A Hora das Bruxas I é o primeiro livro da série As Bruxas Mayfair da autora Anne Rice, lançado originalmente no Brasil em 1994 pela editora Rocco. Em 2009 as edições foram relançadas com uma repaginação e novas capas.

Sobre o Livro

Deirdre Mayfair é apenas uma sombra de mulher na sacada do casarão do Garden District em New Orleans. Todo mundo na cidade conhece a família Mayfair e sabem também a sua história. Desde muito nova ela teve episódios e passou por vários tratamentos psicológicos, até que a sete anos apenas definha lá sentada, todos os dias. Há vários anos ela deu à luz a uma menina, mas a tia Carlotta fez com que Deirdre desse a menina para uma prima adotar, tentando livrar a garota da maldição que certa essa família.

São 13 gerações de poderosas e amaldiçoadas mulheres, datadas de seu início há 400 anos atrás, no período da inquisição, quando Suzanne invocou Lasher pela primeira vez. Essa entidade que ninguém verdadeiramente conhece ou sabe a origem vem desde então passando de geração a geração sempre para a mais forte herdeira, escolhendo a dedo quem comandará os Mayfair. Ao longo dos anos essa família se criou, consolidou e enriqueceu e, a sombra de tudo que lhe aconteceu paira esse espectro.

Saídas da Escócia, para o Haiti e depois os Estados Unidos muitas foram as Bruxas e muitas as suas personalidades. Umas fortes que comandavam o espírito com proeza e lucraram dele o máximo possível, se tornando poderosas e consolidando o nome Mayfair, e outras fracas, que tiveram suas mentes destruídas e suas mortes anunciadas por esse mesmo ser.

“Não mandei o demônio se afastar quando ele me trouxe as flores. Eu queria mandar e sei que deveria ter mandado.”

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O que nunca mudou foi a presença de Lasher, uma líder mulher e o colar de esmeralda brasileira que orna o pescoço da herdeira da família, e que serve como um vínculo entre o ser e a mulher. Assim como os boatos, suspeitas de feitiçaria e o homem estranho que muitas vezes foi visto na companhia dessas mulheres. Elas prosperaram e, ao chegar aos Estados Unidos deixaram uma etapa sombria pra trás para construir outra. Hoje, vistas em decadência pela figura frágil de Deirdre, todas as lendas foram esquecidas e desconsideradas e, apenas transitam entre aqueles que sempre observaram a família.

Do outro lado do país, Michael Cury sobre um acidente e tem uma experiência pós morte, ao ressuscitar depois de minutos desacordado com um poder estranho. Agora ao tocar objetos ele é capaz de conhecer sua história e isso passa a atormentá-lo. Algo também o chama, e ele acredita que precisa voltar para New Orleans, onde cresceu. Mas antes ele quer tocar o convés do barco que o resgatou, para lembrar seus primeiros momentos de volta e tentar captar alguma coisa. Para isso ele precisa também reencontrar a mulher que o salvou.

Rowan Mayfair é uma brilhante neurocirurgiã que tem como hobby velejar, e foi ela quem achou o sr. curry desacordado no mar, o trazendo de volta. Ela ficou sabendo do “poder” que ele agora tem e concorda em recebe-lo. O que Rowan não sabe é que ela é a herdeira de uma linhagem centenária de Bruxas e que sua mãe está definhando cada dia mais rápido, estando todo esse legado prestes a bater à sua porta.


Minha Opinião

Falar sobre A Horas das Bruxas é algo muito especial pra mim. Essa foi a segunda releitura que fiz e já faziam mais de dez anos desde a última vez que tinha lido o livro. Não sei bem explicitar quando foi a primeira vez, mas acredito que tenha sido entre 12 e 13 anos e depois uma releitura aos 14/15. Nessa época eu não catalogava e hoje vejo o quanto isso faz falta. Toda a vez que eu comentava sobre esse livro no canal pediam pra eu falar sobre ele, porém, sem reler seria impossível.

A série das Bruxas Mayfair é a minha história favorita da Anne Rice e me marcou muito no inicio da minha vida enquanto leitora, portanto voltar novamente a esse mundo me trouxe muita nostalgia e serviu mais uma vez para mostrar por mesmo depois de tanto tempo ainda sou capaz de me apaixonar pela história e seus desdobramentos.

“A bruxa é uma pessoa que tem o poder de atrair e manipular forças invisíveis.”

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A primeira coisa que você precisa saber sobre esse livro é que a escrita na Anne Rice não é super fluída, mas a complexidade e grandeza na história compensa. Vamos remontar 400 anos que variam entre a narrativa contada por três pontos de vista e os arquivos do Talamasca, uma organização que cataloga eventos sobrenaturais e que esta observando essa linhagem a anos. Esses arquivos são compilados de cartas e relatos de informantes e alguns tem um caráter bem pessoal.

São datas, locais e desmembramentos familiares, é preciso ficar atento e ir montando a árvore genealógica mentalmente ou no papel, como eu gosto, para que cada vez mais a história ganhe corpo e sentido e isso pra mim é uma das coisas mais legais sobre esse livro. Não há fim no que pode ser descoberto, apenas mais e mais fragmentos sobre a vida dessa família.

Outra coisa super importante é que estamos falando de uma história adulta e em muitos aspectos pesada. Há violência, crimes, sexo, incesto e uma série de posturas questionáveis. Esse espírito é ardiloso e malandro e muitas das bruxas extremamente maliciosas. Há toda uma aura sobre essa família, inclusive as inúmeras alegações de que eles tinham um lado “Targaryen” e em alguns momentos se relacionaram com irmãos ou parentes muito próximos para gerarem descendentes mais fortes e uma bruxa mais pura e forte para a linhagem.

Há personagens de todas as idades pois cada uma das 13 bruxas tem uma história diferente a contar e viveu por um tempo diferente, mas a narrativa não é infantil e jamais adolescente e é importante ter isso em mente ao adentrar na história. Não há romances bobos, há os erros humanos, a busca pelo prazer, atos questionáveis, mortes, magia, atitudes duvidosas e um clima de mistério no ar.

As bruxas aqui apresentadas também não fazem poções ou possuem caldeirões, elas são mulheres comuns que através de sua ligação com essa entidade são capazes de fazer coisas acontecerem, influenciam acontecimentos, somem, aparecem e tramam de uma forma inexplicável a olho nu. Elas são sempre muito belas e com personalidades distintas. Tudo é muito sombrio e duvidoso, principalmente quando nossa fonte são os olhos limitados do Talamasca.


O que é o Talamasca?

Com o tema “Nós observamos e estamos sempre presentes”, essa organização se mantém a séculos observando e coletando informações sobre eventos sobrenaturais. É na inquisição, quando Suzanne, a primeira das Mayfair, é queimada na fogueira que eles tem o seu primeiro contato com essa linhagem e, desde então, tem observado o que aocntece. Em alguns momentos alguns dos observadores inclusive infringiram a regra de não interferir e a trama dessas mulheres acabou se emaranhando também com a da organização, causando não só uma maior fonte de informações como a perda de membros pelas mãos das bruxas ou se Lasher.

Mas não são somente essa família que eles acompanham, eles também observam e rastreiam qualquer outro tipo de evento ou pessoa que pareça ter algo de especial e, é assim que o Talamasca e Michael Cury vão se cruzar, já que toda a sua história também chamará a atenção da organização. E será nessa interação que poderemos ter acesso aos seus arquivos e desfrutar de todo o conhecimento coletado.


“O que eu sou? Uma bruxa, pelo amor de Deus! Sou quem cura, não quem destrói. Tenho chance de escolha como todos os seres humanos tem.”

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Tendo esclarecido isso, é preciso falar sobre a personalidade dos personagens. Rowan é uma pessoa fria que vê o mundo como algo simples, porém há muita coisa acontecendo na vida dela e ela está confusa, fazendo com que tudo o que sente seja amplificado. Ela sempre sentiu que poderia haver algo errado com ela, mas pôs isso de lado. Ela sabia que era adotada, sabia da promessa de Ellie, sua mãe adotiva, de nunca contar-lhe nada, e conviveu com isso de forma natural. Ela é inteligente, segura e bem sucedida, mas sabe que falta algo, sabe que há uma peça faltando em sua vida. Em função do distanciamento de sua personalidade é difícil sentir empatia por ela, apesar de compreendermos todos os conflitos de sua vida.

Já Micheal Cury é um chato. Conforme caminhava pelas páginas me lembrei do como achava o personagem irritante desde que li pela primeira vez. E é difícil explicar, porque ele soa como o homem perfeito. Ele era bem sucedido, com posses, bonito e inteligente, porém o acidente o mudou e ele começou a sentir pena de si mesmo e a ter uma vibes loucas de beber descontroladamente. Tudo isso meio que destoa e as partes em que ele é o foco no começo são as mais chatas aos meus olhos. Tenho uma leve lembrança que ele só piorará no próximo livro, mas vou aguardar pra ter certeza.

Além desses dois centrais também seremos apresentados as outras 12 Bruxas Mayfair antes de Rowan. Suas histórias virão em fragmentos e aos poucos conheceremos sobre sua jornada, história e claro, personalidade. Elas são bem distintas, umas são joviais e descontroladas, outras sérias e focadas, há também as amedrontadoras, as fracas e aquelas que esbanjam carisma e sensualidade. Da inquisição ao período escravista, a modernidade do fim dos anos 80 suas formas de ver e interagir com o mundo mudaram e cada uma delas possuem suas próprias peculiaridades.


Curiosidades

Entre os Mayfair para que um familiar seja contemplado com os benefícios da riqueza da família ele precisa manter o nome mesmo após casar. No momento em que você renuncia ao sobrenome Mayfair também renuncia a tudo que pode vir com ele.

esmeraldaApesar dos muitos descendentes homens foi sempre uma mulher quem comandou a família e ela era designada pela mãe. Há um relato que conta que a escolha viria de acordo com a filha que “visse o homem”. Sendo assim, parece que quem na verdade escolhe quem comandará é Lasher, através da manifestação para a jovem. Assim, a Mayfair  que comanda designa a herdeira e toda a fortuna, o colar de esmeralda e o próprio espírito passam para essa filha no ato da morte da mãe. Em alguns casos o espírito abandona a mãe pela filha com ela ainda viva e o controle muda de mãos de forma não oficial.

Há somente um homem que poderia ter tido influência sobre Lasher, que foi Julien. Ele foi irmão da 8ª Bruxa da linhagem, Katherine, que sempre demonstrou ser um pouco fraca. Com isso Julien pode ter tido Lasher como aliado e acabou se tornando o membro masculino da família a ter mais destaque.

Lasher por sua vez é um ser poderoso, cheio de recursos e muito ciumento com suas bruxas. Quando ele se mostra para os outros, é sempre descrito como um jovem bonito e usa muito da sedução para tentar ter controle sobre essas mulheres.

A linhagem Mayfair das 13 Bruxas é composta por: Suzzane, Deborah, Charlotte, Jeanne Louise, Angelique, Marie Claudette, Marguerite, Katherine, Mary Beth, Stella, Anta Marie, Deirdre e Rowan.


Em 2009 os livros foram relançados com novas capas e eu confesso que fiquei aliviada, pois as antigas eram horrorosas. As novas são se extremo bom gosto e com toda a certeza são mais convidativas ao leitor. Como já é costumeiro com a Rocco, temos páginas brancas e as narrativas são separadas por capítulos, delimitando também o que é a visão do personagem e o que é informação dos arquivos do Talamasca.

Para quem gosta do sobrenatural e de quebra-cabeças, A Hora das Bruxas é um livro excelente. Por mais que muitos anos tivessem se passado desde minha última leitura, o amor que tenho pela história não diminuiu e lamento que ela não seja tão conhecida aqui no Brasil. Anne Rice se destacou mais por seus vampiros, com Entrevista com o Vampiro e O Vampiro Lestat, e muitos sequer sabem que ela tem uma infinidade de livros publicados, incluindo essa história sobre Bruxas.

Para os bons fãs de feitiçaria, que curtem uma história concisa, bem escrita, inteligente e instigante, fica aqui uma recomendação. Esse provavelmente não é um livro que vá agradar a todos por ser cheio de detalhes e com uma leitura mais lenta, mas aposto que se você estiver disposto e curte esse estilo de narrativa, Anne Rice tem muito a te encantar com essa linhagem poderosa de Bruxas e esse ser misterioso que é Lasher.

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A HORA DAS BRUXAS I

Autor: Anne Rice

Editora: Rocco

Ano de publicação: 2009

Em ‘A Hora das Bruxas’, é narrada a saga de uma família que em quatro séculos vive entre feitiçaria e forças ocultas. A família Mayfair, é o ponto central de uma dinastia de bruxos, que cresceu e prosperou dedicando-se à magia negra. Entre os Mayfair, convive-se pacificamente com o incesto, os assassinatos e com o espírito meio divindade celta, meio demônio, chamado Lasher. O romance se desenrola cronologicamente para a frente e para trás, passando por Nova Orleans e São Francisco atuais e deslocando-se até o Haiti ou a um castelo na França de Luis XIV.

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