Eu Sou a Lenda é do autor Richard Matheson e foi publicado pela editora Aleph em 2015.

Sobre o Livro

Robert Neville acredita estar sozinho no mundo. Uma praga atacou a humanidade e nos transformou em seres perigosos e violentos, deixando o mundo em um estado pós apocalíptico de caos. Tentando manter sua sanidade e sobrevivência, Neville se isolou.

Sua casa é sua fortaleza e lá ele inventa e aperfeiçoa tudo o que precisa. Além de tentar manter as criaturas que agora rondam a noite do lado de fora. Ele tem muito tempo livre, mas também tem muitos desafios. Ele precisa manter-se vivo, se alimentar, fazer as estruturas básicas funcionarem, conseguir água e, claro, buscar opções.

“Um homem pode se acostumar a qualquer coisa, se for obrigado a isso.”

É assim que em seu restrito mundo e sem contato com outros humanos, ele pesquisa e tenta achar explicações para o que aconteceu, e, quem sabe, uma cura. Mas o que são essas criaturas que rondam a noite? E por quanto tempo um ser humano consegue viver isolado sem perder a sanidade?


Minha Opinião

Meu primeiro contato com Eu Sou a Lenda foi a partir da adaptação cinematográfica que saiu em 2007, com protagonismo de Will Smith. Já se passando ai quase 10 anos, não me lembrava de todos os detalhes, porém, ao ler o livro algo ficou muito claro: o que mais há entre livro e filme são diferenças. Acho importante tirar isso do caminho para não frustrar nenhum dos lados envolvidos: aqueles que odeiam o filme e aqueles que o adoram, e para o livro o mesmo.

A segunda coisa que acho relevante apontar é que esse é um livro introspectivo, voltado para o interior da cabeça e da vida desse personagem. Porque, mesmo com uma narração em terceira pessoa, conseguimos manter uma aproximação enorme de Nivelle e de seus pensamentos.

“Até mesmo a tristeza mais profunda enfraquecia com o tempo, até mesmo o desespero mais agudo não cortava mais como antes. A maldição do torturado, pensou, é crescer acostumado até mesmo com o açoite.”

O que temos aqui é um homem isolado, que há um bom tempo não tem contato com outras pessoas. Por isso ele crê ser um dos últimos, se não o último sobrevivente de um acontecimento sem muita explicação. Algo se espalhou entre as pessoas e as transformou em criaturas da noite, sedentas e por vezes irracionais.

Neville sobrevive em sua casa tentando manter tudo funcionando da melhor forma possível, usando o dia para fazer suas buscas e sair de casa por uma curta distância para explorar. E, entre esses momentos, tenta achar uma lógica para essa realidade apocalíptica. Foi um vírus ou uma doença? Como se espalhou? O que causou?

Como ele tem bastante tempo em suas mãos, ele improvisa até um mini laboratório para observar amostras de sangue e, junto com seus muitos livros, pesquisar opções científicas que expliquem a situação atual. E, é ai que a posição de gênero desse livro se estabelece. Como é apresentada uma teoria “palpável e científica”, o livro sai da zona da distopia e se aproxima mais da Ficção Científica, ganhando também um tom mais sério.

Aqui vamos trabalhar o conceito de “vampirismo”, pois as pessoas infectadas apresentam várias características que se encaixam no perfil que conhecemos. Só saem a noite, tem aversão a alho e a objetos religiosos e são violentos. Esse conceito, apresentado da forma que é, tira um pouco da carga sobrenatural que isso sempre tem nas histórias e joga um novo olhar sobre o mito.

Outra coisa que entra aqui é um debate sobre religião e o poder de seus elementos. Há um questionamento sobre o porque da cruz e do crucifixo causarem o afastamento, e de como alguém veiculado a outra religião ou até mesmo ateu reagiria ou que elementos surtiriam o mesmo efeito. O peso está sobre o objeto ou sobre o que ele representa?

Como estamos com os olhos voltados para o protagonista, sentimos também toda a angústia do isolamento que ele vive e todas as questões que ele precisa lidar diariamente. A privação do contato humano e do sexo, a resistência toda à noite quando mulheres tentam atraí-lo para fora de casa, e os pensamentos atrelados que vem com tudo isso.

O livro é um acompanhamento do dia-a-dia de uma pessoa solitária e seu começo é bem lento. Há um longo caminho a ser percorrido até que a trama engrene e haja empolgação em descobrir o que virá a frente. Há algumas ligações sobre características do vampirismo que ele só se toca bem a frente, quando segundo todas as leituras que ele apontou ter feito, deveria ser algo óbvio. E essas pequenas coisas acabam por pesar no leitor.

O cachorro, que no filme tem um peso muito maior, aqui toma apenas um pequeno pedaço da história. É um momento sensível e triste, porém curto. O que também acaba por prejudicar a aproximação que temos com o personagem. Por ele ser sozinho, ele é fechado. E, por mais que estejamos conectados com ele, há pensamentos e ações que ainda ficam muito distantes do leitor.

Eu Sou a Lenda foi originalmente publicado em 1954 e acabou por se tornar quase um livro clássico do gênero. O filme com Will Smith não é a única adaptação com inspiração na história e há pelo menos mais outras duas, mais antigas. O livro é relativamente curto, e apesar da edição da Aleph ter boas páginas, grande parte delas é comporta por detalhes, ilustrações e a diagramação é bem espaçada. Essa edição nova também conta com um texto de apoio muito interessante no final, que linka os temas trabalhados pelo autor com a atualidade.

Pra mim a leitura de Eu Sou a Lenda não foi exatamente tudo o que eu esperava. O final é interessante, mas não deu aquele clique que eu estava esperando. É nele também que o nome do livro passa a fazer sentido, e que conhecemos novas facetas da história. É uma daquelas tramas que sabemos não conheceremos o “depois”, mas temos uma curiosidade aguçada por ele.

Para quem ainda não leu o livro ou viu o filme, acho que é uma boa opção conhecer ambos os pontos de abordagem da obra, bem como a forma original como ela foi concebida. O autor morreu em 2013 e deixou outros títulos para a posteridade, para aqueles que tiverem interesse em desbravar mais de suas histórias.

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EU SOU A LENDA

Autor: Richard Matheson

Editora: Aleph

Ano de publicação: 2015

Uma impiedosa praga assola o mundo, transformando cada homem, mulher e criança do planeta em algo digno dos pesadelos mais sombrios. Nesse cenário pós-apocalíptico, tomado por criaturas da noite sedentas de sangue, Robert Neville pode ser o último homem na Terra. Ele passa seus dias em busca de comida e suprimentos, lutando para manter-se vivo (e são). Mas os infectados espreitam pelas sombras, observando até o menor de seus movimentos, à espera de qualquer passo em falso… Eu sou a lenda, é considerado um dos maiores clássicos do horror e da ficção científica, tendo sido adaptado para o cinema três vezes.

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