O Beijo Traiçoeiro é um livro da autora Erin Beaty, lançado no Brasil em 2017 pela editora Seguinte.

SOBRE O LIVRO

Sage Fowler é uma garota sagaz e com a língua afiada. Ela é órfã e vive com o tio William e sua família desde que os pais morreram. Ela dá aula para as crianças e sonha em ter um ofício que venha a lhe prover e permitir que ela viva sua vida como bem entender. Porém, o tio tem um plano diferente. Para manter a honra do nome Broadmoor e achando que é o melhor a se fazer, ele marca uma avaliação com a casamenteira da região, para que ela “inspecione” Sage e veja o que pode conseguir de bom partido para a garota.

“A mulher continuou falando sem parar: ela deveria ser submissa; deveria ser obediente; deveria ser graciosa; deveria sempre concordar com o marido. Deveria ser o que ele quisesse.”

Frustrada com a situação, mas concordando em ir, ela logo se desentende com Darnessa Rodelle, pois manter a pose de dama não é algo que a garota desempenha bem. Porém, mesmo com o conflito, uma estranha oportunidade surge e Sage vira aprendiz da casamenteira, tendo como missão ficar de olhos abertos e coletar todas as informações que conseguir sobre as garotas, os possíveis pretendentes e todos que possam estar envolvidos no aguardado evento que está logo a frente, o Concordium.

Para escoltar as damas até o evento, o pelotão comandando por Alex Quinn é selecionado, principalmente para punir o capitão, que é sobrinho do Rei, depois de um deslize. Porém, o grupo é composto por alguns membros ilustres, como o príncipe herdeiro e seu meio irmão bastardo, Ash Carter. E, em meio ao que deveria ser uma tarefa simples, descobre-se uma enorme conspiração política com os Kimisaros, um povo que foi a poucas décadas anexado ao reino de Damora e que pode estar prestes a se rebelar.


MINHA OPINIÃO

Minha maior surpresa aqui foi não ter encontrado um livro puramente de romance. O título, que é vendido como uma mistura de Jane Austen com investigação, prometia um romance de época água com açúcar, mas entregou algo diferente. O Beijo Traiçoeiro, na verdade, é uma trama política que se molda em um cenário de época, mas que cria um reino e background completamente fantasioso, se afastando da nossa realidade, mas inserindo os principais elementos de familiaridade com os tempos passados para gerar identificação.

Sage é a garota indomável que não quer saber de casamento. Seus pais eram almas livres e ela se tornou assim, mesmo tendo que conviver com sua ausência. Mas, em seu âmago, também sabe que deve ao tio por todo o cuidado que ele lhe dedicou e aceita ir em frente com a tal avaliação com a casamenteira em nome disso. É claro que não dá certo, Sage não iria controlar a língua. Porém, é exatamente aqui que começamos a entender que o termo “casamenteira” vai muito além da futilidade que o termo pode representar num primeiro olhar.

“As mulheres naquela sala tocavam as cordas da nação como um quarteto de musicistas, criando o equilíbrio de poder que por mais de duzentos anos fazia Damora funcionar.”

Nesse mundo, são essas mulheres que fiam as teias políticas e comerciais. Além de atender aos desejos das duas partes envolvidas, apontando quais pares terão um melhor futuro juntos, também é através de suas escolhas que se formas as alianças, e estruturas econômicas que manterão o reino saudável e protegido pelos anos vindouros. Portanto, o trabalho dessas damas “cúpidos” vai muito além de montar casais bonitos, mas sim costurar acordos que vão beneficiar toda a nação.

A protagonista, mesmo com certo resguardo, começa a compreender a importância e poder que esse ofício detém e até se diverte com sua função de coletar informações sobre todos aqueles ao seu redor: as damas reais do Concordium e os soldados que as acompanharão, afinal, ali pode haver também algum bom pretendente escondido e Darnessa Rodelle quer ter olhos abertos em todas as direções.

“Quanto mais Sage aprendia sobre as casamenteiras e o poder que detinham, mais convencida ficava de que administravam o país por baixo dos panos.”

Dos soldados, quatro chamam a atenção e tem mais importância dentro da trama, sendo eles o capitão, Alexander Quinn, o príncipe Robert, o bastardo Ash e o braço direito Casseck. Todos eles tem personalidades divertidas e possuem uma amizade sólida que vai além do dever de soldado que os une.

E, é claro que o cruzamento de caminhos entre esses dois mundo vai resultar em algum romance. Porém, não espere muito disso até a metade do livro, que é quando esse traço da história começa a se manifestar. Até lá há uma construção de estrutura e apresentação do mundo e dos conflitos, além de explorar bastante a personalidade de Sage, suas bravatas e também dos demais personagens centrais.

Há um plot twist muito legal na terceira parte da história que faz com que o leitor sinta vontade de dar meia volta e começar o livro de novo, apenas pra ver onde foi que deixou passar todas as pistas. E, mesmo com um tom mais doce em sua narrativa, há uma cena mais forte ao final que me surpreendeu, pois estava esperando algum daqueles consertos milagrosos que normalmente acontecem em histórias assim. Me enganei e fiquei triste. Mais que os personagens, o que acaba sendo uma falha da história.

Falando em falhas, essa não é uma história livre delas. E há alguns problemas que a perseguem também. O primeiro deles é que o livro foi inicialmente vendido com uma inspiração em Mulan, mas, temos aqui uma protagonista branca, o que por si só já descaracteriza e gera certo auê. Ainda nesse âmbito, há o fato de autora mencionar “pele mais escura” mas sem determinar realmente o quão escura ou o que realmente quer dizer. Com toda a problematização de racismo que temos vivendo, isso acaba sendo um tiro no pé, pois há sempre quem vá apontar o dedo pra esse tipo de coisa e, com certa razão.

A outra coisa, e o que realmente me incomodou aqui é que a sororidade é praticamente zero. Primeiro, todas as meninas que estão indo para o Concordium, cumprindo as regras sociais, e que não são Sage, são fúteis. Garotas que só pensam em romance, vestidos e maquiagem. Elas são vistas assim não só pela protagonista mas pelo núcleo masculino, generalizando completamente um grupo que é mal explorado. E, é ai que entra o segundo problema. Por mais que sejam várias, apenas a que mais gosta de Sage e a que a detesta são apresentadas, de forma rasa. Enquanto todas as outras, que deveriam ser também observadas ela garota, são esquecidas e apagadas.

Sage é colocada em um pedestal por ser a “diferentona”. Todas as grandes ideias vem dela, ela é a incrível. Em uma situação que ela não está rodeada de outras mulheres eu até engulo algo assim, pois entendo a lógica, mas achei que a autora foi muito infeliz atirando todas as demais personagens femininas no mesmo balaio do descaso.

Mas, mesmo com todas essas coisas eu aproveitei muito a leitura e me diverti bastante. Enquanto para uns o início possa parecer lento, pra mim foi ótimo adentrar nesse mundo dessa forma, afinal estou acostumada com livros de fantasia que fazem sempre isso. Eu me envolvi com os personagens, torci para que desse tudo certo, e até torci para o casal. Ignorei alguns clichês do final e tive uma experiência muito positiva.

É claro que como sempre busco analisar o livro, os fatos de conflito não passaram batido, mas para um leitor despretensioso, muito disso que mencionei pode nem saltar aos olhos, proporcionando uma boa leitura em sua totalidade. Aqui, acho que a expectativa e o olhar que cada um der pra essa trama fará a diferença no resultado final.

Mas algo que eu acho importante ter em mente quando você começar O Beijo Traiçoeiro, é não esperar um romance meloso, pois não é isso que você vai encontrar. Esse livro também não é nem de perto uma Agatha Christie ou uma fantasia cheia de desdobramentos. O segredo parece estar em por uma pitada de cada coisa e fazer com que os elementos se entrelacem de uma forma dinâmica e coesa, tornando até difícil descrever o que realmente há escondido nas páginas do livro.

O Beijo Traiçoeiro foi uma surpresa e já fico ansiosa pela continuação. Não há um enorme cliff hanger no final, e sim a abertura para que a história continue. O segundo livro, The Traitor’s Ruin já foi anunciado lá fora e deve chegar ao Brasil em 2018!

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O BEIJO TRAIÇOEIRO

Autor: Erin Beaty

Editora: Seguinte

Ano de publicação: 2017

Com sua língua afiada e seu temperamento rebelde, Sage Fowler está longe de ser considerada uma dama — e não dá a mínima para isso. Depois de ser julgada inapta para o casamento, Sage acaba se tornando aprendiz de casamenteira e logo recebe uma tarefa importante: acompanhar a comitiva de jovens damas da nobreza a caminho do Concordium, um evento na capital do reino, onde uniões entre grandes famílias são firmadas. Para formar bons pares, Sage anota em um livro tudo o que consegue descobrir sobre as garotas e seus pretendentes — inclusive os oficiais de alta patente encarregados de proteger o grupo durante essa longa jornada. Conforme a escolta militar percebe uma conspiração se formando, Sage é recrutada por um belo soldado para conseguir informações. Quanto mais descobre em sua espionagem, mais ela se envolve numa teia de disfarces, intrigas e identidades secretas. E, com o destino do reino em jogo, a última coisa que esperava era viver um romance de tirar o fôlego.

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