Nova Ordem é o segundo livro da trilogia The Young World do roteirista Chris Weitz. Foi publicado no Brasil pela editora Seguinte em 2015.

*Esta resenha contém spoiler do livro anterior.

SOBRE O LIVRO

Depois de todas as dificuldades e perigos pelo qual passaram Jeff e seus amigos, eles descobrem que o outro lado do mundo não foi devastado pela Doença, e foram resgatados pela Marinha americana algumas horas após terem chegado a Pum Island. Assustados e surpressos, são levados pelos oficiais a bordo de um navio, onde ficam “presos” e submetidos a constantes perguntas sobre os acontecimentos em Nova York.

Mas o que parecia ser bom começa a levantar suspeitas, e logo Jeff e seus amigos se questionam porque a Marinha não salva os demais garotos da cidade, assim descobrindo um perigoso e ardiloso plano dos militares. Não concordando, arquitetam um jeito para fugir e voltar àaNova York com a Cura. Entretanto, um pequeno problema ocorre e durante a fuga Jeff  acaba sendo separado de Donna.

“Será que Deus era uma criança gigante? Ou será que ele simplesmente deu a Terra de presente para o filho de um amigo, um pequeno demiurgo mimado, e foi cuidade de negócios mais importantes em outra galáxia?”

Donna é levada pelos militares para morar na Inglaterra, sob a guarda do governo Inglês, em troca de informações sobre a situação dos sobreviventes ao ocorrido. Enquanto isso, Jeff consegue voltar para Nova York, onde, em posse da Cura, começa a organizar uma Nova Sociedade. Enquanto cada um segue um caminho diferente em suas vidas, uma ameaça maior está sendo arquitetada às escuras, e tanto Jeff quanto Donna, mesmo em locais diferentes, precisam ficar espertos para evitar que o mundo seja destruído, mais uma vez.


MINHA OPINIÃO

Comentei na resenha do livro anterior que o final me deixou um pouco surpreso e despertou curiosidade de continuar a série. Pois bem, neste segundo livro acontecem algumas coisas que permitem vislumbrar melhor o que aconteceu ao redor do mundo, e entender como a economia global foi afetada após as Américas, sobretudo, os Estados Unidos, terem sido “apagados” do mapa.

A escrita do autor se manteve similar ao primeiro, ou seja, super rápida, superficial e com perguntas que ficam no ar. Mas algo que gostei é que a narrativa ganha um tom mais político do que o primeiro livro. Aqui teremos analogias com o mundo antigo, referências gregas, bem como maior apelo ao humanismo, sem mencionar, claro, algumas críticas sociais. Pelo menos não tem personagens se matando o tempo todo, o que já concede um ponto positivo.

“Os deuses se inclinam para fora da máquina e acenam para nós. Um alto-falante declara: ‘abaixem as armas agora!’.”

A descoberta de que o mundo não desapareceu junto com os Estados Unidos causa um grande choque, já que os jovens acreditavam que todo mundo teria morrido. Isso também faz o grupo questionar porque nenhum país se prontificou em vir socorrê-los, ou agora, porque não usar a Cura para resgatar os demais. A questão é simples: poder e influência. Mesmo o território dos EUA tendo sido devastado, há milhares de norte-americanos vivendo em comunidades ao redor do globo, sem considerar que grande parte das potências bélicas, aéreas e marítimas estavam fora de casa quando tudo aconteceu. Ou seja, o território desapareceu, mas não a nação. Logo, sua influência política e econômica ainda é forte.

Evidência disso é que, quando Donna é levada para morar na Inglaterra, ela é colocada sob um programa de proteção a sobreviventes. Mas tudo tem o seu preço. Donna tem a chance de recomeçar a vida, estudar, fazer novos amigos, ter uma vida de luxo, mas para isso precisa cooperar, respondendo diariamente perguntas feitas a respeito da situação em Nova York, sobre as tribos, quem dominava, etc. Isso porque o acordo foi firmado entre o que restou do EUA e o governo Inglês. Ambos se ajudam e todo mundo sai no lucro, só que não.

“Os Estados Unidos desapareceram, mas os ‘Estados Unidos’, não.”

Apesar desta parte da narração de Donna ter seu papel importante para a trama, ela é bem cansativa. São páginas e páginas onde vemos a nova vida dela acontecer, enquanto eu me perguntava “qual a necessidade?”.  Ao meu ver, foi muita enrolação. Acho que teria sido mais proveitoso se o autor tivesse explorado melhor as questões políticas que envolviam a nova vida da personagem, do que apenas mostrar ela vivendo, se divertindo, estudando.  Até porque são muitas páginas dela numa boa, aí em outra ela desconfia de algo, e já na página seguinte, descobre segredos. Não gosto dessa forma de jogar problemas de uma só vez. Gosto do quebra-cabeça, cada coisa aos poucos e no fim, juntar as peças.

Por outro lado, a parte narrada por Jeff se tornou mais agradável. Ele deseja salvar todo mundo, pois não acha justo ganhar uma nova vida sendo que há outros sofrendo. E se fosse outra pessoa que tivesse descoberto a Cura, ele não gostaria de ser salvo? Sim, gostaria. O que achei legal desse personagem-herói é que ele vai contra o perfil que geralmente é apresentado: ele não quer fama, não quer ser vangloriado. Ele só quer fazer o bem, pois assim deveriam ser todos os humanos. Interessante, pois adolescência é uma fase onde desejamos, em grande parte, que todas os olhos estejam voltados para nós. Mas para Jeff, quando mais famoso ele fica, mais constrangido se sente.

“Desde que a Doença começou, nós todos estivemos vivendo como se não houvesse muitos amanhãs. E sem qualquer noção de ordem, lei ou governo, formamos nossas próprias tribos e nossas próprias regras, uma colcha de retalhos em nossos pequenos feudos. A Cura e a verdade sobre o que tinha acontecido no resto do mundo mudariam tudo.”

A discussão política da narrativa também é maior desenvolvida por Jeff. Em posse da Cura e sabendo a verdade sobre o outro lado do mundo, ele quer constituir uma nova sociedade em Nova York. É um sonho de utopia, uma nação livre, onde todos teriam voz e poder igual, contribuindo de forma mútua para a prosperidade. Ele quer unir as tribos, misturar lobos e cordeiros de forma que todos vivam em paz. O problema é justamente esse: lobos e cordeiros dariam certo? Não seria uma forma mais rápida de promover mais guerra? Depende. Se todos cooperassem, leis e regras seriam estabelecidas, e quem pisasse fora da linha, certamente seria punido.

Na resenha anterior eu comentei que a narrativa tem um ar de distopia, mesmo não sendo. Nova Ordem é a prova de que o autor estava indo por esse caminho.  A questão da descoberta do restante do mundo, a ideia da nova sociedade, tudo colaboram para a caracterização – e formação – de uma distopia. Talvez o terceiro livro acabe se tornando. Isso também me lembrou a principal questão, inclusive, que fundamentou o meu TCC na faculdade: porque tantos livros – e filmes – nos últimos tempos, abordam não apenas o público jovem, mas a narrativa de ruína mundial, revoluções e desejo crescente por ideais utópicos?

A questão pode ser respondida de duas formas: primeiro, os jovens estão – ou podem estar – sendo vistos como esperança para melhorias na economia, na política, nas relações sociais. Segundo, com tantos escândalos de corrupção em governos, com tanta guerra, atrocidades, e outras formas abusivas de poder, a sociedade já está cansada, e anseia por uma nova vida, um novo mundo onde todo mundo possa viver sem ter medo. E para mim, atualmente, tanto a distopia quanto a ficção apocalíptica estão sendo os melhores gêneros para tratar e criticar a sociedade em que vivemos, pois neles é possível ir direto ao ponto, enquanto em uma fantasia, penso eu, as questões seriam tratadas de forma mais metafóricas.

“Política é a organização sistemática dos ódios. Isso é Henry Adams. Por um lado, é uma observação bastante cínica: não existe harmonia política nem utopia, apenas o equilíbrio pragmático e momentâneo de grupos opostos.”

Eu queria poder dar uma nota maior para esse livro, mas a superficialidade da trama é algo que me incomoda. Esse volume é menor que o primeiro, mas dada as circunstâncias, deveria ter mais páginas. Há muita coisa que poderia ter sido aprofundada e não foi. Há também a questão dos pontos de vista: há três personagens além de Jeff e de Donna, que vão contar a história, mas bem perto do final. Um deles não posso mencionar se não seria spoiler. O outro é Peter, que para mim, foi desnecessário. E por fim, Crânio, o garoto sabe tudo dos livros. O problema da narração dele é que ela é toda feita sem pontuação. Não há uma bendita vírgula na narração. Horrível. Foram as páginas mais angustiantes do livro todo.

De forma geral, eu acredito que para o público jovem é uma baita história e que certamente vai agradar. Mas para mim não está mais funcionando. Aí me pergunto: estaria na hora de eu largar livros Young Adult e partir para narrativas mais “adultas”, ou o fato de eu ter me incomodado seja relativo ao jeito que o autor escreve? Não sei ainda, mas enquanto não encontro a resposta certa, pretendo finalizar a série e descobrir se Jeff conseguirá construir uma Utopia ou se o mundo vai se destruir novamente.

NOVA ORDEM

Autor: Chris Weitz

Editora: Seguinte

Ano de publicação: 2015

Jefferson, Donna e seus amigos descobriram que os adolescentes não são os únicos que sobreviveram ao vírus e, em meio ao caos do resgate da Marinha, eles se separam. Jefferson volta para Nova York e tenta levar a Cura para a tribo da Washington Square, enquanto Donna vai parar na Inglaterra, onde se depara com um mundo pós-Ocorrido inimaginável. Mas um desastre ainda maior que a Doença está prestes a acontecer, e Donna e Jefferson só poderão evitá-lo se acharem o caminho de volta um para o outro.

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