Em Águas Sombrias é o novo livro de Paula Hawkins, lançado em 2017 pela editora Record.

Sobre o Livro

A cidade de Beckford sempre foi cercada de uma aura sombria. Com seu famoso poço dos afogamentos, onde antigamente bruxas eram julgadas e testadas e que posteriormente virou um ponto de suicídios, muita gente prefere não falar sobre o assunto. Porém, ao amanhecer de um novo dia, o corpo de Danielle Abbot é encontrado. A mãe de Lena, adolescente que recentemente perdeu uma amiga também para o poço, estava pesquisando exatamente sobre essa história enigmática e sobre todas aquelas que perderam a vida naquele local.

“Há quem diga que essas mulheres deixaram algo de si na água, outros, que a água retém parte do poder de cada uma, pois desde então tem atraído para suas margens as desventuradas, as desesperadas, as infelizes, as perdidas. Elas vêm aqui para nadar com suas irmãs.”

Chamada para identificar o corpo e assumir o controle da situação, Jules Abbot será obrigada a retornar a sua cidade natal, que havia abandonado há muito anos e não tem carinho nenhum. Com uma relação rompida com a irmã por muito tempo já, ele não entende como Nel poderia tirar a própria vida, principalmente quando tinha uma boa relação com a filha e estava com um trabalho em andamento.

Rodeada de memória do passado Jules tentará buscar respostas e entender o que a irmã queria com sua pesquisa. Aparentemente para Nel, o poço dos afogamentos não era somente um lugar de onde as mulheres abriam mão de sua vida, mas um belo disfarce para que a vida de algumas dessas mulheres fossem tiradas sem suspeitas. Será que Nel na verdade é um desses casos ou será que realmente saltou em direção à aguas sombrias?


Minha Opinião

Quando eu li A Garota no Trem ano passado foi uma experiência sensacional. Eu sempre digo que acho que foi ainda mais legal porque ouvi o audiobook com narração interpretativa e não o livro, o que deu ainda mais voz e tensão para aquilo que estava acontecendo. Então, quando um novo romance da autora foi anunciado, eu já fiquei na expectativa. Em Águas Sombrias teve o lançamento nacional ocorrendo junto com o mundial e o livro estava na nossa mão assim que possível. As opiniões foram divergentes e, mesmo que eu não tenha gostado tanto quanto o primeiro da autora, achei a história bem interessante.

A princípio achei que não iria funcionar muito bem pra mim, pois o livro possui uma imensa lista de narradores. A cada novo capítulo somos apresentados a alguém diferente e isso nunca deu muito certo comigo, porém aqui Paula Hawkins não usou esses capítulos para contar a história de vida de cada um, mas sim mostrar a sua participação dentro dessa trama específica.

O interessante de ver a trama por muitos olhos e não focar especificamente em alguém é que parece abrir ainda mais o leque de possibilidades quando estamos a procura de um culpado. Enquanto alguns personagens sabem coisas sobre outros e optam por esconder, alguns dão bem a entender que escondem também segredos e começamos a categorizá-los entre os suspeitos e possíveis peças chave na trama.

As duas personagens mais fortes na história são Jules e Lena, irmã e filha. É através delas que olharemos com mais atenção para dentro do seio dessa família e para o passado que se esconde ali. O que afastou Jules? Porque elas brigavam? Porque Nel ligava toda a semana para a irmã quando sabia que ela não atenderia? O que se passava na cabeça dessa mulher a ponto de ela tirar a própria vida? ou não? Todos os personagens escondem algo, seja segredo seu ou de alguém próximo.

Mas, talvez mais interessante do que essa atmosfera está o contexto “histórico” em que o livro se firma. O poço dos afogamentos era algo real ali, um lugar usado a centenas de anos como local para julgar se alguém era uma bruxa ou não. Se jogada ela afundasse ou boiasse, vinha o veredito. Porém, a esse ponto, por causa das pedras já não se adiantava mais nada. Na melhor das hipóteses as pernas já estariam quebradas, ou a pessoa voltaria morta. Depois disso era o ponto sem volta de todas aquelas que queriam tirar sua vida, todas as “encrenqueiras”.

Com a investigação de Nel, é exatamente isso que ela quer levantar. Será que alguns desses suicídios não foram assassinatos? Pelo lugar já ter essa fama, nenhuma mulher que pulasse dali teria uma verdadeira investigação. Era sempre suicídio e com o corpo encontrado em frangalhos na água, o que se teria a questionar? E sendo assim, será que ela não encontrou algo concreto que a fez ser também riscada do mapa? Sua investigação não agradou a ninguém. Nem aqueles que tiveram sua família marcada pela tragédia, nem aqueles que não gostaria de ver sua cidade retratada de tal forma nas páginas de um livro.

“Quando alguém morre dessa forma, a pergunta que todo mundo se faz é por que? Por que fariam uma coisa dessas? Por que tirariam a própria vida quanto tinham tantos motivo para viver?”

Eu demorei um bom tempo para entender Jules e os seus motivos por ter se afastado. Quando descobri, sofri um pouco com ela e a compreendi, mesmo às avessas o que se passava em sua mente. Outra trágica vítima de tudo é Lena que perdeu a mãe pouco tempo de ter perdido a melhor amiga e viu aquela que sempre rejeitou Nel vindo tomar conta de tudo. É claro que rola antes brigas, birras e mimimi, mas pelo menos há propósito aqui.

Há também uma vibe paranormal, com a personagem de Nickie Sage, e conheceremos algumas das vítimas/suicidas através de partes do livro que Nel estava escrevendo. Josh um garoto de 12 anos que viu algo e guardou pra si; Mark o professor que pode ter despertado atenções indesejadas; Louise que perdeu a filha e não quer ninguém remexendo nessa história; Erin a detetive recém transferida; ou Sean o policial que carrega um enorme peso nas costas graças ao nome do pai e a relação com a esposa. Todos com história pra contar, mas dando também espaço para apontar no que essa história se conecta com a trama principal.

Confesso que pode ser um pouco confuso entender onde cada um se encaixa logo no começo, mas depois tudo faz sentido. É claro que a mesma história poderia ter sido contada de forma menos expansiva, mas entendi o jogo de perspectivas aqui e o que ela quis causar. O fim do livro não é exatamente imprevisível, mas achei interessante o desenrolar das amarras e o ato posterior.

Em Águas Sombrias não veio roubar o lugar de A Garota no Trem, mas também não é ruim. Acho que há pressão em cima de qualquer autor que tenha lançado um livro com tamanho bus como Paula Hawkins, principalmente com o lançamento do filme. Para os fãs do gênero e da autora, acho que vale a pena dar uma chance e tentar descobrir por si onde essa história vai dar.

EM ÁGUAS SOMBRIAS

Autor: Paula Hawkins

Editora: Record

Ano de publicação: 2017

Nos dias que antecederam sua morte, Nel ligou para a irmã. Jules não atendeu o telefone e simplesmente ignorou seu apelo por ajuda. Agora Nel está morta. Dizem que ela se suicidou. E Jules foi obrigada a voltar ao único lugar do qual achou que havia escapado para sempre para cuidar da filha adolescente que a irmã deixou para trás.
Mas Jules está com medo. Com um medo visceral. De seu passado há muito enterrado, da velha Casa do Moinho, de saber que Nel jamais teria se jogado para a morte. E, acima de tudo, ela está com medo do rio, e do trecho que todos chamam de Poço dos Afogamentos…

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