O Duelo dos Imortais é um prequel da série Deuses do Egito, escrita por Colleen Houck. É um lançamento de 2017 pela editora Arqueiro.

SOBRE O LIVRO

No início das Eras, o grande Deus-sol Amon-Rá utilizou as Águas do Caos para criar todas as coisas do universo, e também os outros deuses. Assim, cada um deles recebia um dom e era responsável por proteger ou oferecer algo aos humanos. Entretanto, o mais novo dos deuses, Seth, nasceu sem nenhum poder aparente. Já em sua fase jovem, seus poderes ainda não havia se manifestado, e com isso, todo mundo começou a desprezá-lo, fazer brincadeiras de mau gosto e a chama-lo de “deus impotente”.

O rancor de Seth foi crescendo e sufocando seu coração. Mas nem tudo estava perdido. Seth via em Ísis a razão de viver, o motivo de aguentar todas as chacotas. Ísis, a bela deusa da vida, havia desde muito cedo despertado a paixão em Seth. Porém, ela amava Osíris, e ambos viviam um romance proibido, escondido e com sentimentos sufocados. Mas um dia, Isis e Osíris decidem ir contra todas as leis e se entregar as vontades do coração.

“Ísis achava que seria cruel se apegar a um mortal. Ela tinha visto Seth brincar com as emoções dos humanos, e aquilo nunca acabava bem para eles.”

Seth fica enfurecido ao descobrir que seu grande amor está se perdendo, e nesse acesso de raiva seu poder se manifesta: ele é capaz de desfazer objetos, pessoas, animais, e quem sabe, até mesmo deuses. O pouco de luz que havia em seu coração se apaga e as sombras da escuridão tomam posse dele. Agora, com seu poder aumentando cada vez que desfaz algo, Seth planeja ter Ísis para si, por bem ou por mal, mesmo que isso signifique destruir todas as divindades, principalmente, Osíris.


MINHA OPINIÃO

A mitologia egípcia é fascinante e apresenta uma riqueza de histórias, lendas e mitos sem igual. Muitas delas são, inclusive, disputas movidas por vingança, poder, atenção e amor. Logo, a autora Colleen Houck deu sua própria versão aos antigos mitos em sua série Deuses do Egito. Neste livro, temos um prequel dos eventos que acontecem nos dois primeiros livros da série, que você pode ver a resenha aqui e aqui.

O Despertar do Príncipe eu achei bem bacana, mas O Coração da Esfinge foi bem tedioso, então minhas expectativas para esta prequel estavam neutras. De certa forma, quando terminei o livro, a sensação foi de dever cumprido, apenas. Não foi uma história excepcional, fantástica ou surpreendente. Foi apenas uma trama com deuses enciumados brigando pra ver quem era o melhor entre si. Creio que esse tenha sido o ponto negativo da história. Os “imortais” mais parecem pessoas comuns tendo um ataque de raiva e inveja. O duelo entre eles foi tão fraco quanto uma luta de espadinha de madeira.

“Nunca na vida ela havia desejado tanto uma coisa. Estar prestes a consegui-la e saber que a qualquer momento poderia perdê-la para sempre era uma experiência arrebatadora e apavorante – algo que ela nunca tinha vivido antes – e que não trocaria por nada.”

Os três principais personagens são Seth, Osíris e Ísis, mas Néftis e Amon-Rá também fazem aparições. Osíris é apontado como o deus da agricultura, alto, forte, belo e musculoso, um homem sem igual de arrancar suspiros desejosos de qualquer mortal. Ele é relativamente engraçado, fazendo humor nas horas certas e está sempre disposto a ajudar caso alguém precise. Mas sua principal virtude era a de respeito. Apesar da atração que sente por Ísis, ele sabe que se relacionar com ela era contra as leis criadas no início das Eras. Assim, sempre tentava ocultar seus sentimentos e até mesmo fugir das investidas de sua irmã (sim, os deuses eram irmãos e relacionavam-se entre si).

Já Ísis, era o oposto em relação aos sentimentos. Sempre que possível manifestava seu interesse em Osíris e quase sempre tentava chamar-lhe a atenção. Era uma deusa graciosa, bela e de grande estatutura. Possuia grandes e belas asas, das quais podia-se obter a cura para várias doenças. Ísis passava grande parte de seu tempo na Terra, ensinando coisas novas as mulheres e cuidando das crianças. Sua mortal preferida era Baniti, uma doce senhora de idade já avançada, considerada uma irmã para a deusa. Mas no fundo, Ísis sofria por não ser correspondida por Osíris, e por isso, ficar na Terra lhe era mais uma fuga de realidade do que realmente um dever divino.

Seth, por outro lado, desprezava os humanos, os outros deuses e odiava ser impotente. Sempre se viu como fraco, sem ser capaz de atrair a atenção das mulheres imortais e nem mesmo de ser engraçado ou atraente como o irmão. Seth tinha inveja dos demais, pois ele era visto como inferior. O que ele era? Um deus sem poder não poderia ser chamado de Deus. Tudo isso alimentou seu coração com rancor e obsessão por poder e glória, e quando enfim seu poder desperta, o mal já havia fixado raízes suficientes para ele se tornar perverso e usar o seu dom para destruir qualquer coisa. Já não importava mais o que ele fizesse, seu único objetivo era ter Ísis para si e com ela ter controle absoluto sobre todos.

“Estranhamente, os animais pareceiam ter um sexto sentido. Eles o evitavam ou se esgueiravam para longe da forma mais silenciosa e veloz possível. Ele gostava do respeito que demonstravam por ele agora. Em sua opinião isso os tornava espécies superiores na Terra.”

Apesar da trama movida por romance, ela se baseia no mito original de Osíris. Na lenda verdadeira, Seth tem obsessão pelo trono ocupado pelo outro, já que este governava o Egito. Ísis já era casada com o rei, e teve grande importância em restabelecer a Ordem no Egito, após os danos causados por Seth. Em todos os lugares que procurei, não menciona se o poder dele era de desfazer coisas, mas o fato é que Seth era conhecido como o Deus da guerra, do deserto, da maldade e do caos. Diante disso, dá pra dizer que ele desfazia as coisas mesmo. Independente do poder verdadeiro que o deus da guerra tinha, achei bacana a visão da autora sobre o mito e a forma como ela deu um sentido menos terrorista à lenda.

Entretanto, este livro não é onde encontra-se profundas críticas ou grandes questionamentos.  Talvez o única crítica feita é em relação a nossa visão moderna dos deuses, em comparação a visão antiga. Hoje há uma visão de que os deuses (ou Deus) são seres perfeitos, nunca erram, que são incorruptíveis. Já na antiguidade, seja nas histórias nórdicas, gregas, egípcias, sumérias, etc, os deuses não eram tão perfeitos assim. Eles erravam, faziam más escolhas, enfrentavam as consequências, e assim por adiante.  A trama da história então parece dizer “olha, os deuses, apesar de poderosos, também erravam. Ou seja, não eram tão diferentes de vocês humanos“. Neste quesito, considerando os mitos originais, eu gostei bastante da comparação. O problema ficou mesmo no excesso de humanização desses seres. Se você tirar (1) que são imortais e (2) que tem poderes, o resultado final deste conto daria quase na mesma coisa. Os outros personagens, Néftis e Amon-Rá, só aparecem em alguns momentos para distribuir a tensão e amenizar o conflito. Fora isso, só estão ali para preencher espaço.

Outro ponto relevante a comentar é que na sinopse, há uma parte que diz que esse prequel daria a entender porque Seth precisa ser detido a cada mil anos por três jovens e tudo mais. Ou mesmo porque Seth quer destruir todo o planeta. Pois bem, se a intenção da autora era essa, ela falhou, e muito. Porque em nenhum momento do “duelo” fica claro a razão dos eventos que acontecem O Despertar do Príncipe e Coração da Esfinge. Na verdade, o Seth retratado naqueles dois livros nem de longe se parece com o Seth deste. Uma pena, pois a brecha na história ainda se mantém. Espera-se, então, que no terceiro livro (Coroa da Vingança, pelo que consta) que Seth explique o porque de sua raiva.

“Talvez você tenha razão – concedeu Osíris – Seria mais fácil. Mas o caminho mais fácil nem sempre é o melhor. A luta costuma fortalecer.”

Assim como já falei nas resenhas dos outros dois livros, a edição e diagramação estão lindíssimas. As capas metalizadas, com essa combinação de cores e elementos egípcios, tornando os livros mais atrativos. Acho meio difícil ver estas capas e não sentir uma “coceirinha” em pelo menos conhecer do que se trata. Há apenas um detalhe diferente aqui, o papel é mais grosso, creio eu que para dar volume ao livro, já que possui aproximadamente 100 páginas. Também, algo que não comentei nas outras resenhas, a escolha dos nomes da edição brasileira fazem mais sentido que os nomes originais (que em tradução literal ficariam Despertado, Recriado, Reiniciado e Reunido). Em resumo, a editora Arqueiro está de “tirar o chapéu”.

O Duelo dos Imortais poderia ter sido melhor e ter aumentado as minhas expectativas para o final da série que se aproxima, mas ainda assim, manteve-se na média. Logo, pretendo finalizar a trilogia e espero que responda a todas as perguntas que ficaram em aberto. Ainda que tenha romance, a leitura se mostrou agradável e tranquila, apaziguando quaisquer sensações extras de euforia e/ou estresse. Só por isso já vale a recomendação para quem queira ver, através de uma forma bem diferente, quais razões levaram Seth a se tornar o deus temido por todos os egípcios da Antiguidade.

O DUELO DOS IMORTAIS

Autor: Colleen Houck

Editora: Arqueiro

Ano de publicação: 2017

Quem são os deuses que regem os caminhos e descaminhos de Amon e Lily, os corajosos heróis da série Deuses do Egito? Por que esses deuses tramam conquistas e vinganças, envolvendo a humanidade em suas maquinações? E por que deixam nos ombros de alguns jovens mortais a responsabilidade pela salvação do mundo? Antes que Lily e Amon se encontrassem, antes mesmo que o caos dominasse o cosmos e os deuses precisassem de três irmãos corajosos para combater o mal, muita coisa já estava em jogo. Em O duelo dos imortais, vamos conhecer a história dos quatro irmãos que assistiam, com seus poderes especiais, o grande Amon-Rá no governo da Terra: Osíris, o generoso deus da agricultura, que ajuda os mortais a crescer e prosperar em seu ambiente natural. Ísis, a linda deusa da criação, que promove a saúde e o bem-estar. Néftis, a doce vidente, que mantém o equilíbrio entre os seres vivos e o universo. E por último Seth, o mais jovem, que cresceu desprovido de poderes e desprezado por todos. Quando, finalmente, os poderes de Seth se manifestam, que efeito sobre a humanidade terá a perigosa mistura de uma infância marcada pela rejeição, uma intensa paixão não correspondida e o incrível poder de desfazer coisas, pessoas… e até deuses? Romance, traição e vingança são os fios que tecem esta trama surpreendente, cujos personagens imortais despertam em nós os mais profundos sentimentos.

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