O Colecionador de Memórias é um livro da autora Cecelia Ahern, o lançamento é de 2018 pela editora Novo Conceito.

Sobre o Livro

Faz um ano que o Fergus, pai de Sabrina, está sob cuidados em uma clínica, após sofrer um derrame. O relacionamento entre eles sempre foi tranquilo, mas às vezes parecia superficial. Essa sensação se estendia também para a família paterna, que ela pouco tinha contato. Aliás, era difícil prestar muita atenção ao que não estivesse relacionado ao seu casamento, aos filhos; e ao trabalho como salva vidas em uma clínica de repouso.

A inesperada chegada de uma coleção incompleta de bolinhas de gude muda tudo. Aqueles pequenos tesouros, coloridos, brilhantes e cheios de significado, fizeram parte da vida do pai, que após o derrame perdeu parte da memória. Mas Sabrina sabe que aquelas bolinhas podem significar algo. Ela sente que naquelas esferas estão as respostas para muitas questões relacionadas à saúde do pai. O que ela não contava era que, conforme iniciasse uma busca pelos itens que faltam na coleção, ela fosse se dando conta de que seu pai não era exatamente quem ela imaginava. Muito menos ela.

“Ao abrir a caixa de bolinhas de gude, abri, na verdade, uma caixa de problemas.”

Muitas coisas acontecem nas vinte e quatro horas em que a protagonista sai em busca de respostas. E se no começo ela imaginava apenas ajudar o pai com a recuperar um pouco da memória pouco confiável, conforme o dia avança ela percebe que talvez a pessoa que mais precisa ser ajudada é ela mesma. Com uma narrativa intrigante, que entrelaça passado e presente misturando os pontos de vista dos dois protagonistas, a autora mostra como pequenas decisões podem repercutir de maneira marcante na vida de alguém… E no quanto podemos nos surpreender quando nos permitimos enxergar o outro tal qual ele é.


Minha Opinião

Vamos imaginar todas as situações pelas quais passamos, pessoas que conhecemos, o que sentimos e o que experimentamos, tudo guardado no nosso cérebro. De repente vem uma patologia qualquer e nos rouba detalhes destas lembranças. Daí vem nosso subconsciente e, sabendo que determinadas vivências podem causar sofrimento se forem relembradas, se responsabiliza por apagar outra boa parte das memórias. O que seria de nós, se não tivéssemos acesso a tudo o que nos aconteceu, ou a pelo menos boa parte da nossa própria história?

Ao receber em casa alguns pertences do pai, internado em uma clínica, Sabrina se questiona justamente sobre isso. Essa necessidade de ajudar Fergus a relembrar qualquer fato que seja se torna o ponto de partida do livro, mas conforme conhecemos a personagem e entendemos que ela está sufocada com a rotina, com uma sensação de falta de propósito na vida, inconformada com a mesmice no trabalho e  sentindo que precisa de um tempo pra ela; percebemos que ajudar ao pai não é o ponto principal dessa jornada.

O relacionamento entre eles nunca foi lá essas coisas, porque sempre ficou claro que o pai não era verdadeiramente ele. Muito   misterioso, muito inalcançável; por isso a gente percebe que existe em Sabrina uma vontade quase infantil de se reconectar com esse pai. Ela guarda no peito um vazio deixado pela falta de relacionamento entre eles, ou pela superficialidade da relação que existia, e entender o motivo disso assim como, talvez, mudar alguma coisa a partir daqui também é outro motivador muito forte para que ela saia da zona de conforto durante as próximas vinte e quatro horas e se permita conhecer um pouco mais desse pai através do olhar e dos relatos de outras pessoas.

É claro que ninguém sai de uma experiência assim sem se modificar um pouco também, então acredito que toda essa busca se deu, principalmente, porque a protagonista chegou em um ponto da vida em que o que tinha já não era suficiente. Ela sentia seu potencial, em vários aspectos da vida, se esvair aos poucos. Então a busca que ela faz sobre o passado do pai é também uma oportunidade que se dá para olhar para a própria vida, e foi super bacana perceber certas peças se encaixando na cabeça de Sabrina, e foi melhor ainda relembrar que pequenas atitudes às vezes são o suficiente para mudar toda uma existência.

“As coisas que queremos esquecer, as coisas que não conseguimos esquecer, as coisas que esquecemos até nos lembrarmos. Há uma nova categoria. Todos nós temos coisas que jamais queremos esquecer. Todos nós precisamos de alguém que se lembre delas, só para garantir.”

A história de Fergus e Sabrina vai se costurando aos poucos, e é interessante ver como a autora tem facilidade para construir uma narrativa que é capaz de alcançar todos os personagens e dar sentido às suas participações na história, principalmente quando o passado e o presente se encontram. O Colecionador de Memórias é aquele tipo de livro que, embora curto, apresenta uma carga emocional considerável, e que prende a atenção do leitor pelos pequenos mistérios na narrativa, que queremos desvendar junto com a protagonista.

E por tratar de temas tão sensíveis quanto a relação fraterna, entre pais e filhos, a necessidade de mudanças e a coragem necessária para dar o ponta pé inicial para que ela aconteça, é o tipo de obra que pode ser lida por qualquer pessoa, em momentos diversos da vida, mas que tende a ser melhor aproveitada se o leitor estiver em busca de uma dose extra de aventura. E de esperança.

O COLECIONADOR DE MEMÓRIAS

Autor: Cecelia Ahern A

Editora: Novo Conceito

Ano de publicação: 2018

Quando Sabrina Boggs tropeça em uma misteriosa coleção de bolinhas de gude que pertencia ao seu pai, percebe que não sabe nada sobre o homem com quem cresceu. É uma coleção valiosa e incomum – incomum se ela pensar no homem que sempre conheceu. No entanto, há algo real lá dentro, muito verdadeiro sobre seu pai, ou sobre a criança que ele fora.
Sabrina só tem vinte e quatro horas para descobrir os segredos do homem que ela pensava conhecer. Um dia para exumar memórias, histórias e pessoas que não sabia existirem. Um dia que a mudará para sempre.
Fazendo uma busca pelas memórias de seu pai, Sabrina persegue uma busca de identidade; os segredos que ela trará à tona irão mudar tudo o que dava por certo em sua vida. Mas se seu pai não é o homem que ela achou que fosse, quem é a própria Sabrina?

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