A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil é da autora Becky Chambers, lançado no Brasil em 2017 pela editora Darkside, sob o selo Darklove.

Sobre o Livro

A nave Andarilha é uma perfuradora, e cria buracos no universo para que caminhos sejam abertos para a locomoção das civilizações. Ashby Santoso, o capitão, mesmo gostando que faz, almeja um pouco mais. Porém, com os trabalhos atuais não consegue juntar dinheiro o suficiente para fazer os upgrades necessários e fechar contratos mais vantajosos. Entretanto, quando ele menos espera, algo pode vir a mudar essa situação.

Uma raça que sempre esteve em guerra entre si e que nunca manifestou interesse em se juntar às outras  acaba por baixar a guarda e a Andarilha é chamada para fazer a perfuração nesse pequeno planeta hostil. A bordo da nave, além do capitão, estão Corbin, Kizzy, Jenks, Sissix, Dr. Chefe, Ohan, a A. I.  Lovey e a novata Rosemary, uma guarda livros recém recrutada e que nunca viajou pelo espaço.

“Não julgue outras espécies pelas suas próprias normas sociais.”

Ela, enquanto se adapta a sua nova rotina e aos seus novos companheiros, também guarda pra si um segredo. Tentando descobrir como se encontrar em sua nova vida, ela vai conhecer um pouco sobre cada uma das raças que habita também a nave, já que nem todos eles são humanos. Serão longos meses de viagem, e eles não sabem o que os esperará naquele local distante.


Minha Opinião

Esse livro resume muito bem o que vamos encontra nele em seu título. Não serão grandes batalhas espaciais ou guerras entre espécies e planetas. É uma jornada, longa e por vezes desafiadora, até um pequeno planeta hostil. Becky Chambers volta um pouco às origens da ficção científica e dá voz aos conflitos inter-espécies, e às relações pessoais de quem é muito diferente entre si, mas que precisa por a unidade antes de tudo.

“Vontade e inteligência são uma combinação perigosa.”

A princípio apresentada como uma possível protagonista, Rosemary vai perdendo o posto conforme a narrativa vai ganhando corpo. Ela é nossa fonte de informações, mas não é o foco central da história. Através delas conhecemos melhor algumas tecnicalidades sobre a Andarilha e o trabalho realizado por eles, além de um olhar mais pessoal à tripulação, que é muito unida e precisa agora receber uma nova membro.

Além disso também teremos uma compreensão simplista de como funciona o universo em que essa história está situada. Como as relações entre planetas e espécies começou a se formar e como o o sistema funciona atualmente. Há uma leve exploração disso, mas também não vamos muito além da superfície, por também não teremos isso como foco da narrativa.

Aos poucos vamos conhecendo cada um dos personagens e as suas peculiaridades. E não me refiro somente as diferenças de espécie, mas também de humor e visão de mundo. É incrível aos poucos ir desvendando cada um deles. E a autora tira o seu tempo pra isso, e dando a devida atenção a cada um dos envolvidos, não negligenciando nenhum deles.

“Não havia nada no universo que pudesse durar para sempre. Nem as estrelas. Nem a matéria. Nada.”

O legal disso é que ela achou uma forma de fazer isso sem se desviar da história central ou tornar a situação chata. Não parece um desvio, apenas algo que faz muito sentido estar ali, afinal eles são obrigados a conviver meses uns com os outros e nada melhor do que realmente se conhecer uma pessoa para tornar isso suportável.

Aqui, vale ressaltar que essas relações de amizade são muito bem trabalhadas e tem destaque na história, que também tem muito a ver com família e pertencimento. Os conceitos passam a ser revistos pois nem todos ali enxergam a situação da mesma maneira, fornecendo aos poucos ao leitor uma mais compreensão do que realmente está acontecendo. Em como uma comunidade mista consegue implantar, mesmo sem perceber, pequenos fragmentos de cada uma das raças ali, e construir um elo de ligação que lhes faz sentido.

Tem momentos lindos do livro onde a relação dos personagens e os porquês são explorados e que mostram a profundidade do que é exposto. Isso tudo em uma narrativa que não chega a ter 350 páginas. Isso se torna possível porque a autora não perde tempo com cenas clichês. Ela faz o gancho e poupa o leitor de diálogos óbvios e indo ao momento seguinte.

Aqui temos personagens adultos, o que torna essa situação muito mais palpável. Eles estão confinados, precisam se relacionar e não vão ficar de mimimi. Apenas resolvem seus problemas, como deveria ser o padrão e não a exceção. E, ao mesmo tempo em que tira do leitor cenas, ela também adiciona pequenos arcos de apoio, que em várias situações poderia se tornar um subterfúgio à história, porém não é o que acontece. Há uma peculiaridade na forma como Becky Chambers alinhou essa história que faz com que cada pedacinho dela seja extremamente relevante ao todo.

“O medo me lembra que eu quero continuar viva. Não me parece algo ruim.”

A história vai se passar por algumas semanas antes do início da viagem, com a chegada de Rosemary à nave, e depois por meses enquanto eles fazem essa jornada. Teremos explicações sobre como são as perfurações e até “vivenciaremos” a situação dentro do livro. Como avisei no começo, não espere uma space ópera cheia de conflitos armados, até teremos alguns pequenos picos aqui de tensão e umas duas ou três cenas com mais ação, mas esse não é o foco e não passará disso.

Minha personagem favorita é, de longe, a Sissix. Tudo que a envolve me fascinou desde o começo e quanto mais da personagem era exposto, mais encantada eu ficava. Há algo muito especial aqui que envolve o gênero dos personagens. A autora trabalha a questão LGBTQ+ em suas exposições das espécies mas sem colocar isso como enfoque. Há uma normalidade no tom. É óbvio que em várias raças através do universo as formas de apresentar sexualidade seriam diferentes, assim como deveria ser normal ver isso em nossa sociedade também.

A edição da Darkside está muito bonita e manteve uma das capas internacionais que representa muito bem a história. Acho que ela passa uma certa simplicidade, que de certa forma condiz com a trama, mesmo que seja possível relacioná-la a várias coisas, inclusive a situações que poderiam muito bem ser aplicados no nosso momento atual.

A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil é o primeiro livro de uma série chamada lá fora de Wayfarers. Pelo que vi, os livros são independentes e cada um tem um final fechado para o leitor possa escolher ir em frente ou não. O segundo volume, A Closed and Common Orbit, já foi lançado em 2016 lá fora.

Para os fãs de ficção científica, o livro de Becky Chambers é certamente uma boa pedida. Há muito mais do que a superfície da história e, mesmo sendo diferente do que eu esperava, foi uma experiência incrível de 2017 e certamente vou querer conferir outras histórias da autora.

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A LONGA VIAGEM A UM PEQUENO PLANETA HOSTIL

Autor: Becky Chambers

Editora: Darkside

Ano de publicação: 2017

O gatilho principal é a construção de um túnel espacial que permitirá ao pequeno planeta do título participar de uma aliança galáctica. Mas o que realmente torna único esse romance on the road futurístico e muito divertido são seus personagens. Instigantes, complexos, tridimensionais. A autora optou por contar a história de gente como a gente — ainda que nem todos sejam terráqueos, ou mesmo humanos. A tripulação da nave espacial Andarilha é composta por indivíduos de planetas, espécies e gêneros diferentes, incluindo uma piloto reptiliana, uma estagiária nascida nas colônias de Marte e um médico de gênero fluido, que transita entre o masculino e o feminino ao longo da vida. Temas como amizade, racismo, poliamor, força feminina e novos conceitos de família fazem parte do universo do livro, assim como cada vez mais fazem parte do nosso mundo. Becky

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