Cujo é um livro do autor Stephen King e foi lançado em uma edição especial pela Suma de Letras em 2016.

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Sobre o livro

Durante cinco anos um monstro assombrou a cidade de Castle Rock no estado do Maine. Ele assassinou brutalmente seis mulheres. Muitos se perguntavam que tipo de criatura seria capaz de tantas atrocidades que iam além da compreensão humana. O que assombrou muitas pessoas foi que esse monstro tinha nome e sobrenome: Frank Dodd. O policial lunático que passou a ser uma lenda urbana e forma de assustar as crianças que insistiam em teimar com os seus pais. Na época ele cometeu suicídio e isso trouxe paz e alívio para todos os habitantes, mas, em 1980, ele retornou à cidade.

“Não era lobisomem, vampiro ou carniçal, nem tampouco uma criatura sem nome de uma floresta encantada ou de uma região glacial. Era só um policial chamado Frank Dodd, que tinha distúrbios mentais e sexuais.”

Tad Trenton tem 4 anos e mora com os pais em uma casa que deveria ser só aconchego e felicidade, exceto pelo monstro que vive no seu armário. A coisa que espreita à noite quando as luzes se apagam não deixa dúvidas: é o espírito de Frank que voltou para assombrar a todos. Com promessas terríveis e uma maldade no olhar, ele atormenta as noites do garoto que pensa estar enlouquecendo. Paralelo a isso, seu pai vem passando por problemas com o trabalho e pensa estar enlouquecendo também, só que diferente do filho a dúvida que o assola é sobre a fidelidade da sua esposa.

Nessa pequena cidade residem habitantes com as suas mais diversas naturezas e peculiaridades. Na casa de Joe e Charity Camber ele é a lei. No grande celeiro vermelho que ele faz de oficina o filho, Brett, com apenas 10 anos, o ajuda e a constante presença do grande cão da família da raça são-bernardo, chamado Cujo, é algo corriqueiro para todos que vivem em Castle Rock. O cachorro tem apenas tamanho, pois é muito dócil e querido por todos da região. Até ser mordido por morcegos e passar a ter um comportamento estranho e agressivo.

Todas as engrenagens do destino parecem conspirar para que várias viagens aconteçam ao mesmo tempo e apenas uma mãe e o seu filho ficam em casa com um carro defeituoso. Ao invés de esperar a volta do marido, ela mesma decide resolver esse problema com o mecânico mais próximo. O que ela não sabe, é que ao chegar ao seu destino ela encontrará um anfitrião nada amistoso e a partir daí todos os seus pesadelos serão reais.


Minha opinião

“Era uma vez…”. É assim que adentramos nessa história eletrizante, narrada em apenas um capítulo e cheia de tensão do início ao fim. King consegue transformar algo surreal e que, em um primeiro momento, seria considerado terror bobo em algo genial e que nos deixa fixados e de orelhas em pé. Um cão consegue se transformar num grande vilão e vira um monstro aos nossos olhos. A história, que é narrada na sua maior parte, por um observador externo, vai ser moldada e tramada conforme cada página virada.

Além disso, em determinadas partes, a narrativa é vista do ponto de vista do próprio Cujo. Ele não entende de onde vem toda essa raiva e não consegue controlar tudo que está sentindo e passando pela sua cabeça. O cachorro não sabe nomes, identifica as pessoas ao seu redor apenas como O HOMEM ou O MENINO e de uma forma toda simples, como deve ser a de um cachorro, e fica frustrado ao não entender porque sente tanto ódio de quem ele gostava tanto. A dor que ele sente, a raiva, tudo isso misturado deixa Cujo fora de si e sem noção dos seus próprios atos. Tudo torna-se diferente e aterrorizante aos seus olhos.

“Aqueles olhos da coisa no closet eram olhos insanos, gargalhavam e prometiam uma morte horrível e uma sinfonia de gritos ainda não executada.”

Senti no livro aquela velha comparação que é motivo de debates diversas vezes ao longo da vida: o verdadeiro monstro é aquele das histórias ou o próprio ser humano? King diz que “monstro que é monstro nunca morre”, e de certa forma isso é verdade. Todo o monstro deixa a sua marca. Aquele que assassinou, abusou, fez um mal a alguém, pode até morrer, mas sempre vai deixar a sua marca em quem sofreu com ele. Um monstro nunca morre com a sua morte, ele deixa a sua história incrustada naqueles que sofreram seu mal.

O livro também discorre sobre diversos problemas conjugais e familiares, resquícios de uma infância sofrida do pequeno Stephen King. Famílias desestruturadas, maridos abusivos, problemas com a bebida, mulheres que apanham caladas, filhos que vivem com medo, tudo isso é abordado com todo aquele toque clássico do autor. Mas, algo é certo, no fim sempre temos mães guerreiras que fazem tudo para defender a sua prole, apesar de todas as adversidades encontradas na caminhada. Tudo isso é retratado mais uma vez, com toda a propriedade que ele tem no assunto.

“Cujo olhava para O MENINO e não o reconhecia mais: não reconhecia o rosto, nem os tons das roupas […] nem o cheiro. O que via era um monstro de duas pernas. Cujo estava doente e agora tudo parecia monstruoso. A cabeça ribombava pesadamente, pedindo morte. Queria morder, rasgar e dilacerar.”

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Outro ponto que existe no livro e que me chamou a atenção é aquele de que de noite tudo fica mais apavorante. À noite qualquer cadeira vira monstro, qualquer sombra dá medo, qualquer barulho são fantasmas. Por mais crescidos que sejamos, sempre tememos o sobrenatural como ponto de terror. Quem diz o contrário, está mentindo. É claro que com o tempo abandonamos esses medos infantis e vamos dando mais ênfase aos medos adultos. O medo de outros adultos. Mas sempre resta, por menor que seja, aquela sensação de frio na espinha quando alguma luz apaga sozinha.

Sempre cheio dos mais mínimos detalhes, King, faz você entrar na história querendo ou não. Ele é um autor completamente detalhista e quem já leu algum livro seu, qualquer um, vai perceber o quanto é fácil criar na nossa cabeça imagens sobre os locais, pessoas (apesar dele não dar muitas características físicas, mas pense nas personalidades que são tão bem desenvolvidas), monstros e situações que ocorrem conforme o seu texto avança. Você se pega completamente envolvido com essa pequena cidade e com as pessoas que nela residem.

Essa edição está impecável. Capa dura, toda linda e com detalhes que enchem os olhos de todos os fãs de livros. E no final temos uma entrevista com o autor onde o seu bom humor aflora e entendemos porque ele é tão querido e possui tantos fãs. Acho até difícil acreditar que ele não lembra de ter escrito esse livro, que foi em uma época conturbada da sua vida com drogas e álcool, pois sentimos a presença dele durante toda a trama. Mesmo sob efeito de substâncias ele não perde a sua essência. A escrita de King é inconfundível.

“Uma máquina de matar coberta de sangue, com fios grossos de espuma voando das mandíbulas. E que exalava um fedor esverdeado e pantanoso.”

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King nos conduz com maestria. O terror psicológico empregado por um cão, um são-bernardo, conhecido por ser dócil, é de arrepiar. Apesar de boa parte da narrativa se passar em um lugar fechado, onde um sentinela fica aguardando o primeiro passo em falso de uma mãe desesperada, o livro não se torna monótono. Queremos saber o que acontece, estamos temerosos pelo o que pode acontecer. Podemos esperar tudo, inclusive o final chocante que temos e que nos deixa com aquela pontada de tristeza e com a pergunta do “E se?”.

Sentimos a sensação de estarmos enclausurados dentro do carro como eles, pensamos na necessidade de sobrevivência, nos conflitos vivenciados pela mãe, no medo que o filho sente, na falta de água e comida, no isolamento, na impotência, toda a natureza humana aflorando em uma situação que pode sim acontecer conosco, e nos perguntamos “o que eu faria no lugar dessa mãe?”. Se correr o bicho pega, se ficar…

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CUJO

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Ano de publicação: 2016

Frank Dodd está morto e a cidade de Castle Rock pode ficar em paz novamente. O serial-killer que aterrorizou o local por anos agora é apenas uma lenda urbana, usada para assustar criancinhas. Exceto para Tad Trenton, para quem Dodd é tudo, menos uma lenda. O espírito do assassino o observa da porta entreaberta do closet, todas as noites. Você pode me sentir mais perto… cada vez mais perto. Nos limites da cidade, Cujo – um são Bernardo de noventa quilos, que pertence à família Camber – se distrai perseguindo um coelho para dentro de um buraco, onde é mordido por um morcego raivoso. A transformação de Cujo, como ele incorpora o pior pesado de Tad Trenton e de sua mãe e como destrói a vida de todos a sua volta é o que faz deste um dos livros mais assustadores e emocionantes de Stephen King.

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