“Eu me possuo” foi escrito pela autora nacional Stella Florence. E publicado pela Panda Books no ano de 2016.

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SOBRE O LIVRO

Eu me possuo conta a história de Karina (K), uma jovem adolescente, estudante de Odontologia. Apesar de parecer ter uma vida comum, K não está totalmente satisfeita com o lugar onde ela está, a vida pacata e conformada de seus familiares e o rumo com que as coisas caminham em sua vida. Seu conforto é sua terna e amorosa relação com sua avó Evelyn.

Karina tem algo em sua alma que a faz querer mudar, se libertar.

Uma oportunidade nova, de trabalhar no bar de uma amiga aos finais de semana faz com que tudo que estava aprisionado na mente de Karina se liberte, inclusive, ela mesma. A partir de então, a narrativa começa a tomar um novo rumo, assim como a vida da protagonista, que parece finalmente ter encontrado o que sempre procurou. Ao menos, era o que parecia, até que um cliente em especial começa a frequentar o bar, um homem que a seis anos a violentou.

Acompanhando o dia a dia da personagem, vamos descobrindo que mistérios e pensamentos ela sempre guardou para si, e como a vida pode nos levar por caminhos inesperados, e talvez, só encontraremos aquilo que procuramos, quando paramos de procurar.

“A gente paga um preço por tudo, Kasi, até por algo que se deseja muito.”


MINHA OPINIÃO

Apesar de o tema ser delicado, a narrativa não é de forma alguma pesada ou angustiante, ao contrário, é facilmente fluida, e a forma com que os acontecimentos são narrados em capítulos curtos, fazem com que o leitor queira saber o que vem a seguir.

Diferente do que possa parecer, a narrativa não caminha pelo rumo esperado. O estupro que Karina sofreu não é o foco, e sim em quem Karina se tornou depois do acontecimento. Como a maioria das vítimas dessa situação, as cicatrizes não desaparecem fácil e é possível ver a “gaiola” em que se prendeu e aos rótulos que se impôs se tornando uma pessoa angustiada com seu próprio conformismo.

A forma como a protagonista decide tomar as rédeas de sua própria vida e enfrentar seus medos faz com que, de alguma forma, o leitor e principalmente o público feminino se identifique em alguns aspectos com sua jornada, vendo nela um incentivo para superar o trauma que viveu.

O crescimento da personagem ao longo da narrativa é algo visível e inquestionável, apesar de qualquer consideração que possa se fazer com o seu modo de levar a nova vida. K decidiu que a melhor forma de lidar com o que passou foi voltar a se relacionar de forma voraz com várias outras pessoas, desta vez, disposta a controlar toda e qualquer situação. Eu não sei até que ponto isso seja algo palpável para a maioria das mulheres que tenha passado pela mesma situação, mesmo não tendo nada de errado nisso. Não é uma questão de puritanismo, mas sim de coerência.

“Ali, enquanto ele a penetrava, determinou que nunca mais o sexo seria algo preso ao corpo, que nunca mais ela sentiria vergonha, que ela sempre transbordaria de sua pele, de seus contornos, e que todos os homens que a tocassem sentiriam o quanto é estupidamente excitante estar com uma mulher que se sente livre.”

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Estupro é um assunto muito sério e o debate está em foco no momento. A cultura do estupro está enraizada na nossa sociedade e o processo de educar as pessoas a verem isso como um ato errado que é, precisa ser gradativa. A situação é sempre complicada e a forma como cada mulher reage a isso é diferente. O acompanhamento psicológico e o olhar atento da família são muito importantes. O grande problema é que a maioria sequer relata o que sofreu, permanecendo durante toda a jornada guardando tudo aquilo que sente pra si. É preciso falar sobre isso, o processo de recuperação é gradativo e a forma como cada vítima vai encarar a situação mudará com cada caso.

Apesar de ser uma história fictícia, os assuntos abordados são definitivamente reais e importantes. Todo o machismo existente em nossa sociedade é posto como algo questionável, e é a forma com que Karina decide viver a vida, que reflete ainda mais essa verdade. Porém, ela também aponta, em sua própria forma, que podemos ser o que quisermos, e vemos vislumbres disso em todos os diálogos e textos colocados na narrativa.

EU ME POSSUO

Autor: Stella Florence

Editora: Panda Books

Ano de publicação: 2016

O fato de eu ter me sentido atraída por você, ter ido a sua casa, ter desejado transar com você, não significa que você poderia me violentar. Desejar um homem não é o mesmo que desejar ser estuprada por ele. Você disse que tem ido ao meu bar a fim de se desculpar por alguma má impressão que tenha deixado em mim. Você não deixou uma má impressão, Gustavo. Você cometeu um crime. Talvez agora você me pergunte porque eu não te denunciei já que afirmo que você é um criminoso…

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