Dumplin’ é um livro da escritora Julie Murphy, publicado no Brasil em 2017 pela editora Valentina.

Sobre o Livro

Willowdean Dickson, Will ou simplesmente Dumplin, é uma adolescente que vive na pequena Clover City com a mãe, uma ex-miss. A paixão por Dolly Parton – sentimento que herdou da tia Lucy – aproximou Will da sua melhor amiga, Ellen. Embora sejam muito diferentes as duas garotas se amam, se entendem e se completam de maneira que só grandes amigas conseguem e esse laço é importante, pois a situação na casa de Will não é das melhores. Para ajudar nas finanças a protagonista começa a trabalhar  em um fast food e ali ela conhece Bo, o garoto calado e lindo, apaixonado por pirulitos e que olha para Will de maneira muito interessada.

Embora esteja passando por um momento delicado, Will lida de maneira muito assertiva com questões que costumam enlouquecer adolescentes. E mesmo que esteja fora do que muitos consideram o ‘padrão’ de beleza, ela se aceita e se gosta do jeito que é, muito alta, gorda, com dobras e celulites que insistem em ficar aparentes. Mas para Will tudo bem, porque ela é muito mais do que apenas um corpo. Certo?

“Mas essa sou eu. Gorda. Não é nenhum palavrão. Não é nenhum insulto. Pelo menos, não quando eu digo. Por isso, sempre me pergunto: por que não chutar logo de uma vez para longe essa pedra do caminho?”

Quando ela se apaixona por Bo as coisas começam a ficar um pouco estranhas, e quando Bo retribui os sentimentos e deixa claro que está interessado em Will, tudo muda. Ela começa a se olhar de maneira diferente e vê toda a autoestima ficar balançada enquanto a opinião dos outros – a respeito dela, a respeito deles – passa a ganhar mais importância. Sua fragilidade fica anda maior a partir do momento que questões familiares vão ganhando espaço, ao mesmo tempo em que a amizade entre ela e Ellen fica diferente.


Minha Opinião

Willowdean me representa. Acredito que não há maneira melhor de começar a resenha deste livro que não seja dizendo que, finalmente, encontrei uma protagonista que é capaz de dar voz às mulheres que não se encaixam em determinados padrões. E foi deixando claro essa representatividade que o livro nasceu, com uma capa que faz jus a história e com uma sinopse que nos deixa com um gostinho de quero mais. E eu quis.

Dumplin (uma palavra que remete a algo como um bolinho) foi um apelido dado à Will pela sua mãe, uma ex Miss Flor do Texas que, mesmo décadas depois de vencer o concurso que movimenta a cidade, ainda consegue entrar no vestido que usou ao ganhar o título. Ao perceber que sua filha gordinha nunca caberia em um vestido de tamanho 36, e que parecia muito mais com a tia obesa do que com ela, a mãe de Will chegou a conclusão que talvez a jovem não fizesse parte dos biotipos comumente encontrados nos concursos de beleza. Mas tudo bem, pois ela poderia ser boa em outras coisas. E de fato era, mas isso não impede que essa mãe critique a filha e tenha um preconceito, mesmo que velado, pelo peso da garota. A relação entre as duas se inicia com um silêncio enorme – daquele tipo que acomoda muitas coisas não ditas –  mas se desenvolve de maneira muito significativa e é lindo ver um outro lado do ser humano que às vezes fica escondido atrás do medo e da necessidade de ser perfeito aos olhos do outro.

Mesmo com tudo isso, Will se mostra uma menina linda. Seu excesso de peso ou os culotes que teimam em pular das roupas não são capazes de abalar sua autoestima ou diminuir seu amor próprio. Ela não deixa de fazer o que gosta, mesmo que isso signifique colocar um biquíni e ir se refrescar em uma piscina pública. Até porque para usar biquíni basta ter um corpo, certo? E ela acredita nisso. Claro, tem uma neura aqui e outra ali, e mudaria alguma parte do seu corpo se pudesse, como qualquer ser humano faria, independente de tamanho, peso ou qualquer outra coisa. E é nessa aceitação de quem ela é e de como ela é que a jovem começa a ser questionada e a questionar quando algumas coisas acontecem.

“A vida inteira tive um corpo digno de comentários, e se há uma coisa que viver na minha pele me ensinou foi que, se o corpo não é seu, você não tem direito de dizer nada. Seja a pessoa gorda, magra, alta ou baixa, não interessa.”

Primeiro Bo aparece e ele é aquele tipo de rapaz que não costuma falar muito, mas que com apenas um olhar consegue revirar alguém do avesso. E ele olha muito para Will, de maneira quente, perigosa e convidativa, como se ela fosse um daqueles pirulitos vermelhos que ele não tira da boca. E ela, uma jovem com vontades e desejos à flor da pele, se rende a atração. Uma atração que vira sentimento, um sentimento que vira a vida de Will de cabeça para baixo. Afinal, por que um cara tão lindo assim estaria interessado na menina gorda? Ela não é boa o suficiente para andar de mãos dadas com ele, porque isso seria motivo para pensarem que… O que as pessoas poderiam pensar, em uma situação dessas?

Enquanto Will lida com esse misto de sentimentos com relação a Bo, a ela mesma e a sua perda recente; enquanto vê seu círculo de amizades sofrer uma mudança significativa – ou talvez pela junção disso tudo – em um ímpeto de subversão a garota gorda se inscreve no concurso de beleza Miss Flor do Texas. Porque independente de toda a confusão de sentimentos e mesmo que tenha uma vozinha lá no fundo dizendo que isso não é uma boa ideia, Will acha que ela pode sim subir em uma passarela e desfilar toda a sua beleza plus size. Mesmo que seja só para provar um ponto. A partir daí as coisas mudam, e o significado do concurso passa a ser questionado. Porque se alguém fora dos padrões pode concorrer em um evento desse tipo, significa que outras meninas que não se encaixam nesses mesmos padrões também podem. Não é?

Ao se distanciar de algumas pessoas, mesmo sofrendo e causando sofrimento; ao se aproximar de outras tantas, por mais isso não faça sentido; Will mostra ao leitor que não é uma personagem perfeita, mostra que não quer retratar nenhuma garota modelo, e isso foi algo que me encantou na história. Aliás, essa é uma característica muito discutida na narrativa. O que seria, afinal, a perfeição? E seria perfeito sob qual ponto de vista? Em Dumplin’ essa relatividade é exposta de maneira muito direta. Neste livro os padrões de beleza são redefinidos e o leitor ganha a oportunidade de enxergar alegrias, medos e vitórias que surgem com a aceitação de quem se é de verdade.

Acontece que essa aceitação não é fácil. E embora Will se mostre super de bem com o próprio corpo e muito empoderada com relação a sua autoimagem, ela balança, ela duvida de si mesma, ela sofre ao pensar no julgamento alheio. E esse foi outro ponto que me conquistou neste livro, porque não acho fácil encontrar personagens que conseguem mostrar essa dicotomia que habita o ser humano e mesmo assim permanecerem encantadores e incríveis. Ao mostrar o quanto é ‘normal’ e justamente por isso dotada de sentimentos diversos, Will ganha o apreço do leitor. E o livro, ao presentear o leitor com personagens secundários magníficos – que vão desde um gato meio mal humorado, passando por drag queens e chegando a meninas dentuças e rebeldes – mostra que esse é muito mais do que um romance adolescente. É um livro que mexe com quem o lê, incomoda e promove reflexão, tudo isso embalado pelas músicas de Dolly Parton.

“Você não merece vencer nada nem participar de qualquer concurso até ir à luta, batalhar. Talvez as gordas, as mancas, as gengivudas e dentuças não costumem vencer concursos de beleza. Talvez não seja a norma. Mas o único jeito de mudar isso é marcando presença. Não podemos esperar as mesmas coisas que as outras garotas esperam até começarmos a exigi-las. Porque ninguém vai nos dar nada de bandeja, Will”.

Utilizando uma linguagem simples e com uma narrativa que prende o leitor, Dumplin’ aborda de maneira muito direta assuntos que podem ser considerados difíceis de lidar: a morte, a perda da virgindade, o padrão de beleza imposto pela sociedade, o bullying com o que é considerado diferente, a necessidade de auto aceitação e a importância do amor próprio. Ora de maneira sensível, ora usando de extrema ironia, o livro fala sobre situações e sentimentos que podem mudar a vida de alguém, seja essa mudança positiva ou não.

Ao finalizar Dumplin’ cheguei a seguinte conclusão: este livro deve ser lido por todos, mas pode não agradar a todo mundo. Quem não se identifica com a personagem, com seus medos, suas alegrias e suas dores, corre o risco de não entender seus questionamentos e anseios. Quem não consegue ser empático pode não compreender tudo o que significa ter um corpo gordo, as dúvidas e angústias que advém daí. E quem se identifica, porque já viveu ou vive algo semelhante, que é o meu caso, pode sentir doer bem fundo ao embarcar nessa narrativa. Em alguns momentos senti que a fala da protagonista se misturou a minha, compartilhei da vergonha, da angústia, do receio do que os outros vão pensar. Mas Sabem qual foi a melhor parte? O sentimento de poder e vitória que a leitura desperta se sobrepõe a qualquer sentimento ruim, e o que fica ao término do livro é um sorriso nos lábios e uma necessidade absurda de pedir que todos conheçam essa história. Dumplin’ não é mais um romance bobo e água com açúcar. Este livro é uma aula de empoderamento e representatividade dividida em 333 páginas.

DUMPLIN’

Autor: Julie Murphy

Editora: Valentina

Ano de publicação: 2017

Especialmente para os fãs de John Green e Rainbow Rowell, apresentamos uma destemida heroína e sua inesquecível história sobre empoderamento feminino, bullying, relação mãe e filha, e a busca da autoaceitação. Sob um céu estrelado e ao som de Dolly Parton, questões como o primeiro beijo, a melhor amiga, a perda de alguém que amamos demais e “estou acima do peso e ninguém tem nada com isso” fazem de Dumplin’ um sucesso que mexerá com o seu coração. Para sempre. Gorda assumida, Willowdean Dickson (apelidada de Dumplin’ pela mãe, uma ex-miss) convive bem com o próprio corpo. Na companhia da melhor amiga, Ellen, uma beldade tipicamente americana, as coisas sempre deram certo… até Will arrumar um emprego numa lanchonete de fast-food. Lá, ela conhece Bo, o Garoto da Escola Particular… e ele é tudo de bom. Will não fica surpresa quando se sente atraída por Bo. Mas leva um tremendo susto quando descobre que a atração é recíproca. Ao contrário do que se imaginava – a relação com Bo aumentaria ainda mais a sua autoestima –, Will começa a duvidar de si mesma e temer a reação dos colegas da escola. É então que decide recuperar a autoconfiança fazendo a coisa mais surreal que consegue imaginar: inscreve-se no Concurso Miss Jovem Flor do Texas – junto com três amigas totalmente fora do padrão –, para mostrar ao mundo que merece pisar naquele palco tanto quanto qualquer magricela.

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