Contos: Volume 1 é o primeiro livro do autor H. P. Lovecraft lançado pela editora Martin Claret em 2017.

Sobre o livro

Dez dos melhores contos, do criador do monstro Cthulhu, estão reunidos nesse primeiro volume, que não economiza em luxo e bom gosto. Completamos, em 2017, oitenta anos desde que ele deixou o mundo dos vivos e foi para o mundo daqueles de quem sempre falou. Entre uma mistura de ficção com personagens reais, temos aqui, uma boa amostra do que esse homem tão singular era capaz. A tradutora fez, em acordo com os editores, algumas alterações em algumas palavras (que poderiam ser ofensivas para muitas pessoas, dada algumas ideologias do autor) e também uma mudança estrutural no último conto presente no livro que intitula-se “Herbert West – Reanimador”.

Aqui temos diversos contos que nos levam para outras dimensões e fazem com que confrontemos diversos monstros. Dentre eles, está um conto chamado “A fera na caverna” onde um pobre homem se perde do seu grupo durante uma exploração e tem seus maiores medos enfrentados ao se deparar com uma grande revelação, com uma narrativa onde o autor revela aos poucos aquilo que temos mais medo. Também teremos a história de uma rua, mas não é uma simples rua, é a “Rua”. Quase como se fosse um ser, que sobreviveu a gerações e permanece apenas observando tudo que acontece a sua volta. Sentiremos essa rua pulsar, quase como se fosse uma veia da cidade. Por vezes, também ficaremos confusos com os acontecimentos presente em “O perverso clérigo”, teremos um objeto misterioso e várias dúvidas. Dentre elas: o que ele fez? quem é ele?

“Há quem diga que as coisas e os lugares têm alma, e há quem diga que não; não me atrevo a dar meu próprio parecer a respeito, apenas falarei da Rua.”

Alguns contos são carregados de uma atmosfera de perversidade e terror. “Ar frio” fará você sentir medo da menor corrente de ar gelado que passar por você, em outros momentos você interpretará barulhos ao anoitecer como as legiões de pequenos caminhantes que permeiam “Os ratos nas paredes”. O que você faria ao entrar em uma casa aparentemente abandonada que possui um livro com uma gravura apavorante? É isso que você descobrirá em “A gravura da casa maldita”. E, se você sempre quis brincar de Deus com a natureza, encontrará na história de Herbert West muito mais do que você esperava. Diversos são os contos presentes aqui e cabe a você ter coragem de conhecê-los.


Minha opinião

Admiro Lovecraft há muito tempo. Nesse volume, encontrei contos desconhecidos. Alguns, gostei logo de cara e fiquei completamente absorta no que estava acontecendo, outros não prenderam tanto a minha atenção e acabei não gostando tanto. Os contos mais curtos, em sua maioria, foram os que menos me agradaram. Creio que nos contos mais extensos, o autor consegue descrever melhor, envolver o leitor e fazer com que ele sinta-se parte daquilo que está lendo. Que ele sinta, juntamente com os protagonistas, os efeitos de se aventurar sozinho em uma caverna, em adentrar em casas abandonadas ou até de bancar o Deus.

O livro está impecável. Lindo demais. O projeto gráfico foi extremamente ousado ao combinar cores alegres e vibrantes a histórias tão sombrias e, que geralmente remetem a algo mais escuro e sem vida. Essa combinação foi diferente de tudo que eu já vi por aí quando o assunto é Lovecraft. Gostei muito de como casaram as cores e a tipografia que usaram no miolo com uma cor pendendo para o roxo. Ele também conta com lindas ilustrações, principalmente na entrada de cada capítulo e que serve para remeter ao assunto que o conto apresentará. Além, é claro, de ser capa dura, edição de luxo. Esse é um daqueles livros que ficam em posição de destaque na estante.

“É um equívoco pensar que o horror está inextricavelmente associado com o escuro, o silêncio e a solidão.”

Já começamos completamente perdidos em suas histórias. Ele conduz a narrativa de uma forma única, que é marcante. Lovecraft já possui a sua marca, ele é capaz de transformar coisas banais no pior dos nossos pesadelos. A própria forma do autor se expressar, é algo que registramos como sendo algo que só ele faz. Ele é capaz de criar o pânico apenas com as palavras. Ele faz com que os personagens se dirijam diretamente ao leitor, quase como se fôssemos seus confidentes. É quase palpável a sensação de estarmos realmente frente a frente com essas figuras. Essas memórias e a intimidade empregada por eles torna tudo isso mais real.

Por muitas vezes, descobrimos a identidade do nosso interlocutor lá pelo final da narrativa. E em nenhum momento nos questionamos da veracidade dos fatos apresentados, pois essas pessoas sabem tantos detalhes, que são tão minuciosos e sórdidos, que duvidar é o último dos nossos pensamentos. Os narradores desses eventos, são quase saudosos compartilhando suas lembranças. O que ajuda a transportar o leitor para aquele momento. Outro ponto interessante de observar é a ausência de mulheres nos seus contos. Mesmo com duas tias ajudando na sua criação e tendo uma mãe que o vestia de mulher, Lovecraft, sempre foi muito conservador quando o assunto era o sexo oposto.

“Não adianta eu tentar lhe dizer como esses quadros eram, porque o terror hediondo e blasfemo, bem como a inacreditável repugnância e fedor moral, vinha de toques simples que ficavam muito além do poder classificatório das palavras.”

Dentre meus contos preferidos, com certeza está “Os ratos na parede”, que conta a história de uma família que muitos julgam ser amaldiçoada, assim como a sua casa. Acontece que seu último herdeiro acaba por financiar a restauração dessa casa e decide mudar-se para lá em 1923. Em uma atmosfera de superstições e antigas histórias, observados esse pobre homem questionando-se sobre a sua própria sanidade. É isso que os seus personagens passam, a sensação de estarem no limite, abatidos e desesperançosos após presenciarem coisas que vão de encontro as suas crenças, a tudo aquilo que eles conheciam.

Em “O modelo Pickman”, encontrei uma verdadeira história de horror. Uma história digna de Lovecraft. Onde um homem era capaz de pintar em seus quadros pesadelos inimagináveis. Ele era capaz de pintar o terror e retratá-lo com maestria. Aqui encontrei a verdadeira facete do autor. E entendemos o motivo dele ser considerado por muitos um revolucionário do gênero de terror. A descrição esmiuçada, de algo que apenas habitava a mente desse escritor, é surreal. Ele possuia parcos recursos naquela época e, mesmo assim, conseguia transportar todos para o seu mundo. Um mundo apavorante, é verdade, mas tão rico em detalhes que fazem até o mais corajoso tremer.

Recheado de contos maravilhosos, com uma beleza fora do comum. Esse é um livro que não pode faltar na estante dos adoradores de Lovecraft. Você tem curiosidade em saber qual o motivo que leva esse homem a ter essa reputação? Então, esteja preparado para adentrar em um mundo onde o surreal é apenas mais uma coisa banal.

thumb_livro

4estrelasB

CONTOS, VOLUME 1

Autor: H. P. Lovecraft

Editora: Martin Claret

Ano de publicação: 2017

Nesta edição, reunimos alguns dos contos mais famosos de H. P. Lovecraft, que figuram o chamado “Ciclo do terror”. O volume contém “A fera na caverna”, “A rua”, “O que vem da lua”, “O perverso clérigo”, “Ele”, “Ar frio”, “Os ratos nas paredes”, “O modelo Pickman”, “A gravura da casa maldita” e “Herbert West – Reanimador”. Uma leitura imperdível para os amantes do horror.

 

 

Relacionados

Destaques

Insta
gram

[jr_instagram id='3']

Parceiros