Filha das Trevas é o primeiro livro da Saga da Conquistadora, da autora Kiersten White. O lançamento é de 2017 da Plataforma 21.

Sobre o Livro

Ladislav Dragwlya, ou apenas Lada, nasceu filha de Vlad Dracul, o voivoda da Valáquia e irmão daquele que comandava o território. Como um homem que anseia pelo poder, Vlad almeja a posição do irmão e, claro, filhos homens para carregar seu legado. Com o nascimento de Lada, não há nenhuma satisfação na relação, mas um imenso desejo da menina de provar o seu valor ao pai.

Para tal, ela vai tentar ao máximo possível se aproximar do que um garoto faria, diria ou aprenderia, mas isso pode não ser o suficiente. Em 1435, tudo o que uma jovem garota deve fazer é aprender a se portar como uma dama e preparar-se para o casamento e, mesmo que ela saiba manejar uma espada ou consiga ir de um lugar ao outro sem ser vista, o que os homens veem ao olhar pra ela, quando a enxergam, é apenas uma menina.

“Ele jamais imaginara que suas sementes pudessem ser fracas o bastante para produzir uma garota.”

Com a sombra do irmão mais novo Radu e a vontade de trilhar seu caminho, Lada ficará cada vez mais forte e fechada em si, até que sua vida toma um rumo inesperado e ela terá que se adaptar a uma realidade onde ela é ainda menos do que antes, e onde precisará conquistar o seu espaço de uma forma diferente, com novo aliados. Em um jogo político de domínio, religião e traição, a lealdade a seus valores e sua inteligência podem ser tudo o que ela precisa pra conseguir o que quer.


Minha Opinião

Eu estava de olho nesse livro bem antes de ele ser anunciado no Brasil e fiquei bem empolgada quando vi que a Plataforma 21 estaria fazendo a publicação. Filha das Trevas, ou And I Darken em seu título em inglês, se baseia em fatos históricos para reconstruir uma trama que, com a devida licença poética de criação, apresenta personagens e momentos importantes para a Valáquia, os Saxões e o Império Otomano.

Recriando em cima de Vlad, o Empalador e Mehmed, o Conquistador, Kiersten White muda o sexo do primeiro para nos presentear com Lada, e sua incrível jornada em se tornar alguém com renome em um mundo onde mulheres não tinham voz ou querer. Se passando nos anos 1400 e começando na infância dos personagens, época onde historicamente muito pouco foi documentado sobre em quem se baseiam, White também tem mais liberdade para dar solidez à trama ao criar os pilares das relações e da construção de cada um.

A trama possui uma aura sombria que sempre permeia essa época, e se passando em parte na Transilvânia, adquire um charme ainda maior. Há um “Q” de conflito iminente, num momento histórico onde o Império Otomano estava o tempo todo em alerta e com altos objetivos de expansão, montando estratégias e golpes ao lado de seus aliados. Essa ambientação impõe ao leitor uma imersão na época e, dando as devidas proporções, me lembrou um pouco a obra de Mark Lawrence em sua essência, com uma personagem, a princípio, pouco sentimental, em um momento à beira do caos e do conflito.

“Enquanto Lada era como a grama resistente que crescia em meio às frestas de uma superfície seca e rochosa, Radu era como uma flor delicada que só desabrochava em condições absolutamente perfeitas.”

Lada é uma personagem atípica da sua posição e do que se espera dela. Ela queria ter nascido homem, queria o afeto do pai, o reconhecimento. Por ser mulher tudo isso lhe é negado, mas ela em sua resiliência prefere romper regras e padrões e arriscar os olhares esguios e de mal gosto sobre si, do que se curvar aos padrões femininos da época. Mesmo muito jovem, é uma guerreira e não abrirá mão disso com facilidade.

Um livro com uma personagem nessa posição não é mais novidade pra mim. Cada vez mais tenho pego protagonistas mulheres que se destacam ou tem essa vibe “Arya” de não querer seguir o papel da “lady”. Então, o que dá o sabor aqui? O contexto histórico em que o livro está envolto e o fato de a pessoa em que ela se baseia era um homem. Há uma incerteza no ar sobre saber se Lada vai se tornar a mesma pessoa que sua inspiração se tornou. Afinal, a jornada de uma mulher, mesmo em sua dureza, envolve um pouco mais do que a de um homem nascido para aquilo.

Lada é fechada e fria. Ela acredita que expressar sentimento a diminui e isso, claro, prejudica sua relação com outras pessoas. Seu irmão, Radu, personalidade que na história real teve muito pouco destaque e aqui tem mais voz, é algo que lhe incomoda, pois ele é quem ela deveria ser, mas não. Radu é mais frágil e sensível e em seus momentos, é possível ver o carinho que há entre eles mesmo com o que os separa. Além disso ela consegue ser cruel, mas não apenas da boca pra fora, há atos e vemos Lada em ação.

“A vida sem expectativas era fria e solitária.”

A inserção de outros personagens e da complicação da trama pela mudança de cenário nos joga dentro de uma cultura diferenciada. No Império Otomano quem governa é o Sultão, ele possui seu harém e toda essa configuração era novidade pra mim. Eu já tinha lido coisas relacionadas as Mil e Uma Noites, mas nunca focado em realmente apresentar como funcionava todo esse sistema, as sucessões políticas de poder ou importância que as mulheres do Sultão poderiam ter. Foi tudo novidade e extremamente instigante. Eu não só queria saber mais sobre a história, mas também sobre a cultura, sobre como as coisas funcionavam naquele cenário mais antigo e diferente.

Acho que esse acaba sendo um dos fatores mais empolgantes do livro: a descoberta. Eu sou fascinada por tramas com background histórico, então sempre que encontro uma do jeito que eu gosto, envolvendo um mundo mais medieval e tramas políticas, eu fico empolgadíssima com a narrativa.

As primeira páginas podem ser um pouco mais lentas, mas como todo livro desse estilo é preciso um pouco de ambientação antes da leitura fluir. Como li uma cópia antecipada, não tenho como atestar sobre a edição final, mas acabei por gostar dessa capa escolhida como nacional, mesmo tendo conhecido o livro por sua outra versão, que possui a personagem na capa.

Filha das Trevas é o primeiro livro da Saga da Conquistadora, com uma história empolgante e sombria sobre uma era de batalhas por território e imponência de religião. É um livro para nos apaixonarmos e odiarmos os personagens em suas atitudes e instintos. É uma trama sem grande surpresas, mas que dá seus ápices em escolhas feitas em momentos difíceis e que vão contra o consenso geral. É acompanhar uma personagem em sua jornada, quando já sabemos que ela será árdua. Já estou ansiosa por Now I Rise e pela continuação dessa história.

FILHA DAS TREVAS

Autor: Kiersten White

Editora: Plataforma 21

Ano de publicação: 2017

Lada Dragwlya e o irmão mais novo, Radu, foram arrancados de seu lar em Valáquia e abandonados pelo pai – o famigerado Vlad Dracul – para crescer na corte otomana. Desde então, Lada aprendeu que a chave para a sobrevivência é não seguir as regras. E, com uma espada invisível ameaçando os irmãos a cada passo, eles são obrigados a agir como peças de um jogo: a mesma linhagem que os torna nobres também os torna alvo.
Lada despreza os otomanos. Em silêncio, planeja o retorno a Valáquia para reclamar aquilo que é seu. Radu, por outro lado, quer apenas se sentir seguro, seja onde for. E quando eles conhecem Mehmed, o audacioso e solitário filho do sultão, Radu acredita ter encontrado uma amizade verdadeira – e Lada vislumbra alguém que, por fim, parece merecedor de sua devoção. Mas Mehmed é herdeiro do mesmo império contra o qual Lada jurou vingança – e que Radu tomou como lar. Juntos, Lada, Radu e Mehmed formam um tóxico e inebriante triângulo que tensiona ao limite os laços do amor e da lealdade.

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