Magônia é uma fantasia da autora Maria Dahvana Headley, lançamento de 2016 da Galera Record.

Sobre o Livro

Aza Ray nasceu com uma doença raríssima. Tão rara que ninguém nunca havia visto antes e que acabou ganhando o seu nome. Com a expectativa de vida sempre sendo renovada de tempos em tempos e com a promessa velada de que não vai sobreviver muito mais, ela aguarda o seu aniversário de 16 anos – última estimativa que recebeu-.

Ninguém sabe direito o que se passa com ela, somente que é muito difícil respirar e que em consequência disso outras coisas acabam por acontecer com seu corpo. Além do auxílio da família, seu maior companheiro é Jason, um garoto que se aproximou dela ainda quando eram crianças e que desde então tem estado ao seu lado e a ajudando a seguir em frente.

“Pouso a palma da mão no meio do peito, tentando manter meu coração a salvo. Ele dói.”

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Porém, ultimamente coisas estranhas começaram a acontecer. Mais estranhas que o normal. Aza anda vendo coisas no céu e o seu comportamento por causa disso está perturbando as pessoas ao seu redor, que acham que ela está tendo alucinações. Mas algo inesperado vai acontecer e tudo vai mudar. O que Aza, Jason e os pais da garota tinham por visão de vida será abalado e o caminho a seguir em frente será cheio de surpresas. Existe todo um mundo oculto dos olhos, acima das nuvens, esperando para ser desbravado.


Minha Opinião

Magônia foi uma daquelas leituras mágicas que é até difícil de explicar porque. O livro não é perfeito, não é livre de clichês ou romance e Aza não é uma personagem sem defeitos, porém a forma como tudo é descrito pro leitor, em parte rasamente e em parte profundamente é encantador.

Fiquei por tempos pensando que incrível seria se Magônia realmente existisse. Como seria saber que há todo um outro mundo acima do nosso, onde os pássaros e seres híbridos habitam, governando os céus. E do quanto tanto a existência deles interfere com nosso mundo, quanto a nossa é nociva a eles.

Como eu mencionei, o livro não é perfeito e possuí várias coisas que poderiam ser melhores. Enquanto vamos recendo várias informações sobre algumas coisas, outras ficam completamente negligenciadas pela narrativa, sendo somente trazidas à toma quando é conveniente. As explicações de possíveis aparições, que nós reles humanos acreditamos serem fenômenos da natureza ou até OVNIs, dão um tom de tentar aproximar a existência desse mundo com a realidade, porém nem sempre soa convincente.

Não sei se a forma como os “magonianos” são descritos também é suficiente para saciar a imaginação do leitor e para esclarecer como são esses seres pássaros. Eu já tinha feito uma leitura esse ano com alguns aspectos semelhantes, mas em um contexto completamente diferente e, portanto, acho que me sai bem em visualizar esses seres por isso, mas não sei como fica para os leitores que não tem nenhum apoio.

“Inspiro. Expiro. O céu está cheio de nuvens. Uma corda desce do alto, do céu até a terra. Vejo o rosto de uma mulher me encarar, e, à nossa volta, centenas e centenas de pássaros. A revoada flui como água, subindo pelos ares, preta e dourada e vermelha, e tudo está seguro e frio, iluminado pelas estrelas e pela lua.
Sou pequena em comparação àquilo, e não estou no chão.
Sei que todo mundo sonha estar voando, mas este não é um sonhos de estar voando. É um sonho de estar flutuando, e o oceano não é feito de água, e sim de vento.
Chamo isso de sonhos, mas parece mais real que a vida.”

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E é claro, o sempre presente problema quando temos adolescentes envolvidos. Em algum momento teremos algum comportamento extremamente infantil ou de birra e é claro que haverá romance. Nenhuma dessas duas coisas estragou a experiência pra mim. De modo geral achei Aza uma boa personagem, porém ela flutua muito em volta de si. É difícil descrever sua personalidade pois não acredito que ela tenha sido verdadeiramente solidificada para o leitor pela autora. Ela migra entre humores e entre atitudes. Uma hora ela está relutante e na outra está pulando do céu, mas não é possível saber se essa indecisão constante faz parte de sua personalidade ou se simplesmente não há uma bem definida.

Mesmo assim achei que ela exerce uma boa posição. Aza é curiosa, não baixa a cabeça sem argumentar, não é uma santa do pau oco, mas também não é a adolescente revoltada porque sabe que vai morrer. Como disse, ela flutua entre várias versões de tudo isso. Mas o simples fato de ela questionar foi importante para que eu a levasse a sério. Ela fica com a pulga atrás da orelha, não toma tudo como verdade e vai em busca das respostas que precisa, custe o que custar. No fim, ela acaba descobrindo sozinha o melhor caminho a seguir e ganha pontos simplesmente por pensar sobre as coisas e não ser um robozinho sendo conduzido pela história – por mais que as vezes pareça -.

Jason é ótimo, mas às vezes também é difícil acompanhar seus pensamentos. Ele tem uma fé inabalável em Aza e enquanto não resolver todos os enigmas que pairam ao seu redor não vai parar. Além de amigo ele também nutre um sentimento por ela, o qual ela está ciente e também corresponde um pouco, mas não há exatamente tempo para desenvolver isso quando tudo acontece. Mas o romance não está só ai, vai haver uma terceira peça envolvida. Não há um foco enorme, mas foi o suficiente pra eu respirar fundo e em minha cabeça solicitar que a coisa não fosse por esse caminho.

“Nada é perfeito aqui. Lá embaixo, nada é perfeito também.”

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Mas o que realmente me encantou foi verdadeiramente “Magônia”. O mundo acima das nuvens é uma sociedade estruturada e oculta dos humanos. Eles tem seus problemas, hierarquia e política, interagindo com o povo em terra firma apenas para cumprir algumas necessidades específicas. Confesso que gostaria de saber mais sobre esse universo e desbravar mais acima do céu, mas por mais que recebamos algumas respostas aqui, ainda não é suficiente para compreender a dimensão das coisas.

Sabemos que o mundo lá em cima está morrendo e que grande parte disso cai sobre nossos ombros e a forma como conduzimos as coisas lá em baixo. Sabemos que há uma estrutura política e um governo e somos apresentados as formas com as quais esses governantes conduzem as coisas e que, nem sempre, agrada a todos. Por muito tempo no livro tentamos desbravar os motivos e intenções de cada personagem magoniano e é difícil entender algumas posições daqueles aos quais somos apresentados na trama, por ter pouco esclarecimento sobre isso fora da interação com a personagem.

Aza vai sim cobrar respostas, mas nem sempre o que ela quer saber é suficiente para saciar a curiosidade do leitor. No meu caso, o mundo em si foi o que mais me chamou atenção, bem como a estrutura política a cima das nuvens, que é super importante para os problemas da trama. Então estava super curiosa para descobrir ainda mais e desbravar mais esse universo.

Porém, mesmo com todas essas coisas e um final que não fecha a história e que parece ter sido resolvido rápido demais eu simplesmente fiquei encantada pela história. Acho que a magia não está em Aza ou nas coisas que descobrimos sobre ela enquanto protagonista, mas nesse novo mundo e em tudo que ele tem pra nos mostrar e ensinar.

E é muito louco pensar sobre isso. Esse livro, por mais que seja uma fantasia, traz também toda uma noção de consciência ambiental e a compreensão de quem o que fazemos aqui em terra firma está influenciando outras raças e “outras camadas” do nosso mundo. É claro que o tom do livro não é esse, mas é possível absorver uma reflexão super bacana por causa disso. Esse mundo magoniano está morrendo e precisa ser salvo, pra isso os humanos também serão afetados e tudo fica conectado em simbiose. Fora da fantasia isso também é uma realidade, essa interferência que temos com as camadas da Terra e com a extinção de animais por causa de nossos hábitos dolosos à natureza, então é algo bacana a se pensar.

Acho que ao fim da leitura eu posso dizer que apenas fiquei encantada e que, mesmo com os defeitos que mencionei, me apaixonei por Magônia com bastante afinco e anseio pela continuação, onde eu espero que a história evolua e traga novas facetas aos personagens já apresentados, bem como novas camadas e descobertas a esse mundo tão legal que foi apresentado a nós. Magônia é uma fantasia contemporânea, YA, com um “mundo pássaro” muito legal a ser apresentado.

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MAGÔNIA

Autor: Maria Dahvana Headley

Editora: Galera Record

Ano de publicação: 2016

Aza Ray nasceu com uma estranha doença incurável que faz com que o ato de respirar se torne mais difícil. Aos médicos só resta prescrever medicamentos fortes na esperança de mantê-la viva. Quando Aza vê um misterioso navio no céu, sua família acredita que são alucinações provocadas pelos efeitos do medicamento. Mas ela sabe que não está vendo coisas, escutou alguém chamar seu nome lá de cima, nas nuvens, onde existe uma terra mágica de navios voadores e onde Aza não é mais a frágil garota enferma. Em ”Magônia”, ela não só pode respirar como cantar. Suas canções têm poderes transformadores e, através delas, Aza pode mudar o mundo abaixo das nuvens.

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