O Castelo de Vidro, da autora Jeannette Walls, foi primeiramente publicado no Brasil em 2007, ganhando republicação em 2014 e agora em 2017, com a capa da adaptação cinematográfica, pela Globo Livros.

Sobre o Livro

Jeannette Walls não só é a autora, mas também a protagonista desta história. Aqui, após anos como jornalista, ela escreve sua própria trajetória e a de sua família, os Walls. Com pais disfuncionais, fugindo de lugar em lugar, vivendo muitas vezes ao relento ou em locais com pouquíssimas condições de moradia, ela e os irmãos sobreviveram entre as intempéries da vida.

Lori, a mais velha, Jeannette, Brian e Maureen dividiram os problemas e as negligências sofridas pelos pais Rose Mary e Rex Walls até o momento onde já não haviam mais desculpas ou amor disponível para aparar a fome, a pobreza e a sujeira de suas vidas.

Com um boa situação em Nova Iorque, Jeannette está voltando para casa quando vê, de dentro do táxi, sua mãe remexendo uma lixeira na cidade. Envergonhada, ela não para o carro e isso faz com que ela comece a pensar sobre várias coisas e voltar à sua infância para contar ao leitor como foi sua vida e como ela chegou ao ponto em que está no presente.


Minha Opinião

O Castelo de Vidro é uma história sobre família e sobre amor incondicional. É uma narrativa triste, angustiante e mágica. É desprezar e saber apreciar um mesmo “personagem” em um virar de páginas. É compreender que o amor move sim fronteiras e mantém as pessoas juntas, mesmo nas piores situações.

Minha história com esse livro é estranha: toda vez que eu via ele em uma livraria ou sebo ficava com vontade de ler, mas nunca levava. Eu li a sinopse dezenas de vezes e sempre que o pegava em mãos não lembrava do que ele falava. Quando o filme foi anunciado com Brie Larson, fiquei realmente curiosa e preparada para fazer essa leitura.

E não é uma leitura fácil, porque incomoda, mexe e remexe os sentimentos, ânsias e questiona o que consideramos certo. O amor não deveria ser sinônimo de cuidado e carinho? Então como alguém pode amar seus filhos e expô-los, ao mesmo tempo, à situações horríveis, perigosas e negligentes? É difícil de engolir, principalmente porque ao mesmo tempo é possível compreender como aos olhos de uma criança aquilo não era assim tão ruim. Cada fugida à noite era uma aventura, cada noite ao relento um piquenique, cada lugar novo algo desconhecido.

“A vida é uma peça cheia de tragédia e comédia – me disse mamãe.”

Mas nem mesmo o deslumbre e a inocência infantil sobrevive aos momentos onde toda essa ilusão vai desmoronando, e dando lugar à realidade. À fome que corrói o estômago de uma menina de 6 anos que não tem o que comer porque o pai está bêbado demais pra ganhar dinheiro, e o que recebe para comprar comida, das mãos das próprias crianças, ele usa pra complementar sua fossa.

Jeannette sempre foi a mais próxima de Rex Walls, a preferida do pai. E esse livro é, além da história da família, como a relação deles mudou ao longo dos anos. De ela ser a única que acreditava nele àquela que desistiu. Eles trocam momentos muito bonitos, como quando ele pede que ele escolha uma estrela de aniversário ou quando caçam monstros à noite. Mas também sofre com situações cruéis, como o momento em que ele quer que ela aprenda a nada afogando-a vez após vez.

É uma relação difícil que, como começamos o relato sabendo que há algo melhor no futuro dessa jovem, ansiamos por chegar a esse momento, aquele em que a quebra vai acontecer e a realidade vai mudar. No livro isso demora a acontecer, pois ele segue uma linha cronológica bem fiel, onde só voltamos a encontrar Jeannette mais velha no fim da história. Essa demora e o excesso de detalhes faz com quem nem sempre a narrativa seja rápida ou fluída e há aqueles pontos onde apenas queremos pular as páginas. Porém, tudo está ali para realmente mostrar ao leitor cada detalhe daqueles anos e tormentos. E, já tendo visto o filme, a única coisa que antecipo é que essa é uma diferença importante entre a adaptação e o livro, pois o filme vai e volta, dando mais dinâmica à história.

E, se há algo que é possível dizer sobre Jeannette e todos os outros Walls é que eles são resilientes, corajosos e, acima de tudo, de bom coração. Qualquer uma das muitas coisas que acontecem aqui, como um dos fatos que abre o livro, que é quando a autora põe fogo em si, com apenas 3 anos, pois estava cozinhando salsichas sozinha para um cachorro quente e vai parar no hospital, com queimaduras graves que a marcarão para sempre, e é retirada de lá pelo pai, sem liberação médica, apenas porque ele não acredita que estar no hospital a esteja fazendo bem, porque vai contra suas crenças; seriam suficientes para destruir para sempre uma relação. Mas aqui há uma resistência e um sentimento de perdão. Perdão esse que eu não sei se daria nas mesmas condições.

O Castelo de Vidro, que possui esse nome por uma das muitas promessas de Rex ser construir um castelo de vidro pra eles morarem, é uma trama que gera um mar de sentimentos no leitor. Que angustia, que faz com que nos sintamos privilegiados por temos a família que temos, a casa em que vivemos e a vida que levamos.

Eu digo pra vocês que lutei com essa história, pra aceitá-la e digeri-la. Não concordo com tantos posicionamentos, sinto ódio de tantas atitudes, asco de tamanha negligência e, mesmo assim, quando cheguei ao final, mesmo com relutância, entendi. Não fiquei satisfeita, mas quem sou eu para palpitar na vida dos outros, não é mesmo?

Então, se você curte tramas assim, da vida real, com drama, mas também muita reflexão, O Castelo de Vidro está ai em nova edição, e com um filme que mantém-se a altura, porém retrata a história de forma um pouco mais açucarada. Fica a recomendação.

O CASTELO DE VIDRO

Autor: Jeannette Walls

Editora: Globo Livros

Ano de publicação: 2017

Depois de anos escavando a intimidade alheia, aqui ela desnuda um passado no qual teve de lutar para sobreviver à negligência dos pais disfuncionais. A autora narra as mais duras experiências de privação, humilhação e exclusão, sem esconder uma ponta de afeto pelas inusitadas justificativas para o desajuste social que seus pais interpretavam como liberdade.
Marginais por opção, contraditórios e controvertidos, os Walls são retratados com lirismo, humor e lucidez — mas sem qualquer traço de piedade —, numa narrativa biográfica que mescla absurdo e beleza de uma maneira raramente alcançada nas mais fantasiosas obras de ficção.

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