Guerra do Velho é uma ficção científica do autor John Scalzi, lançada no Brasil pela editora Aleph em 2016.

Sobre o Livro

Anos a nossa frente, a Terra já não se faz mais suficiente para comportar toda a população, e a humanidade já conseguiu desbravar o espaço. As viagens interplanetárias são uma realidade, e há colônias terráqueas em vários planetas. Porém, com isso também veio a descoberta de que há outras raças habitando o universo e, por muitas vezes, é preciso lutar com elas para tomar um território ou defender as colônias.

Na Terra, há um recrutamento constante para os velhos se juntem a guerra e ajudem a manter os lugares conquistados seguros. As Forças Coloniais de Defesa pedem o alistamento de todos aqueles que completarem 75 anos, dando-lhes a promessa de uma nova vida e de um novo objetivo.

“Contanto que eu não morra de verdade, vou viver.”

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John Perry acabou de atingir essa idade, sua mulher está morta, e ele não vê motivos porque não ir. Há vários anos eles deram juntos início ao processo, sendo examinados. Achando que dariam o passo juntos, agora ele está sozinho e pronto para partir. Ao deixar a Terra ele também abandona tudo o que é seu e sabe que jamais voltará pra cá. Ele servirá por um tempo determinado e, se sobreviver, será realocado para alguma colônia em outro planeta, sem jamais pisar na Terra novamente.

Porém, o que John não sabe é o que acontecerá com ele e que nova vida será essa que ele concordou viver. E, principalmente, chegou a hora de descobrir se todos os boatos sobre os alistamentos são verdade. Afinal, porque alistar velhos, se eles já estão fracos e perto da morte?


Minha Opinião

Ficção científica é um gênero que eu gosto bastante, mas confesso não ler o suficiente. 2016 em especial foi um ano em que li muito pouco do gênero, mas o que li se destacou. Eu não sabia muito ao certo o que esperar de Guerra do Velho, além de sua premissa inusitada: porque recrutar “jovens” de 75 anos? O que seria feito a eles que lhes daria o poder de lutar uma guerra? Seria uma decisão para preservar os jovens do planeta ou seriam nossos inimigos tão mais fracos?

Eis que não era nenhuma dessas opções e o livro foi uma surpresa atrás da outra. Essa é uma daquelas histórias muito bem costuradas e que vai desmembrando problemas ao longo da narrativa, sem trazer a verdade sobre um problema inicial somente no final, e isso é algo que eu gosto muito. É até estranho ver as coisas sendo jogadas no leitor com tanta facilidade, como se algo que esperávamos ter a resposta só no final, fosse algo corriqueiro a ser entregue antes da página 50 para cuidar da próxima pergunta.

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A estrutura tanto política quanto científica parece ter sido muito bem construída. Há vários debates sobre as possibilidades, sobre como certas coisas funcionam, e até explicações teóricas sobre acontecimentos a fatos espaciais. Por vezes até ficamos um pouco perdidos nisso, mas acredito que está ali para dar credibilidade ao fato de que um dia, em um futuro, poderemos sim estar viajando o espaço daquela forma.

As Forças Coloniais de Defesa, que é a organização que coordena tudo o que acontece no espaço, é independente do governo na Terra, parecendo responder a suas próprias leis e mantendo seu mistério. Uma das coisas que o protagonista questiona é nunca ter visto um real funcionário da organização, já que sempre alguém é recrutado para representá-los e falar por eles. São eles também que decidem que planetas atacar e como se comportar frente as inúmeras raças que são encontradas pelo espaço. E, a guerra é sempre a resposta.

“Meu fuzil, sem mim, é inútil. Sem meu fuzil, eu sou inútil. Devo disparar meu fuzil com precisão. Devo atirar com mais firmeza que meu inimigo que está tentando me matar. Devo atirar antes que ele atire em mim. E vou.”

Essa é apenas uma das discussões importantes do livro: será que realmente precisávamos estar lutando, ou o diálogo e a busca por entendimento não seria uma opção melhor? Não há espaço pra isso, há apenas o desejo de tomar os planetas, dominar as outras raças pela força, porque tomamos todos os outros seres como ignorantes, como incapazes de nos compreender ou nossos sistemas. Diálogo, política, democracia, nada disso aos olhos do FCD parece ser possível com essas outras criaturas e, portanto, a eles a única opção viável é a guerra.

Além disso também há um debate moral sobre algumas coisas que acontecem no livro. O quanto o governo tem direito sobre nosso corpo? O que é permitido que eles façam com ele através de uma assinatura em um papel que sequer deixa claro o que está acontecendo e, por fim, todas as implicações que o simples fato de concordar em fazer parte disso tem para cada uma das pessoas que deixam a Terra. Será que eles permanecerão os mesmos ou perdão um pouco de si no processo que passarão?

A juventude, a importância e a imponência dela tem um papel tão importante no livro quanto os próprios personagens, que são aqui todos maduros. Não há problematização juvenil ou problemas comuns. São pessoas que já viveram uma vida inteira e agora abriram mão dela para embarcar no desconhecido, apenas acreditando na hipótese de que seriam melhorados, que essa organização lhe daria anos a mais, mais força, mais saúde, mais juventude.

Outra coisa legal é que nos confrontaremos com o possível fato de não sermos a raça mais inteligente do universo. Há tantos outros lá fora e certamente há aqueles que tem um domínio maior de conhecimento do que os humanos e isso é proposto no livro de forma muito inteligente e instigante.

“Nosso segundo problema é que, quando encontramos planetas adequados para colonização, com frequência são habitados por vida inteligente.”

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Todas estas questões estão no livro, porém não são só o que ele tem a nos apresentar, pois tão logo temos tempo de pensar sobre esses tópicos, nos vemos em meio a uma verdadeira guerra. Enfrentaremos outras raças com conflitos armados, haverá batalhas e a ação estará presente sim na obra. E esse é outro ponto importante: não foi preciso abrir mão do questionamento e da inserção de debates no livro, para que a ação e a trama de guerra fosse desenvolvida.

John Perry é um personagem muito interessante e sólido. Entendemos seus motivos para partir e compreendemos seu ser desde o começo do livro. Ele já vive bastante, mas também perdeu o amor de sua vida, portanto não há sentido de continuar. Para tal ele abre a mão de tudo e segue em frente com algo que ele e a mulher tinham concordado anos atrás em um pacto silencioso. Mas ele não seguirá sua jornada sozinho por muito tempo, já que assim que embarca para sua nova vida já faz amigos, um grupo diverso e divertido, onde cada um expressa motivos e expectativas diferentes para estar ali. E ele vai ir mudando ao longo do livro frente as novidades que lhe são apresentadas. O John do começo é muito diferente do John que termina o livro ou do que vemos no meio de tudo isso.

Vamos lidar com tecnologia avançada e não somente nossa. O universo está cheio de coisas diferentes e que nos surpreenderão. As raças trabalhadas também são diversas e passaremos brevemente por cada uma delas, saberemos um pouco mais como agem, seu comportamento e uma delas se mostrará fonte de muitos questionamentos que podem abalar um pouco as certezas que temos sobre sermos seres superiores ou com conhecimento amplo do mundo.

O autor teve com grande influência Tropas Estelares, de Robert A. Heinlein, um clássico da ficção científica. Além disso possui continuação e deixa o final tanto aberto quando fechado para o leitor. Você pode tirar suas conclusões e parar por aqui, ou escolher seguir em frente e desbravar ainda mais esse universo. Eu escolhi a segunda opção, com certeza. E, há notícias de que o canal SyFy estaria produzindo uma série de TV, chamada Ghost Brigades (elemento importante na segunda metade da trama), baseada no livro, e a Paramount já comprou os direitos para o cinema.

Guerra do Velho foi um dos melhores livros de 2016 e também uma bela surpresa. Não estava esperando me apaixonar por essa história da forma como aconteceu e, devo isso certamente ao fato da história caminhar por caminhos diferentes, sempre surpreendendo o leitor com twists e novas revelações que fazem com que tiremos um tempo para pensar sobre tudo o que está acontecendo.

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GUERRA DO VELHO

Autor: John Scalzi

Editora: Aleph

Ano de publicação: 2016

A humanidade finalmente chegou à era das viagens interestelares. A má notícia é que há poucos planetas habitáveis disponíveis – e muitos alienígenas lutando por eles. Para proteger a Terra e também conquistar novos territórios, a raça humana conta com tecnologias inovadoras e com a habilidade e a disposição das FCD – Forças Coloniais de Defesa. Mas, para se alistar, é necessário ter mais de 75 anos. John Perry vai aceitar esse desafio, e ele tem apenas uma vaga ideia do que pode esperar. “Guerra do Velho” é frequentemente comparado a um dos maiores clássicos da ficção científica: Tropas Estrelares, de Robert Heinlein.

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