde boa parte da história acontece, e uma diagramação confortável, a experiência de leitura é extremamente confortável. Ainda que seja possível que o leitor precise de algumas pausas para respirar fundo e pensar sobre o que tem diante de si, é um livro de leitura rápida e envolvente.

Eu poderia recomendá-lo para quem se interessa por um livro responsável e inteligente sobre saúde mental, ou ainda para quem gosta de um bom Jovem Adulto Contemporâneo, mas a verdade é que todos os leitores se beneficiariam, e muito, da leitura dessa obra incrível.

CÉU SEM ESTRELAS

Autor: Iris Figueiredo

Editora: Editora Seguinte

Ano de publicação: 2018

Cecília acabou de completar dezoito anos, mas sua vida está longe de entrar nos trilhos. Depois de perder seu primeiro emprego e de ter uma briga terrível com a mãe, a garota decide IR passar uns tempos na casa da melhor amiga, Iasmin. Lá, se aproxima de Bernardo, o irmão mais velho de Iasmin, e logo os dois começam um relacionamento. Apesar de estar encantado por Cecília, Bernardo esconde seus próprios traumas e ressentimentos, e terá de descobrir se finalmente está pronto para se comprometer. Cecília, por sua vez, precisará lidar com uma série de inseguranças em relação ao corpo — e com a instabilidade de sua própria mente. “Uma história brilhante sobre encontrar a sua força mesmo quando não há esperanças. Iris escreve com uma sensibilidade incrível e dá voz aos jovens que vivem a busca constante pelo seu lugar no mundo.” – Vitor Martins, autor de Quinze dias

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