Horror na Colina Darrington é do autor Marcus Barcelos, lançado em 2016 pela Faro Editorial.

Sobre o Livro

Benjamin Francis Simon está em um sanatório, o ano é 2015 e ele resolve contar, pela primeira vez o que lhe aconteceu. Para tal, voltaremos mais de 10 anos, quando ele era apenas um jovem órfão de 16 anos que deixa o orfanato onde vivia para ir passar um tempo na casa dos tios, única família que ele tinha descoberto recentemente ter.

Sua tia está gravemente debilitada depois de um derrame, Amanda, a filha mais velha está na faculdade, o tio precisa trabalhar e a caçula, Carla, de apenas 5 anos precisa de atenção. E é para ajudar com os cuidados da prima nesse momento tão complicado que ele resolve passar um tempo com esse pedaço da família.

“Ele é a escuridão. E a escuridão está chegando.”

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Porém, um noite quando levantou para tomar água, encontrou sua prima sentada no topo da escada rindo. Ao questiona-la sobre onde havia tanta graça, ela menciona as caras e bocas que a menina com a trança no pescoço estava fazendo. Em um momento de choque ele se vê cara a cara com algo que não poderia estar verdadeiramente ali. Há uma jovem sendo enforcada e ele logo percebe a confusão na interpretação da garota. Tudo acontece muito rápido e, quando ele acorda no outro dia em sua cama, apenas pensa se não passou de um sonho.

Mas as estranhezas não param por ai e ele logo percebe que pode haver mais coisas acontecendo na casa, inclusive com sua tia que jaz imóvel na cama, sem reação. Rodeado por mistérios, Benjamin vai contar ao leitor o que aconteceu durante aquele curto período em 2004, que o fez parar em um sanatório, com um receio enorme de falar sobre o assunto.


Minha Opinião

Acho que a primeira coisa que salta aos olhos é o quanto a edição está bonita. Esse livro saiu primeiramente sob o selo Talentos da Literatura Brasileira da Novo Século e depois teve a compra dos direitos realizada pela editora Faro, o que certamente engrandeceu a publicação. Uma nova capa, uma edição com boa diagramação e recheada de ilustrações com cenas decisivas do livro, além da lateral das folhas em preto. A aura do livro já começa a ser construída através da sua edição. E o autor também informa que o texto ganhou ajustes e corpo, diferenciando-se do texto primeiramente publicado.

Aproveitei a edição nova então para conhecer o trabalho do autor Marcus Barcelos e, antes de tudo, preciso avisar que, mesmo sendo um tanto medrosa para coisas de terror, eu tendo a não “crer” nas coisas, o que prejudica bastante a experiência desse tipo de história pra mim. Minha opinião é de que, se o livro não for explicitamente assustador eu tenho mais chance de acreditar na história do que entrar sabendo da expectativa.

Tendo dito isso, já esclareço que apesar de ter curtido a história, não fui impactada pelo terror e em nenhum momento me senti apreensiva ou tensa. Coisa que acontece com livros que não se propõem exatamente a isso, como Caixa de Pássaros por exemplo. Ai, por si só já surge uma teoria: será que mesmo eu não me fazendo suscetível ao “encantamento” não seria uma prova real da qualidade da narrativa se ela me envolvesse mesmo assim? Não sei dizer e não quero por todo esse peso das costas de um livro só. Mas, certamente é algo a ser pensado.

“A paranoia golpeia profundamente.
Em sua vida rastejará.
Isto começa quando você vive com medo.
Saia fora da linha, o homem vem e o levará.”

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Começamos a trama já sabendo que algo muito ruim aconteceu no passado, pois nosso narrador e protagonista está enclausurado em um sanatório e se diz disposto, pela primeira vez, a contar o que acontecer a mais de dez anos atrás. E aqui, vale ressaltar que por vários momentos, imersa na leitura, esqueci desse detalhe e ficava tentado pensar o que aconteceria no final, mesmo que teoricamente eu já pudesse supor – o que é ótimo -.

Benjamin é um jovem que não tem pais, mas soube recentemente que possuir alguns membros na família. E é em nome desse laço que ele vai passar alguns dias na casa dos tios que estão passando por uma situação complicada. Não há enrolação ou artimanha. A história é curta e precisa ser contada, portanto não dá tempo de o personagem questionar os atos ou se fingir de bobo e isso é muito positivo, pois simplesmente elimina toda e qualquer enrolação.

Algo que eu sempre implico em histórias de terror ou que invocam fenômenos sobrenaturais é a dificuldade que as pessoas tem em acreditar que há algo acontecendo de estranho ao seu redor. E, em função disso, todo o drama acrescentado de forma por vezes desnecessária a trama, em seu começo, até que isso se resolva. Só de esse elemento não estar presente aqui, já faz o livro ganhar pontos extras.

Ben é um jovem esperto e logo de cara vemos ele se confrontando com uma situação inusitada. Há hesitação e dúvida, mas ele entra no problema já disposto a descobrir o que realmente está acontecendo e o que tudo aquilo significa. Isso faz do livro uma leitura rápida e as ilustrações ajudam a dar o tom e a situar o leitor quanto a cenário ou ordem visual das coisas.

“Seus olhos castanhos faiscavam. Ele exalava o mal.”

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Como eu falei, esse é um livro curto com apenas 140 páginas. Extraídas as ilustrações e páginas extras a coisa diminui ainda mais, proporcionando ao leitor o ato de encarar a leitura de uma vez só, estando preso a história até o fim. Considero isso uma vantagem, pois não há a chance de o clima se perder em uma pausa de um dia para o outro. A rapidez como tudo acontece tem o lado positivo, mas também tem o negativo.

Não sobra muito tempo para construir tensão ou clima. É muito mais ação e impacto do que normalmente os livros do gênero são e o peso disso provavelmente dependerá da expectativa do leitor. Como eu sabia que era um livro pequeno, imaginei que aconteceria dessa forma, porém confesso que acho que uma ambientação mais demorada para a criação da atmosfera é bem importante, principalmente para leitoras como eu, que acabam tendo dificuldade para crer em todo o tom sobrenatural da obra. Além disso dar densidade para a narrativa, também faz com que o leitor permaneça imerso na história com mais naturalidade, gerando uma distração de posições mais questionadoras, como a que eu tenho.

Fora isso, me parece que os personagens ficam um pouco rasos também, o que não gera identificação. Achei engraçado que sempre que eu fazia uma pergunta mental sobre a veracidade de alguns detalhes da trama, a resposta vinha logo em seguida, a apenas algumas páginas de distância. Por exemplo, sobre a gravidez de Tia Júlia e da idade da prima mais nova, já que a mulher tem uma idade avançada. Mas logo o autor introduz essa resposta e vai dando mais pistas ao leitor, sendo uma técnica de escrita que eu acho bem interessante.

Dentro os personagens, a que mais soou vazia pra mim foi Amanda. Eu questionei sua postura no começo e depois quando ela volta a tona, questiono a forma como lida com tudo, com um tom “conspiracionista e maduro” demais, gerando uma margem de dúvida. Sua posição no fim do livro também é questionável, mas conforme há um alerta ao fim das páginas, é possível que demos um passo a mais dentro da vida desses personagens com uma possível continuação.

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Eu gosto da proposta, dos personagens e de como a história foi conduzida, mas toda a explicação e o mix de coisas pareceu um pouco confuso em alguns aspectos, ao mesmo tempo em que, se a explicação fosse simples ou corriqueira, como tantos outros livros e filmes, talvez não houvesse nenhuma graça na história.

Acompanhar Benjamin em sua jornada para proteger a prima Carla, descobrir o que há de errado com a casa, o que são essas entidades se manifestando, como isso é possível e ainda refletir sobre a posição debilitada da tia e se isso é natural ou não, e ver tudo isso fluir sobre as páginas como uma onda. Não há espaço para trabalhar somente uma coisa e tudo vem misturado e interligado. O final é um misto de constatação e espera. Já sabemos onde Ben está e que foi essa noite que o levou até lá, mas os desdobramentos e o porque de sua estadia no sanatório são o que dão o toque a mais ou final e ao choque quando a constatação se materializa.

Esse foi meu primeiro contato com o autor e provavelmente veremos mais dele pela frente. Esse não é um gênero que tem muito destaque entre os autores nacionais, então acredito que se Barcelos resolver continuar nesse caminho, possa conquistar um espaço interessante no cenário nacional, já que os thrillers estão em alta e o seguimento de terror carece de boas alternativas.

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HORROR NA COLINA DARRINGTON

Autor: Marcus Barcelos

Editora: Faro Editorial

Ano de publicação: 2016

Em 2004, Benjamin Simons deixa o orfanato em que viveu desde a infância para ajudar alguns parentes num momento difícil: com sua tia debilitada e o tio trabalhando dia e noite, precisavam de alguém para tomar conta de sua prima Carla, de apenas cinco anos de idade.
No entanto, certa madrugada, a tranquilidade da colina de Darrington é interrompida por um estranho pesadelo, que vai tomando formas reais a cada minuto. Logo, Ben descobre-se preso numa casa que abriga mistérios, onde o inferno parece mais próximo e o mal possui uma força evidente.

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