O Conto da Aia, originalmente intitulado The Handmaid’s Tale, é um romance distópico escrito no ano de 1985 pela autora Margaret Atwood. Em 2017 a editora Rocco trouxe uma nova edição da obra ao Brasil.

SOBRE O LIVRO

Em um mundo desolado pelo caos de uma guerra em andamento, com a radiação chegando em alta na Terra, a poluição e a destruição da natureza, um grupo que se auto proclama como “Filhos de Jacó” toma o poder em um golpe de governo e instaura um novo regime teocrático. Um regime onde não mais existem os Estados Unidos da América, nem tão pouco uma democracia. Seu nome agora seria República de Gilead.

Essa nova configuração oferece um rigoroso sistema de castas para as mulheres, sendo elas: as Tias, responsáveis por educar as mulheres para suas funções sociais; as Marthas, que ficaram inférteis pelos efeitos da devastação e por fim, as Aias, as únicas mulheres que ainda são capazes de gestarem e que serão por tanto, usadas paras este fim.

Offred é uma mulher de trinta e três anos e têm uma vida comum: um emprego, um marido e uma filha, mas sua vida muda completamente com a instauração do novo regime. De acordo com este novo governo ela é apenas uma Aia na casa de um comandante do exército e sua esposa, e sua “tarefa” é dar-lhes um filho. Sendo apenas uma criada, suas possibilidades são pequenas, e tudo o que Offred tem permissão para fazer são as compras do dia em mercados com letreiros em forma de desenhos, uma vez que as mulheres agora perderam seus direitos, inclusive o direito de ler, e rezar. É claro que, sem que ninguém saiba, ela é livre para se lembrar de uma vida onde era feliz junto de seu marido e filha.

“Mas quanto a mim, tendo me exaurido ao longo de muitos anos a oferecer pensamentos vãos, ociosos e visionários, e, por fim, ter por completo perdido as esperanças de algum dia ter sucesso, felizmente, encontrei esta proposta…”

É em meio a essa opressão que vamos acompanhar a esperança de Offred de descobrir o paradeiro de sua família, resistindo com todas as forças ao regime totalitário, procurando em meio aos piores e mais assombrosos segredos daqueles que a controlam, mesmo que isso coloque sua vida em risco.


MINHA OPINIÃO

É importante dizer que esta não é uma história para aqueles que tem um estômago frágil, ou ainda aqueles que não se sintam bem saindo de sua zona de conforto. O conto da Aia é, antes de tudo, um livro para reflexão. Reflexão sobre até que ponto um mundo distópico está longe de se tornar real, e até que ponto nós podemos contribuir para que ele nos assombre pelo resto de nossas vidas.

Os termos utilizados na obra colocam as mulheres propositalmente como mercadorias, seres humanos sem nenhum direito sobre seus corpos e pensamentos, e ainda assim, podendo ser descartadas de forma ainda pior, como o que acontece com as “Não mulheres”. Sim, aquelas que se tornam tão “inúteis” que são consideradas “anomalias de Deus”, assim como os homossexuais, as feministas e aqueles que tentam se impor contra o regime.

O mais assustador desta obra é a forma como a autora cria um mundo onde a religião é a própria destruição de tudo que conquistamos ao longo dos anos. Através de um regime teocrático totalitário onde a romantização do estupro é feita como “um querer de Deus” e ele está presente, além de outras inúmeras atrocidades.

“No deserto não existe nenhuma placa que diga: não comerás pedras.”

Outro ponto interessante é o de que a autora consegue criar um universo extremamente conectado em cada aspecto, ao exemplo, temos o próprio nome da personagem principal: Offred, serva da casa de um comandante chamado “Fred”, ou seja, of Fred = do Fred. É assustador, mas ao mesmo tempo impressionante, como cada pontinho foi definido para causar incômodo, indignação e até mesmo um choque.

É claro que por todos os aspectos presentes na narrativa não conhecemos a fundo a vida dos personagens interiormente, mas acompanhamos a protagonista ao logo de todo o seu desespero e esperança de um dia reencontrar a vida que lhe foi tirada. Como dito, Offred era uma mulher comum, com um marido e uma filha aos quais ela sequer sabe para onde foram levados, e por isso muitas vezes se sente culpada por ter desejos e por ser quem é.

Um pequeno adendo seria ao fato da leve menção ao empoderamento feminino, à união e a resistência daquelas que mesmo sem forças ainda encontram coragem para lutar. Isso faz da obra algo atual e pulsante, pois vivemos em um momento de luta, mesmo em uma sociedade “democrática”, mas que ainda coloca as mulheres na inferioridade.

O Conto da Aia é uma história pesada e tocante e não vá esperando algo bonito ou bom, o propósito é exatamente incomodar o leitor, chocar a realidade. Mas, como muitas vezes é das sombras que retiramos nossa luz interior, certamente há uma mensagem muito importante aqui. Vale dizer que esta é, sem dúvidas, a melhor das leituras que realizei neste ano, então vale a pena conferir.

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O CONTO DA AIA

Autor: Margaret Atwood

Editora: Rocco

Ano de publicação: 2017

Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.

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