Nova Era é o terceiro livro da trilogia The Young World do roteirista Chris Weitz, publicada no Brasil pela editora Seguinte em 2016.

*Esta resenha contém spoilers dos livros anteriores.

SOBRE O LIVRO

Jeff foi traído, e seu sonho de constituir uma nova sociedade, mais justa e igualitária, também foi destruído. A Resistência se revelou como agentes infiltrados do governo americano que estavam buscando por uma arma poderosa: os códigos de acesso ao arsenal nuclear dos Estados Unidos. Com ele em mãos, os rebeldes poderiam oprimir qualquer país do mundo e, assim, reconstruir um novo Estados Unidos. Ou, se avaliassem melhor, liquidar qualquer inimigo.

Enquanto isso, na Inglaterra, Donna descobre a verdade por trás dos planos do governo britânico e, desafiando-os, consegue ser trazida de novo à Nova York com a intenção de ajudar a recuperar os códigos de acesso nuclear e evitar que o mundo seja por inteiro devastado. Nesse meio caminho, ela planeja um meio de reencontrar Jeff e seu grupo, e salvar o que restou das tribos em Nova York.

“Consigo ver os dois lados. Para mim, a vida não é preto no branco. Tampouco é cinza. É um arco-íris cujas cores e cuja intensidade mudam à medida que encontra diferentes paisagens éticas e contextuais.”

Agora, Jeff e seus amigos, os poucos sobreviventes, precisam dar passos cuidadosos em meio a uma disputa perigosa por poder, ao mesmo tempo em que precisam impedir que os códigos sejam usadas pelas mãos erradas. Nesse jogo de gato e rato, nem britânicos, nem resistência e nem mesmo os adolescentes estão seguros.


MINHA OPINIÃO

Geralmente, livros apocalípticos e até mesmo os distópicos ensinam uma coisa em comum: não é possível reconstruir toda uma sociedade do dia para a noite, ainda mais quando ela é composta essencialmente por centenas de adolescentes com os hormônios a flor da pele e com posicionamentos ideológicos e sociais diferentes. Nova Era mergulha nesta questão e expõem os conflitos enfrentados pelas tribos de Nova York, que além de saberem da existência do mundo exterior, também sabem da existência de uma poderosa arma nuclear em algum lugar em meio às ruínas.

Um aspecto interessante deste final de trilogia é a discussão sobre como as diferenças entre as tribos dificultavam a formação de uma nova sociedade. O plano de Jeff falhou, não apenas por ele omitir algumas informações relevantes, mas sobretudo, por não considerar o fato de que diferenças ideológicas e sociais não se mudam de um dia para o outro. Ainda mais quando essas questões imperavam na sociedade há muito tempo ainda antes da Doença. Assim, é fácil compreender porque uma das tribos mais extremistas da narrativa, a Uptown, não aderiu a ideia logo e se beneficiou da reunião “pacífica” para tomar ainda mais o poder.

A Uptown foi descrita, desde o primeiro livro, como um grupo machista, escravista e até mesmo com similaridades a regimes como o fascismo e o nazismo. O seu líder, Evan, era um garoto que via mulheres como objetos sexuais e só acreditava que os fortes poderiam viver. Políticas humanistas não existiam nessa tribo. O líder mandava e o resto obedecia. Se discordasse, morria. Sempre que esse personagem aparecia, o sentimento de repulsa me tomava, pois era desprezível a forma como ele agia. Essa repulsa se torna maior ao ler os capítulos que são narrados por ele, onde o personagem conta um pouco sobre o seu passado e como começou a surgir suas ideias de superioridade. E, acredite, ainda quando criança Evan já demonstrava uma má índole, o que o levou a cometer alguns atos ilícitos.

“Poderíamos retrucar se tivéssemos alguma coisa útil para dizer. Mas desistimos das palavras. Em vez disso, assumimos o papel de presa, mantendo-nos na toca como coelhos.”

A questão da arma nuclear perdida nas ruínas de Nova York também é outro motivo para tornar todas as tentativas de pacificação em algo ruim. A sua descoberta faz com que a Resistência se separe das tribos, iniciando uma verdadeira corrida armamentista. O grupo insurgente decide encontrar a arma a todo custo e dominar o mundo, enquanto as tribos, cada uma por si, decide a mesma coisa. Enquanto isso, Jeff tenta encontrar uma forma de evitar que essa corrida pelo poder destrua o pouco que sobrou da civilização americana. Essa tarefa se mostra um tanto pesada para ele, pois, como já sabemos, ele não é um super herói, não quer ser um. Mas não pode ficar quieto sem tomar atitudes. Não quando uma guerra nuclear pode ser eminente.

Donna é a personagem que eu senti mais desconexa com a história. Ela é trazida novamente à Nova York pelo governo inglês, e junto com alguns outros militares, procuraram pela localização da arma nuclear, ao mesmo tempo que procura pela tribo de Jeff. Não teria nada de errado até aí, a não ser o fato de que ela não agrega nenhuma novidade na trama e, pior, manda e desmanda nos oficiais do alto escalão militar. Acredito que um general do exército não se rebaixaria às ordens de uma adolescente que só quer saber de encontrar o amor da sua vida. Entretanto, isso acontece por toda a narrativa.

Algo que senti falta, contudo, foi em relação as questões políticas internacionais que foram apontadas no livro anterior. Em Nova Era, sabemos que a revelação do arsenal nuclear americano desencadeia uma euforia entre os países, que então se motivam a invadir os EUA a fim de dominar o recurso. Entretanto, ficou totalmente de lado as discussões mais importantes: como a economia mundial estava reagindo à destruição da América? O que os governos fizeram nesse meio tempo para sustentar a sociedade, ou então, porque as nações não discutiram perigo de um arsenal nuclear perdido? Me pareceu que cada governante simplesmente pensava por contra própria e fazia o que bem entendia, sem se importar com as consequências.

“Talvez seja assim que funcione. Talvez o caminho para a igualdade não esteja cheio de boas intenções nem possa ser traçado sobre bases legais e de mudança social gradual. Talvez só seja conquistado na base da briga.”

O final também achei um pouco atropelado e que deixou perguntas abertas. Parecia que o autor não sabia como finalizar a trama e, para isso, passou por cima de tudo o que já havia escrito e deu um fim simples que, cá entre nós, não precisava de três livros para ser feito. Ao meu ver, Chris Weitz poderia ter se preocupado em desenvolver mais esses pontos e ter entregado um final mais convincente.

Pelo menos uma coisa é certa: eu me diverti em vários momentos da leitura e li super rápido. Mesmo com os pontos ruins, há coisas boas que podem ser tiradas da experiência, como por exemplo, as críticas apontadas nos livros. Talvez para o público mais jovem, começar com uma trilogia leve como essa seja o caminho ideal para a formação de uma mente mais aberta e mais questionadora. Para mim, contudo, como a trama ainda é morna e precisa de alguns elementos aprofundados a fim de se tornar uma experiência mais satisfatória e diferente.

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NOVA ERA

Autor: Chris Weitz

Editora: Seguinte

Ano de publicação: 2016

O grupo de Jefferson e Donna está de volta a Nova York, e os planos para distribuir a Cura a todos os adolescentes da ilha não ocorreram como o planejado. Depois de encarar a traição da Resistência — que resolveu se unir aos velhos inimigos da tribo da Uptown —, os amigos vão precisar colaborar com os ingleses da Reconstrução para garantir que o mundo não acabe em uma explosão de mísseis nucleares.

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