A Fúria e a Aurora é da autora Renée Ahdieh, uma fantasia inspirada no clássico das Mil e Uma Noites. O livro é lançamento da Globo Alt de 2016.

Sobre o livro

Khorasan é governada por um jovem Rei e pela tragédia que se segue toda vez que a aurora alcança o céu. O califa desse reino casa-se repetidamente com jovens bonitas, mas nenhuma delas sobrevive mais que um dia, sendo assassinadas ao nascer do sol sem nenhuma explicação. Uma dessas jovens foi Shiva, amiga de Sherazade, uma jovem com personalidade marcante e um desejo vívido de vingança.

Tentando alcançar seu objetivo ela se candidata para ser uma das noivas de Khalid e, quando ele lhe visita na suposta “noite de núpcias”, começa a contar-lhe uma história que não chega ao fim antes da aurora. Vendo que ele se manteve interessado ela pede o direito à sobrevivência por mais um dia, para que possa finalizar a história na noite seguinte. Pela primeira vez desde que ele se tornou Rei, o jovem cede à tradição e deixa que Sherazade viva.

“Uma centena de vidas por aquela que você tirou. Uma vida a cada aurora. Se você falhar uma única vez, eu lhe arrancarei seus sonhos. Vou tirar sua cidade de você. E lhe subtrairei vidas, milhares de vezes.”

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Com essa oportunidade em mãos, agora cabe a ela descobrir qual é o segredo que cerca esse homem e porque ele mata as jovens repetidamente. Mas, mais importante do que isso, é conseguir vingar a amiga e cumprir sua missão principal. Entretanto, isso pode se provar ainda mais difícil conforme a convivência com esse jovem, seu inimigo, se dá, proporcionando a ela uma visão muito diferente do que ela pensou sobre ele. Khalid não é alguém insensível ou sanguinário, até pelo contrário. Então, o que ele esconde? O que faz com que a todo nascer do sol ele cometa a atrocidade de assassinar uma jovem inocente?

E, entre os muros do castelo uma ameaça se forma, já que ela estar viva compromete o que vinha sido feito até em então. Por outro lado, parte do povo começa a ver no ato do jovem Rei esperança de que os tempos mudaram. Mas é nas beiradas do reino que uma rebelião pode estar se formando, comandada por Tariq, jovem filho de um dos grandes Emirs e enamorado de Sherazade. Movido pelo amor, mas também pelo desejo de depor um Rei que muitos desprezam, ele se alia a forças que talvez não seja capaz de controlar ou entender.

Minha opinião

Eu estava aguardando esse lançamento já a alguns meses devido ao buzz que rolou entre o pessoal gringo quando o livro fui publicado pela primeira vez. Eu não conheço em detalhes a história das Mil e Uma Noite mas tenho por cima uma noção do que se passa nela, podendo então fazer todas as ligações necessárias de semelhança que as duas histórias possuem.

Acho que o mais importante para começar a esclarecer é que esse é um livro de fantasia sobre uma história de amor. Há intrigas políticas, guerra, profecias, magia, mas o foco é no relacionamento entre esse Rei cruel, que se mostra muito mais amável do que jamais imaginado, e a jovem ousada que se oferece para ser sua preza, e que consegue abrir uma brecha em seu coração. Eu, que não sou muito fã de romance, sempre que me proponho a ler algo em que sei que esse será o foco, vou de coração aberto. Ao contrário dos casos em que o romance rouba a cena em histórias onde ele deveria estar apenas sendo usado com elemento complementar.

Sherazade, como já mencionei, tem uma personalidade forte e pôs na cabeça que pode conseguir vingança pela morte da amiga. Como? Ela ainda não sabe, mas antes de tudo ela precisa estar em contato com Khalid e sobreviver dia após dia até encontrar uma brecha para matá-lo e descobrir o maior número de segredos possíveis. Porém, a tarefa se mostra mais complexa do que o imaginado, quando esse jovem que ela deveria odiar não é o monstro que transparece através de seus atos. O conflito na mente da personagem é palpável e completamente entendível. Ela não esperava por isso, assim como não esperava que a razão de isso acontecer é a que é, mudando grande parte de sua visão sobre seus planos ou o que é o certo de se fazer.

“Na minha vida, a coisa mais importante que aprendi é que ninguém alcança a plenitude de seu potencial sem o amor dos outros. Não fomos feitos para ser solitários.”

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Na outra ponta temos Khalid descobrindo algo novo e indo contra todos os seus instintos com a jovem. Ele sabe as consequências que deixar ela viver pode ter, mas resolve arriscar porque vê nela algo a mais. Quando ele toma essa decisão algo dentro dele muda e começa a se abrir novamente para a vida. Por mais que ele mantenha a cara fechada pela maior parte do livro é possível ver que ele fraqueja em alguns momentos, mostrando sua verdadeira personalidade, hoje soterrada pelos fardos que carrega.

O contraste dos dois é explosivo e há muita tensão entre eles, no convívio e nos duelos verbais. Ele não entende porque ela se voluntariou ou o que ela quer, e ela precisa descobrir qual o seu segredo. O fato de haver pessoas querendo que ela morra para não correrem o risco de algo ruim acontecer eleva ainda mais o nível de insegurança dos personagens.

Mas, há uma terceira peça nesse tabuleiro. Tariq era o amor de Sherazade e ela o deixou pelo desejo de vingança, mas ele não aceitou isso bem. Ele parte então, em nome de toda a honra que tem, em busca de acabar com o Rei e resgatar sua amada. Porém, por mais bem intencionado que ele seja, pra mim pareceu muito difícil me apegar a ele e torcer que ele obtivesse sucesso em sua jornada. Me peguei durante todo o livro torcendo para uma reviravolta entre Sherazade e Khalid e não dando muita importância para aqueles que caminhavam junto a Tariq, mesmo ele sendo um personagem correto e íntegro. É aquela velha história, a gente sempre torce pro cara errado.

“- Quando eu era uma garotinha em Tebas, lembro-me de ter perguntado para minha mãe o que era o céu. E ela respondeu: ‘Um coração onde o amor duela’. É claro que então eu perguntei o que era o inferno. E ela me olhou bem nos olhos e disse: ‘Um amor sem coração’.”

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Algo legal de se mencionar é que não há grandes explicações sobre como esse mundo funciona ou quais são os princípios da magia que existe nele. A primeira sensação é de dúvida mas eu acho que ela ajuda a dar o tom na história. Não saber exatamente o que está acontecendo ou o quais são exatamente as regras do jogo faz parte da experiência de leitura, já que nem mesmo os personagens parecem ter total conhecimento sobre como a magia opera entre eles.

Acho que a única coisa que ficou vaga pra mim foi o porque ela acreditou tanto que conseguira sobreviver. Era somente por causa da história? Me pareceu um argumento fraco, mesmo que tenha dado certo. Outra coisa diz respeito a capa. Achava a internacional tão mais bonita que não entendi a mudança tão drástica. Não ficou feia, mas parece um livro da Jojo Moyes e não tanto de fantasia, tanto que eu só reconheci que esse era o livro que eu estava esperando o lançamento quando me toquei do nome da autora, porque até então não tinha feito nenhuma relação. Mas de resto a edição está super caprichada, como já é de praxe da Globo Livros/Globo Alt.

Eu não sei qual seria a minha postura no lugar da Sherazade, na posição que ela ficou é difícil julgar, mas acabei gostando tanto dela quanto do Khalid e não vejo a hora de seguir acompanhando, já que o livro termina em um ponto muito crítico, que reposiciona todas as peças do jogo em um novo cenário, possibilitando um desenrolar da história completamente inesperado para o próximo volume. E, mesmo sendo um romance e os personagens jovens, não há tanto mimi quanto o esperado.

O 2º livro já saiu lá fora e ainda não há previsão para o lançamento de The Rose and the Dagger por aqui, mas deve acontecer somente em 2017. Então, se você gosta de romance e quer experimentar uma fantasia ou já é fã de fantasia e quer algo que tenha um enfoque mais profundo no romance, fica aqui a indicação de A Fúria e a Aurora.

A FÚRIA E A AURORA

Autor: Renée Ahdieh

Editora: Globo Alt

Ano de publicação: 2016

A jovem Sherazade se candidata ao posto de noiva de Khalid Ibn Al-Rashid, o rei de Khorasan, de 18 anos de idade, considerado um monstro pelos moradores da cidade por ele governada. Casando-se todos os dias com uma mulher diferente, o califa degola as eleitas a cada amanhecer. Depois de uma fila de garotas assassinadas no castelo, e inúmeras famílias desoladas, Sherazade perde uma de suas melhores amigas, Shiva, uma das vítimas fatais de Khalid. Em nome da forte amizade entre ambas, Sherazade planeja uma vingança para colocar fim às atrocidades do atual reinado.
Noite após noite, Sherazade seduz o rei, tecendo histórias que encantam e que garantem sua sobrevivência, embora saiba que cada aurora pode ser a sua última. De maneira inesperada, no entanto, passa a enxergar outras situações e realidades nas quais vive um rei com um coração atormentado. Apaixonada, a heroína da história entra em conflito ao encarar seu próprio arrebatamento como uma traição imperdoável à amiga.

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