George é a transformação da sensibilidade em páginas.

De autoria de Alex Gino, o livro é o novo lançamento de literatura LGBT da Galera Júnior.

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SOBRE O LIVRO

George passa seus dias como uma criança norte-americana comum: vai à escola, faz seus deveres, convive com sua mãe e seu irmão, se diverte lendo livros e revistas. Poderíamos descrever George fisicamente de forma simples: não tão grande, mas também não tão pequena. Cabelo curto e castanho, roupas masculinas simples e um olhar infantil. Porém, George não é comum (nem um pouco!). Para início de conversa, George não é um garoto – apesar de ter um pênis. George é uma garota, mas ninguém além dela sabe disso ainda.

No curto livro de Alex Gino, somos transportados para o doce olhar de uma criança transexual na escola por breves 140 páginas. Tudo começa quando a professora anuncia a abertura da seleção para a peça de teatro anual da escola; e George já sabe qual personagem ele quer interpretar: Charlotte, a aranha inteligente e tocante que dá conselhos a todos, a voz da razão da peça; e – por fim, mas muito mais importante – Charlotte é uma garota.

“- Você ainda quer participar da peça comigo, não quer?
George queria participar da peça. Mais do que qualquer coisa. Mas não queria ser um porco fedido. Queria ser Charlotte, a aranha gentil e sábia, mesmo sendo um papel de garota. Sua boca estava aberta, mas ela não conseguia falar.”

Recheada de dúvidas, George caminha entre os binarismos de gênero em uma inspiradora narrativa sobre o cotidiano do seu ser, que não se encaixa em nenhum espaço. Nesse livro, vemos de perto – e com extrema sensibilidade – as dificuldades (e também as alegrias!) de ser tão complexo como George.


MINHA OPINIÃO

É difícil sintetizar uma opinião sobre esse livro, por dois motivos principais. Em primeiro lugar, ele é extremamente curto. Com suas singelas 140 páginas, o livro pode ser lido em duas ou três horas (no máximo!). Assim, é difícil não dar (os famigerados) spoilers. Algumas resenhas, inclusive, dizem que o livro deveria ser maior, porque ele deveria ser mais desenvolvido. No entanto, discordo totalmente: o livro captura perfeitamente momentos da vida da nossa personagem, e não uma narrativa completa de dor, sofrimento e alegria. Em segundo lugar, trata-se de um tema extremamente sensível (especialmente para mim, enquanto LGBT), por tratar a transexualidade.

A categoria “Literatura LGBT” é uma das quais eu mais procuro e também mais incentivo no meu canal, mas confesso que foi a primeira vez que vi a transexualidade ser tratada de forma tão breve, mas ao mesmo tempo tão profunda. Com isso, digo que há, nos mínimos detalhes, potência para enxergar mais páginas a serem escritas por nós mesmos, em nossas mentes. E essa é a magia da escrita de Alex Gino. Portanto, longe de ser mal desenvolvida, a escrita está no ponto.

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Um dos pontos de principal destaque dessa obra – e que eu ainda não tinha visto nos livros LGBTs que li – é que Alex Gino se refere a George sempre como ela. Isso pode parecer confuso no início, mas faz um tremendo sentido: George não se tornará menina quando iniciar sua transição hormonal, George é menina, mesmo tendo o órgão genital masculino. Assim, penso que Gino faz uma grande brincadeira com as ideias de gênero em nossa mente, da mesma forma que Abgail Tarttelin faz em “Menino de Ouro”.

Nesse sentido, é muito interessante ver como o/a autor/a se descreve na orelha do livro: “Adora purpurina, sorvete, jardinagem, trocadilhos incríveis e histórias que refletem a diversidade e complexidade de estar vivo”. Aí temos uma nova brincadeira: Alex é um homem ou uma mulher? Se formos ao site dele, veremos que ele (estou usando “ele” genericamente) não define sua identidade de gênero, assim como também não divulga fotos suas. É uma brincadeira genial ou não é?

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Outro ponto que definitivamente precisa ser destacado é a forte presença de personagens secundários. Eles não têm grandes arcos de desenvolvimento por conta do tamanho da obra, mas trazem um brilho especial para o enredo. Kelly, a melhor amiga de George, é o alívio cômico da obra (assim como seu pai maluco, diga-se de passagem), assim como a mãe de George aprofunda o drama do enredo. Assim, intercalando as exibições dos personagens, Alex Gino consegue intercalar narrativas (do drama a comédia!) com extrema maestria. E mesmo quando George está sozinha, continuamos a ver o mundo da mesma forma que ela: um mundo onde ela não se encaixa, onde George ocupa sempre um não-lugar nos binarismos de gênero.

“George odiava o banheiro dos meninos. Era o pior lugar da escola. Ela odiava o cheiro de xixi e água sanitária e odiava os azulejos azuis na parede que só serviam para lembrar onde ela estava, como se os mictórios não tornassem óbvio o bastante. O local era todo feito para meninos e, quando os meninos entravam, eles gostavam de falar sobre o que tinham entre as pernas. George sempre tentava usar o banheiro quando ele estava vazio. Ela nunca bebia nos bebedouros da escola, mesmo se estivesse com sede, evitando assim sua ida ao local em alguns dias.”

George é, portanto, um must read da literatura LGBT. Assim como em “O Menino do Pijama Listrado”, somos convidados a ver a dureza e a injustiça do nosso mundo a partir da sensibilidade e da ingenuidade de uma criança de 10 anos. Não é à toa que o editor do livro é ninguém mais ninguém menos do que David Levithan! Definitivamente, recomendado para todos, mas especialmente para aqueles interessados nas sutilezas do mundo que nos rodeia – e que eventualmente nos sufoca.


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GEORGE

Autor: Alex Gino

Editora: Galera Júnior

Ano de publicação: 2016

Seja quem você é. Quando as pessoas olham para George, acham que veem um menino. Mas ela sabe que não é um menino. Sabe que é menina. George acha que terá que guardar esse segredo para sempre: ser uma menina presa em um corpo de menino. Até que sua professora anuncia que a turma irá encenar “A teia de Charlotte”, e George quer muito ser Charlotte, a aranha e protagonista da peça. Mas a professora diz que ela nem pode tentar o papel porque… é um menino. Com a ajuda de Kelly, sua melhor amiga, George elabora um plano. E depois que executá-lo todos saberão que ela pode ser Charlotte — e entenderão quem ela é de verdade também.

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