A Cor da Coragem é do autor Julian Kulski, lançado no Brasil em 2016 pela editora Valentina.

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Sobre o Livro

Julian Kulskin era apenas um garoto polonês de 10 anos quando a guerra bateu à porta. Seu pai era vice-prefeito de Varsóvia, o que o colocava bem centralizado no conflito político que se instaurou. Anos após, quando a guerra acabou, para lidar com o estresse pós traumático, foi sugerido ao então adolescente que escrevesse suas memórias. Pra isso, ele volta no tempo e começa a relatar desde o começo tudo o que ele viveu.

Mesmo sendo apenas um garoto, desde o final de 1939, quando a Polônia foi invadida, Julian queria lutar. Sendo muito novo, ele tinha o patriotismo aflorado e estava disposto a combater, mesmo sem saber ao certo os horrores que poderia encontrar. O prefeito foi logo deposto e seu pai assumiu a posição, ficando diretamente exposto ao comando nazista. Aos poucos, entre uma informação e outra o jovem se aliava aos amigos para tentar ter alguma participação na luta. Desde o simples fato de arrancar os cartazes alemães a mais tarde, estar no centro da Resistência.

“Qual é a cor da coragem? Vermelho, é claro. Pois em tempos de guerra coragem é arriscar o próprio sangue.”

Com datas próximas e também esparsas vemos o garoto crescer através de sua narrativa e descobrimos como sua vida se desenrolou e como ele se tornou um dos mais jovens oficiais dessa organização de resistência, com apenas 12 anos. Da simplicidade da forma direta como tudo é exposto, aos horrores da guerra, o garoto de 16 anos que termina a narrativa não é mais tão vivo quanto o de 10 que nos é apresentado.


Minha Opinião

Em 2016 tive o meu primeiro contato com um relato sobre a segunda guerra mundial que não fosse de um judeu preso em um campo de concentração ou lutando para se manter escondido e vivo. Vi através dos olhos de um alemão como a guerra se instaurou e como isso refletiu na forma como aquele povo também via as coisas. Agora, através de um menino polonês, olhei um outro viés da tragédia. O lado de quem teve seu país invadido e não era o alvo central da guerra.

A primeira coisa que chama a atenção é a idade do nosso protagonista e narrador. Julian tem apenas 10 anos quando em 1º de setembro de 1939 a Polônia é invadida. Poucos dias depois a luta chega a Varsóvia, e não demora muito para que o pais seja tomado. Desde o início ele demonstra o quão indignado está por ver seu país sob controle de um povo que não é o seu e quer ajudar, porém é apenas um garoto.

“Eu queria gritar, berrar e sobretudo lutar. Mas parece que só podemos esperar e tentar controlar o medo.”

Por seu pai ser um dos governantes da capital polonesa, sua família está diretamente na linha de frente, tanto das punições quanto da informação. E, não demora muito para que ele comece a buscar formas de lutar suas batalhas. Tudo no início é muito irrisório, apenas arrancar uns cartazes ali, derrubar umas placas aqui, mas não demora muito para que ele se junte a resistência, e com apenas 12 anos já vai estar envolvido mais a fundo na questão. Ao longo dos próximos anos ele se tornará um combatente, e estará no centro da batalha quando o levante de Varsóvia ocorrer.

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Esse livro foi escrito depois que a guerra acabou e Julian já tinha 16 anos, sendo publicado somente muito depois. O fato das inserções não serem realmente do momento em que são datadas fica muito claro pela forma de escrita. O menino que começa o livro, está apenas na idade estampada no papel, pois a voz já é muito mais velha e calejada. Não há nenhum vislumbre da graça infantil ou de pequenos deslizes que um garoto de 10 anos cometeria em seus pensamentos secretos.

Consequentemente isso gera o questionamento de pensar se realmente foi daquela forma, se todo aquele ardor de se juntar a batalha veio tão cedo mesmo, ou se depois de tudo o que foi vivido a gana pela luta falou mais forte na hora de expor as memórias no relato.

Seja da forma que for, esse é um livro longe de vislumbres infantis ou emocionais sobre esse período histórico. Julian é muito direto e frio em suas análises, e é realmente raro ver palavras mais emotivas saindo das páginas. Consequentemente, a emoção que normalmente é contida nesses livros também fica pra trás e temos um relato mais seco sobre os acontecimentos. O que para algumas pessoas é um ponto positivo nesse livro, pois sei que muita gente se afasta de leituras da temática pelo peso que ela normalmente contém.

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Em vários momentos fiquei um pouco chocada com a forma como a informação era exposta, direta, sem um comentário mais profundo ou emocional. Há descrições que deixam o leitor tenso, mas o narrador apenas pontua o horror encontrado sem se demorar sobre ele.

Levando em consideração a posição que ele estava quando tudo chegou ao fim, e do propósito inicial do livro que era lidar com o trauma, eu realmente entendo a frieza com que tudo isso é tratado. Parece haver uma necessidade de distanciamento dos horrores maiores e foco na batalha, no que podia ser feito por ele para parar com esses acontecimentos.

“A luta pela liberdade não termina com a vitória ou a derrota em batalhas individuais, pois é eterna.”

A edição está cheia de mapas, imagens e dados extras, facilitando bastante a visualização de todo o cenário pelo leitor. Ao final de cada capítulo há uma área onde é possível acessar via QR Code vídeos relacionados com os fatos descritos anteriormente, acrescentando mais informações ao que nos é passado. Por o livro ser separado por datas e inserções, mais essas imagens e mapas, a leitura se torna muito rápida e as 400 páginas acabam por passar rapidamente. A única coisa que me incomodou um pouco foi o fato de nem todas as inserções parecerem realmente necessárias. Há várias coisas que se repetem e que não sei ao certo se precisavam estar ali.

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A Cor da Coragem é um livro focado na visão polonesa sobre o que aconteceu na guerra. É em seu território que vamos travar essa batalha e é pela sua liberdade e de seu povo que ansiamos. Com os olhos desse garoto não tão jovem, vemos os acontecimentos se desenrolar, junto com os problemas ao longo do caminho. A falta de comida, a prisão de familiares, o desaparecimento de conhecidos em campos de concentração e a escassez de informações são coadjuvantes presentes em todas as histórias sobre a 2ª Guerra Mundial, e aqui não é diferente.

Com um foco diferente e um descritivo duro do que aconteceu, Julian Kulski coloca no papel os anseios que viveu e os horrores que presenciou, dando ao mundo um relato pessoal e histórico de um dos períodos mais sombrios de nossa história moderna. Um período que não podemos jamais esquecer.

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A COR DA CORAGEM

Autor: Julian Kulski

Editora: Valentina

Ano de publicação: 2016

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha invade a Polônia. É o início da Segunda Guerra Mundial. Em poucos dias, Varsóvia se rende aos alemães, soldados poloneses depõem suas armas, a cidade já é um amontoado de escombros. Julian Kulski é um menino polonês de apenas 10 anos de idade. Filho do vice-prefeito de Varsóvia, escoteiro ousado e entusiástico, ele tem a firme convicção de que deverá lutar contra o Invasor. A cor da coragem é o diário de Julian Kulski, a história de seu amadurecimento durante os cinco anos da brutal ocupação alemã.
Diferentemente do diário de Anne Frank, narrado a partir da sua clausura no esconderijo de um prédio em Amsterdã, o de Julian Kulski se passa nas ruas de Varsóvia, no front, no combate cara a cara com o inimigo, no infame Gueto onde se encontram seres humanos famintos, desesperados e doentes à mercê de todo tipo de tortura, do enforcamento, do fuzilamento, da câmara de gás.

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