A Magia da Raposa é o primeiro livro da trilogia Foxcraft, da autora Inbali Iserles. É um lançamento de 2017 pelo selo Rocco Jovens Leitores.

SOBRE O LIVRO

Num lugar conhecido como Matão vive em harmonia uma pequena família de raposas selvagens. Os dois filhotes, Pirie e Isla, são irmãos inseparáveis e brincam o tempo todo nos arredores. Mas um dia, enquanto Isla saltitava no meio da grama e de pequenos arbustos, sua família é atacada por um bando de raposas estranhas e perigosas. Todo mundo desapareceu, e quando o bando percebe que só restou ela, começam a persegui-la.

Forçada a fugir da segurança do matão para sobreviver, Isla vai para um dos locais mais perigosos de todos: o Grande Grunhido, onde sem-pelos e esmagadores habitam e rosnam o tempo todo. Mas ela não tem muita escolha, já que se ficar para trás será morta pelas outras raposas perigosas. Tendo que passar fome, medo e frio nesse ambiente cinza, Isla irá conhecer a dura realidade de outros animais que são mantidos pelos sem-pelo.

“O canal da morte podia ficar quieto e silencioso em um dado momento, mas essa era só mais uma armadilha dos sem-pelos.”

Será também no Grande Grunhido que, após algumas noites, conhecerá Siffrim, uma raposa que se diz mensageira dos Anciãos, uma antiga sociedade secreta que mantém viva a magia da Foxcraft, uma arte milenar que Isla nunca ouvira falar. Siffrim precisa da ajuda de Pirie, mas ao saber que ele desapareceu, decide ajudar Isla em sua busca pela família. Enquanto ela vai entendendo e aprendendo mais sobre a Foxcraft, alguns segredos vão surgindo e a pequena raposinha vai suspeitando que seu novo amigo não é quem diz ser. Agora, acreditando apenas nos seus instintos, ela vai precisar decidir se pode ou não confiar em Siffrim e descobrir o que de fato aconteceu com seus familiares.


MINHA OPINIÃO

Quando soube deste livro, fiquei bastante curioso para descobrir o que era a magia da raposa e, principalmente, como era esse mundo fantástico protagonizado por animais. E já adianto que Foxcraft se mostrou uma leitura leve, envolvente e muito gostosa, além claro, de trazer uma das personagens mais queridinhas que já tive contato.

A construção do mundo dentro da história também foi algo que me chamou muito a atenção. Aqui, temos definições próprias criadas pelos animais para se referir aos humanos, aos carros, aos outros animais, etc. Por exemplo, os humanos são chamados de sem-pelos, e que controlam grandes bestas chamadas de esmagadores (carros), que “rosnam” dia e noite pelo Canal da Morte (ruas). O Grande Grunhido (cidade) é onde todos moram, e para as raposas, principalmente, este é um lugar de enormes perigos. Mas há um lugar seguro, conhecido como Matão, que é onde a protagonista morava com sua família.

Além dos termos próprios, há também sociedades secretas e gangues nesse mundo. A sociedade secreta dos Anciãos é a mais antiga e sábia delas, mantendo viva as técnicas e artes da Foxcraft, a magia usada por raposas. Siffrim é um mensageiro dessa sociedade e vai ensinar algumas técnicas da Foxcraft para Isla poder se cuidar melhor. Há também os que são obsessivos por poder e controle, como os fieis à Karka, uma perigosa e velha raposa de sangue frio e principal vilã deste primeiro livro. Achei interessante, inclusive, que as raposas só conseguem entender e se comunicar com animais que compartilham do mesmo ancestral. Ou seja, lobos, cães e raposas conseguem se comunicar entre si já que tem os mesmo ancestral em comum, mas uma comunicação com um gato é algo praticamente impossível.

“Raiva e medo haviam desaparecido. Agora eu só sentia pena do lobo. Ele não perseguia ratos, nem comia o que os sem-pelo jogavam fora. Tinha dentes maiores e unhas mais afiadas que as minhas. Era maior e mais forte que qualquer raposa, qualquer cachorro. Mas, mesmo assim, era um prisioneiro, enquanto eu era livre.”

Isla é uma raposinha encantadora. Toda a trama é contada sob a perspectiva dela e conforme vai narrando os eventos, vamos acompanhando sua evolução. Já de início vemos que Isla é curiosa, extrovertida e muito, mas muito amável. Sua relação com o irmão, Pirie é muito forte, e eles eram inseparáveis. Ela é também ingênua em relação aos verdadeiros perigos que há nas proximidades de sua toca. Apesar de várias vezes seus pais a alertarem para não ir muito longe de casa, todos os dias a personagem encontrava formas de explorar cada vez mais o espaço a sua volta.

Quando está tendo que sobreviver na cidade, veremos a personagem evoluir bastante. Aquela raposinha ingênua e inocente do começo vai dando espaço para uma raposa mais esperta, cautelosa e determinada. Sua convicção em encontrar a família a fará manter a sanidade e também é o que a fará aguentar todas as dificuldades que aparecem de cabeça erguida. Ela poderia simplesmente desistir de tudo, abater-se, entregar-se ao destino, mas não. Ela sabe que em algum lugar seus pais a estão esperando e aconteça o que acontecer, ela quer encontrá-los.

“Eu rosnei e lambi meu irmão de volta, fazendo cócegas em sua barriga até ele ganir e virar o corpo para o lado, rolando no chão enquanto eu subia em suas costas.”

À primeira vista pode parecer uma simples história de uma raposinha vivendo pequenas aventuras, mas vai além disso. De forma bem sutil, mas ao mesmo tempo bem na cara, há críticas sobre as nossas atitudes, sobre como nos comportamos e sobre o que somos. Conforme Isla nos apresenta, é um tanto quanto chocante pensar que nós, humanos, sentimos prazer em ver outros animais enjaulados, quando estes deveriam estar livres pela natureza. Também refletimos sobre como nos comportamos na sociedade. A personagem questiona como muito humanos podem viver felizes dentro de suas “tocas” enquanto há outros vivendo na rua ou sem família, amigos, aconchego. Querendo ou não, isso acontece o tempo todo em diversas cidades.

E há também as críticas boas, aquelas que nos motivam e nos dão alegria. Acompanhar Isla em sua busca pela família nos faz perceber o quão importante é termos determinação e fé de que algo é possível. Dificuldades sempre vão surgir, mas vai depender da nossa força de vontade em não desistir. A protagonista era filhote, não conhecia o mundo que a cercava, mas nem mesmo isso foi capaz de abalar o seu coração.

“O Grande Grunhido era um labirinto encardido de cercas e passagens sem saída ,de redes e cabos afiados como garras. Os sem-pelo gostavam de suas paredes.”

Eu fiquei apaixonado por essa história e só não a tornei favorita pois há umas pequenas contradições. Por ser uma filhote, há muitas coisas que Isla não conhece e não sabe o que significam. Porém, houve algumas vezes em que ela se mostrava muito esperta e detinha de conhecimento de coisas humanas que, dada a sua personagem, não poderia saber, como por exemplo, o que era a palavra ‘jaula’. Ela sempre viveu no matão, cresceu pura e inocente de tudo, como poderia conhecer o que é uma jaula enquanto descrevia um carro como sendo um “esmagador”? Um pequeno deslize da história, mas que não tira o mérito da aventura.

A edição está muito caprichada, há um mapa no livro que mostra todos os locais onde a história acontece (e irá acontecer) e também há, no início de cada capítulo, uma ilustração simples, como se fosse uma cena da trama. A capa também está muito bonita e decorada, e de longe é uma das coisas que mais me fizeram sentir interesse pela obra. A leitura flui tranquilamente, pois o tamanho da fonte é grande e a diagramação está muito adequada.

Foxcraft foi uma surpresa muito agradável e já quero logo a continuação. O mundo criado pela autora é rico e grande, e explorar esses lugares com a Isla é uma grande aventura. Sem dúvida é um livro que indico pra todas as faixas etárias, já que os conceitos e críticas presentes são simples de serem absorvidos e interpretados, além, é claro, de ser uma leitura aconchegante e que desperta bastante emoção.

FOXCRAFT: A MAGIA DA RAPOSA

Autor: Inbali Iserles

Editora: Rocco Jovens Leitores

Ano de publicação: 2017

Isla e seu irmão, Pirie, são duas raposas filhotes que vivem nos limites das terras dos sem-pelo – os humanos. A vida de uma raposa é cheia de perigos, mas Isla começa a aprender habilidades misteriosas para sobreviver. Então, o impensável acontece. Um dia, ao retornar para sua toca, Isla a encontra em chamas e cercada por raposas estranhas. E sua família não está em lugar nenhum. Forçada a fugir, ela escapa para o frio e cinza mundo dos sem-pelo. Agora, Isla terá que se guiar nesse lugar desorientador e mortal, ao mesmo tempo em que é caçada por um inimigo cruel. Para sobreviver, ela precisará dominar a antiga arte das raposas – poderes mágicos conhecidos apenas por elas. Para achar sua família, Isla terá que desvendar os segredos da Foxcraft.

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