Estreou este mês na Netflix produção original estrelada por Robert Redford, Jason Segel e Rooney Mara.

A mortalidade é uma condição que nos aflige desde quando nos entendemos por espécie. Datam-se de dezenas de milênios atrás os primeiros rituais funerários registrados e a narrativa escrita mais antiga da História que se tem notícia remete à epopeia de Gilgamesh, de aproximadamente 5000 a.c, sobre um imperador que busca a imortalidade mas defronta-se com a negativa dos deuses que lhe avisam da morte como condição natural e inevitável de se ser humano. Seguindo a linha desta temática que nos é tão cara, que gerou religiões e civilizações, “The Discovery” é um filme que trata da possibilidade de vida após se morrer. Assunto poderoso, complexo e conflituoso; e que por isto mesmo, ao ser tratado, merece a devida grandiosidade – coisa que a produção original da Netflix não faz.

Em elenco estrelado, com Jason Segel (“How I Met your Mother”), Rooney Mara (“Millenium”, “A Rede Social”) e Robert Redford, a história acompanha o neurologista Will (Jason Segel) em um mundo em que foi descoberto cientificamente que existe “algo” após a morte, apesar de não se saber exatamente o quê; descoberta responsável por uma onda de suicídios por todos os lugares. Na jornada, Will conhece Isla (Rooney Mara) ao ir em direção a sua ilha natal, onde vai visitar seu pai, Dr. Thomas Harbor (Robert Redford), o responsável por descobrir o novo “plano de existência” pós-“morte”.

O maior problema do filme reside em seu roteiro – a magnitude do tema exigia respostas mais satisfatórias ou, melhor, maiores perguntas existenciais geradas para o espectador. A forma da peça é a de um thriller de suspense que não põe grandes mistérios ao longo da drama, senão aqueles característicos de nosso medo da morte, o que faz a história ancorar-se em tal temática para a sua tensão dramatúrgica no lugar de esta se dar por atributos e qualidades do próprio roteiro. Ao espectador atento, não será raro ao longo do thriller a previsão do próximo desdobramento dos acontecimentos. A premissa é ótima, mas as promessas postas em cima da mesa não vão se concretizando conforme chega ao fim da trama.

Contudo, em termos de direção, o filme não se compromete. O diretor Charlie McDowell (filho de Malcomn McDowell, o Alex de Laranja Mecânica) é competente no uso da trilha sonora, de close-ups e na escolha dos planos. A Arte acompanha o clima de cores mais acizentadas em meio a um mundo sombrio, ressaltando certas cores em determinados momentos, em paralelo ao uso frequente de luzes incidindo à câmera pela Fotografia que, por vezes, com forte auxílio do digital, cria um mundo onírico e superiluminado; e, apesar dos grandes atores no elenco, nenhum deles se destaca em demasia.

Pretensioso ao tentar tratar de temas inalcançáveis a sua compreensão, “The Discovery” é um filme que me fez lembrar da melhor peça audiovisual que já vi tratar do tema da vida após a morte: uma esquete de pouco mais de um minuto do clássico programa de humor da BBC britânica Monty Python. Como apresentador de um programa de debates, John Cleese anuncia que discutirão naquele show se existe vida após a morte e, para tanto, foram trazidos para a roda de discussão três cadáveres. Inquiridos os três sobre a existência de vida pós-morte, eles obviamente não respondem, e o apresentador conclui pelo “não”. Às vezes um minuto e meio de ironia e irreverência são mais verdadeiros e inteligentes do que uma hora e quarenta minutos de puro preciosismo.

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THE DISCOVERY

Diretor: Charlie McDowell

Elenco: Jason Segel, Robert Redford, Rooney Mara e mais

Ano de lançamento: 2017

Dois anos após a vida após a morte ser provada cientificamente, um homem busca ajudar uma jovem mulher a superar os fantasmas de seu passado.

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