A Desumanização é do autor Valter Hugo Mãe e foi originalmente lançado pela editora portuguesa Porto Editora em 2013, o livro foi trazido ao Brasil pela findada editora Cosac Naify.

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SOBRE O LIVRO

Em um pequeno vilarejo Islandês, toda a sua beleza feroz se torna um inevitável aspecto de abandono e solidão. Em meio aos fiordes, os habitantes daquele lugar aprendem a conviver com isso e a transformar os sentimentos mais amargos em uma espera paciente, onde os abismos escuros se transformam na boca silenciosa de Deus.

A narrativa trata sobretudo sobre questões psicológicas e a forma que as pessoas tem de lidar com acontecimentos horríveis em suas vidas, muitas vezes sendo até violentas consigo mesmas e com os outros. O enredo principal é apresentado de maneira bem simples; já no início do livro somos apresentados a duas crianças gêmeas: Sigridur e Haldora, e de imediato sabemos que uma delas faleceu.

“Um homem não é independente a menos que tenha coragem de estar sozinho.”

MINHA OPINIÃO

A caracterização do vilarejo de pescadores, o funcionamento daquela pequena comunidade é descrito de maneira marcante pelo narrador. Além dos aspectos culturais, o fato de os moradores considerarem a Islândia como sendo “Deus” presentes ao longo de toda a narrativa acaba se tornando uma das características mais bonitas do enredo. O autor descreve não somente os sentimentos dos personagens de uma forma extremamente poética, mas também o lugar e a ambientação.

O foco da história em si, se baseia no acompanhamento da família que acaba de perder uma de suas filhas. O nome das meninas me chamou bastante a atenção; a garotinha que continua viva ou “a menos morta” como é considerada, tem o nome de Halldora, que significa: o resto, e isso acaba sendo uma verdade. Ao longo da narrativa, ela nos apresenta memórias dos tempos em que sua irmã ainda vivia, e de certa forma, é visível que ela era quem tinha uma personalidade mais forte, e portanto era quem de fato conduzia a vida das duas.

“Quando for grande, Hala, não quero ser cozinheira das baleias. Não vou ficar aqui encalhada e fazer doces para que elas se consolem. Quando for grande, quero ser de outra maneira. Quero ser longe.”

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Ao acompanharmos o velório da Sigridur, somos introduzidos de uma forma diferente aos aspectos fúnebres, o autor descreve o enterro como o plantio de uma semente, o que acaba criando na cabeça da menina que ficou algumas ideias bonitas de o que germinaria naquele local.

Ao mesmo tempo em que Halldora não é uma criança comum, ela ainda tem algumas ideias muito infantis a respeito da vida e da morte, o que acaba nos deixando mais próximos e comovidos com todos os aspectos apresentados sobre a vida e a morte.

“Repeti: a morte é um exagero. Leva demasiado. Deixa muito pouco.”

A mãe das jovens aparenta ter uma relação mais próxima com a menina que faleceu e acaba fazendo com que a filha seja realmente o resto, e lhe coloque ideias de que ela não pode ser feliz, porque a sua felicidade é um desrespeito à memória de sua falecida irmã.

Diferentemente do pai, que é um poeta. É ele quem vai amenizar a tristeza de seus dias e continuar lhe ensinando coisas boas sobre a vida. Um aspecto interessante é a proximidade que eles acabam tendo com os livros, que por várias vezes são mencionados de uma forma muito bonita.

“Os livros eram ladrões. Roubavam-nos do que nos acontecia. Mas também eram generosos. Ofereciam-nos o que não nos acontecia.”

O livro em sua essência é uma história pesada, que trata de temas delicados, mas que tem toda uma poesia e uma espécie de lição que devemos levar conosco. Dizer que é de leitura fácil e rápida seria um equívoco, até mesmo pela diagramação do livro, onde os parágrafos são extensos, os diálogos não são marcados e uma série de palavras mantidas no idioma original (Portugês, de Portugal), mas sem dúvida alguma, é uma experiência incrível.

Para aqueles leitores que gostam de tirar dos livros um pouco mais do que apenas a sua história principal e descarada, A Desumanização se apresenta como uma opção rica e bem escrita, nas mãos de Valter Hugo Mãe. Essa edição super bonita é de nossa acabada, porém amada Cosac Naify, e como vocês podem ver na imagem abaixo, recebeu inúmeras marcações, devido as várias reflexões que o livro me trouxe.

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A DESUMANIZAÇÃO

Autor: Valter Hugo Mãe

Editora: Cosac Naify

Ano de publicação: 2014

Quarto romance do aclamado escritor português a ser lançado pela Cosac Naify, A desumanização se passa na paisagem inóspita dos fiordes islandeses. Narrado por uma menina de 11 anos que nos conta, de maneira muito especial, o que lhe resta depois da morte da irmã gêmea, o livro é feito de delicada melancolia e extrema beleza plástica.

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