Cidade da Meia-Noite é livro que dá início a Saga da Terra Conquistada, escrita por J. Barton Mitchell e lançado aqui no Brasil em 2015 pela editora Jangada.

SOBRE O LIVRO

Quando uma força alienígena chegou no planeta Terra, quase todos os humanos foram extintos. O sinal telepático emitido pelas naves faziam com que as pessoas entrassem em um estado de transe contínuo e caminhassem lentamente até os locais de pouso. Porém, as crianças, adolescentes e alguns adultos não foram afetados pelo sinal. Assim, os poucos os sobreviventes começaram a reconstruir o que sobrou do planeta, se organizando em tribos, gangues e pequenas vilas.

Dez anos após a invasão, conhecemos Holt Hawkings e seu cão Max, que estão fugindo desesperadamente de uma gangue conhecida como o Bando. Eles são terrivelmente mortais e o estão caçando para um acerto de contas. A única esperança de Holt é encontrar e capturar uma bucaneira chamada Mira Toombs. Mira está fugindo da Cidade da Meia-Noite, e a recompensa por sua cabeça pode lhe garantir o pagamento de todas as suas dívidas com o Bando.

“Os artefatos eram as coisas mais próximas que o mundo tinha da magia. Por muito tempo, Mira pensava que eles eram a chave para tudo, objetos de possibilidade ilimitadas. Talvez servissem para bloquear a Estática, talvez até para expulsar os Confederados.”

Após um bom tempo vagando pelo deserto e pelas ruínas das antigas cidades, Holt consegue capturar Mira. Agora, ele está levando-a presa para o local mais próximo onde poderá vendê-la e assim conseguir salvar a sua própria pele. Porém, em dado momento, no meio da floresta, ele, Mira e Max vão presenciar um evento muito estranho: a queda de uma nave alienígena. Nos destroços dessa nave, além de encontrarem os corpos robóticos dos invasores, encontram também uma garotinha humana, e ela está viva. Quando a garotinha acorda, ela diz não saber quem é e nem porque foi capturada pelos alienígenas. Sua única lembrança é a do próprio nome: Zoey. Diante disso, Holt terá uma difícil decisão a fazer: abandonar a garotinha à própria sorte na floresta e garantir sua recompensa por ter capturado Mira, ou se juntar a elas, fugir dos alienígenas e descobrir quem Zoey é – e o que ela é – antes que sejam todos mortos.


MINHA OPINIÃO

Sensacional é a palavra mais adequada para começar a descrever este livro. Quando o conheci, demorei um pouco para criar confiança, afinal, era um autor desconhecido e não haviam muitas informações na internet que pudessem lançar luz sobre o que eu iria encontrar. E de certa forma isso foi muito positivo, pois acabei a leitura maravilhado com a criatividade e emoção que permeia cada página.

É comum em livros com temática alienígena termos a raça humana lutando (quase sempre) desesperadamente para não ser extinta, ou então a trama sendo focada na organização de um contra-ataque. Aqui, porém, o foco da narrativa é em como os sobreviventes estão se virando nas ruínas do mundo antigo, já que perceberam há muito tempo que gastar energia em uma guerra não seria a melhor ideia para evitar a extinção. Claro que há entre os sobreviventes aqueles que ainda desejam expulsar os invasores, mas a grande maioria aceitou a situação e passou a coexistir, procurando se adaptar da melhor forma possível.

“Era engraçado como a vida lançava coisas sobre você. Podia ser injusto. Ela te dava coisas que você queria, coisas que te faziam feliz, coisas que você precisava… mas nunca pareciam vir na hora certa, não é?”

O world buinding foi para mim um dos pontos mais atrativos. Após a chegada dos Confederados, como são conhecidos os aliens, além de quase toda a raça humana ser extinta, o que sobrou se tornou ainda mais caótico. Quase todas as paisagens se tornaram desérticas, e objetos do dia a dia adquiriram uma espécie de poder, como por exemplo, um relógio pode ser usado para congelar ou acelerar o tempo ou mesmo uma moeda de bronze se tornar uma potente bateria. Porém, eles só são encontrados nas proximidades do que chamam de Terras Estranhas. Lá é como um buraco negro: ninguém sabe o que tem no centro, e o porquê os objetos possuem poderes ali.

Mas é notável que para os sobreviventes, os males gerados também trouxeram benefícios. Grupos de pessoas foram formadas, algumas pacíficas, outras, nem tão pacíficas assim, como as gangues e saqueadores. Surgiu uma nova forma de organizar a vida e algumas das novas cidades tem um sistema político e econômico tão interessante que a narrativa parece adentrar no gênero da distopia. Esses grupos aprenderam a criar formas de trocar mercadorias, a comercializar artefatos (os objetos com poderes), a encontrar soluções para coexistirem. Achei criativo e interessante essa recriação do mundo porque me deu liberdade para imaginar diversas teorias sobre tudo o que existe naquele ambiente, além de cada detalhe apresentado sustentar e justificar a trama de forma crível.

“Holt não se moveu quando ela o abraçou. Ela podia sentir o desconforto, a incerteza dele, mas não se importou. Não tinha ideia de quanta tensão e preocupação ele estava carregando até que elas se fossem.”

A narrativa é toda em terceira pessoa e protagonizada por quatro personagens: Holt Hawkins, Max, Mira Toombs e Zoey. Holt Hawkins é um personagem um tanto misterioso e audacioso. De início não sabemos praticamente nada dele, a não ser que uma gangue está tentando matá-lo e que ele está caçando uma garota conhecida como Mira. Mas Holt é daqueles personagens que vai surpreendendo aos poucos. Conforme a narrativa vai avançando, novos aspectos de sua realidade e personalidade vão aparecendo. Seu passado é repleto por mágoas, dores e lembranças ruins, mas é incrível vermos como ele se mantém emocionalmente forte em diversas ocasiões quando, na maioria das vezes, poderia desabar. Talvez por ele ser um Imune e estar sempre acompanhado de Max, o pastor alemão, seja uma das razões de tamanha força de vontade em lutar e de buscar uma vida melhor.

Mira Toombs, por outro lado, é completamente o oposto de Holt. Ela é uma Bucaneira, termo que designa alguém que coleta artefatos, e está fugindo de praticamente todo mundo. Ainda que seja uma garota esperta e boa de conversa para negociações, seu passado também é marcado por tristezas, mas principalmente, por escolhas erradas que fizera. A mais recente, por exemplo, colocou sua cabeça à prêmio. Mesmo assim, ela segue fazendo o que é necessário pra viver, nem que isso signifique machucar alguém. Mira só quer viver um dia após o outro, afinal, a cada dia que passa ela fica mais perto de sucumbir à estática. Ela não é Imune, e saber disso é uma das razões que a fazem se importar pouco com o futuro.

“Você não sabe como é – ela começou -, ter a estática em sua cabeça, ter isso crescendo em você e nublando tudo. Você não conhece o medo de ouvir as vozes… e de perceber que aos poucos elas começam a fazer sentido. Se conhecesse, talvez pudesse se motivar um pouco a encontrar uma solução em vez de simplesmente se esconder aqui na floresta como um covarde”

Engraçado que, apesar de ser um livro protagonizado por adolescentes e jovens, toda a história possui uma aura adulta, seja nos diálogos, no comportamento ou mesmo na forma como são apresentados. Não vemos personagem fazendo birra, ou se lamentando por coisas banais, geralmente típicos em livros Y.A. Pode ser que o instinto de sobrevivência pós-invasão seja um fator determinante para transformar as pessoas em adultas mais cedo, amadurecendo-as antes do tempo. Isso por si só me agradou muito, afinal, não tenho muita paciência com personagem que fica se fazendo de coitados ou se vitimizando, quando ao seu redor os demais também estão passando por problemas até maiores dos que os dele.

Outro aspecto que é preciso comentar é o romance. Sim, tem romance neste livro, mas J. Barton Mitchell fez exatamente aquilo que eu mais gostaria que todos os livros Y.A. fizessem: construir um clima verídico, que evolui com o tempo, não algo que cai do céu e tira o foco da história. Quando os personagens se conhecem, ambos se detestam. Mas conforme vão convivendo um com o outro, começam a criar laços mais profundos, compartilhar sentimentos, emoções, ver no outro a dor que há dentro de si mesmo, se identificando. Aos poucos, esses laços estão tão fortes que vai dando espaço para algo maior, mais envolvente. Eu shippei eles como nunca fiz antes, e ao final do livro já estava atônito sem saber se ia rolar ou não a atração mútua.

“Era estranho ouvi-la. Nada combinava, a maturidade e confiança, o leve toque de malícia, tudo exalando da pessoinha minúscula no sofá. Mas embora fosse certamente inquietante, não era uma surpresa. Num mundo em que a Estática tornava cada segundo importante, as pessoas amadureciam incrivelmente rápido.”

O que faz o livro fechar com chave de ouro é quando adentramos na chamada Cidade da Meia-Noite. É ali também onde a personagem Zoey, até esse momento quase invisível, terá seu maior destaque. Ela é uma garotinha de 5 anos e tudo sobre ela é um mistério, já que ela não sabe quem é e nem porque os Confederados a querem tanto. As duas únicas coisas que a personagem sabe é que possui um dom sobre-humano e que a Cidade da Meia Noite poderá sanar suas dúvidas. E então, quando a personagem obtém todas as respostas, fique muito surpreso. A revelação sobre o que ela é e o grau de importância que isso tem dentro da Saga mudou vários aspectos da trama e fiquei eufórico em dar continuidade à trilogia.

Foi uma aposta que deu muito certo. Eu não sabia nada sobre o autor ou sobre o livro, e acredito que toda essa “cegueira” só contribuiu para eu gostar de cada página que ele possui. Ainda que o primeiro livro seja bastante introdutório e que fiquem perguntas abertas, os personagens são fantásticos e o mundo apresentado é rico em detalhes. O autor conseguiu pegar um tema “clichê” e transformar em uma história surpreendente. Sem dúvida foi uma das melhores ficções científicas que já li, e vai permanecer por um longo tempo na lista dos mais recomendados.

CIDADE DA MEIA-NOITE

Autor: J. Barton Mitchel

Editora: Jangada

Ano de publicação: 2015

A Terra é conquistada por uma raça alienígena conhecida como os Confederados. A população adulta da Terra desaparece de vista, sucumbida pela Estática – um poderoso sinal telepático irradiado pelos alienígenas, que reduz as pessoas a um estado de total servidão. Mas existe um grupo imune aos seus efeitos: as crianças e os adolescentes. Enquanto isso, Holt Hawkins, um caçador de recompensas, tem como alvo Mira Toombs, uma astuta caçadora de tesouros com a cabeça a prêmio. Não demora muito para Holt capturar sua presa, mas a forte atração que surge entre os dois não é algo com que ele contasse. A queda de uma nave dos Confederados nas proximidades do lugar onde Holt e Mira estão acampados revela uma surpresa – a única sobrevivente é uma garotinha que não se lembra de mais nada a não ser do próprio nome: Zoey. Logo eles descobrem que todo o exército alienígena está à procura de Zoey. O que ela tem de tão especial? Será que os poderes dessa garota, por mais improvável que isso possa parecer, são a chave para deter os Confederados de uma vez por todas?

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