O Ódio Que Você Semeia de Angie Thomas é um lançamento de 2017 da Galera Record.

Sobre o Livro

Starr, desde muito cedo, aprendeu com os pais como se comportar no mundo, principalmente se envolvesse policiais. Dividida entre dois “mundos”, a garota, que é negra, estuda em um colégio de elite branca mas vive em um bairro onde a comunidade negra tem o domínio. Junto com ele as gangues e o tráfico também atuam, tornando a visão exterior mais real do que deveria. Mesmo assim, a garota sabe que há muito de bom lá e divide sua personalidade entre a cool e descolada da escola, com a jovem que atende no mercado do pai.

“Às vezes, você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importante é nunca parar de fazer o certo.”


Porém, tudo muda quando ela vê seu melhor amigo Khalil ser morto quando são parados por uma viatura da polícia. Única testemunha da situação, cabe a ela contar a verdade e buscar por justiça. Mas, nem todo mundo pode ver isso com bons olhos e enquanto tenta fazer o bem pode também pôr a si e a sua família em risco.


Minha Opinião

Quando esse livro saiu todo mundo falou sobre ele com fervor e realmente fiquei intrigada por ser um tema que eu não leio muito e, que ao pensar sobre, também não é muito retratado de forma “natural” nos livros. Em O Ódio Que Você Semeia temos uma protagonista negra, em uma comunidade negra, sofrendo uma vivência que é dita como “característica”, mas que não deveria ser em partes.

Para Starr sua comunidade é seu lar, é onde está sua família e sua vida. Mas ao mesmo tempo é um lugar com gangues, tráfico e isso ressoa mais forte para quem de fora do que qualquer característica positiva.

Essa é uma situação onde não existe se colocar no lugar, porque nunca alguém que não sofreu preconceito vai conseguir sentir exatamente como a pessoa se sentiu. Mas existe uma coisa muito importante chamada EMPATIA que deveria ser usada com mais frequência. Muitas pessoas acham que preconceito racial não existe mais, que simplesmente, quando a escravidão acabou, tudo se resolveu num passe de mágica. E, por mais que pareça absurdo, sim, isso existe. Tanto a crença do não preconceito, quando o próprio, vivo e pulsante dentro da sociedade.

“Engraçado. Senhores de escravos pensavam que estavam fazendo a diferença na vida dos negros também. Salvando eles de seu modo de vida selvagem e africano. Mesma merda, outro século. Eu queria que gente como eles parasse de pensar que gente como eu precisa ser salva.”

Eu não vou bancar a correta e dizer que nunca tive um pensamento racista. A nossa cabeça é algo complicado, mas sei que tentei e tento ainda me reeducar a reprimir qualquer estranheza que cruze a cabeça, porque sei que é errado. E lendo esse livro foi como redescobrir uma parte da vida que eu já vi em séries e até filmes, mas que com o tempo é esquecida. Também foi um livro muito esclarecedor quanto a visão da própria comunidade de si. E acho que isso, na real, foi o que mais me perturbou.

A trama central gira em torno do conflito de Starr sobre o que fazer com relação à morte do amigo. Ela sabe que a polícia vai proteger o policial e a imprensa vai o pintar como criminoso. Porém, mesmo que ela tenha sido testemunha ocular, será que a palavra dela é suficiente para fazer justiça? E se isso, de alguma forma, expor alguém poderoso dentro da comunidade, colocando-a em risco? Até onde é justo ou seguro ir atrás de justiça?

“Nós deixamos as pessoas falarem certas coisas. E eles falam tanto, que se torna normal pra eles e para nós. Qual é o sentido de ter uma voz, se ficamos calados quando não deveríamos?”

Enquanto remói isso na cabeça ela tenta se reconectar consigo, pois todo dia cria uma desassociação ao ir para a escola. Aquela, entre os brancos é outra Starr, e sua relação com o namorado também não ajuda a esclarecer. Aos poucos a jovem vai se questionar se é “certo”  que ela namore um branco, porque ele não compreende, porque eles “não deveriam” estar juntos. Disso à uma possível repreensão do pai ao descobrir sobre a relação que vive escondida, começamos a ver que existe o preconceito de volta, aquele que é feito do negro ao branco. Diferente da forma pejorativa como acontece do “nosso” lado, parece quase como um mecanismo de defesa. Esperando que vão ser tratados de forma diferente, repelem-se os brancos. Vocês já pensaram sobre isso?

E algo que eu gostei de ver aqui é que a Starr, mesmo com a confusão ao seu redor é muito certa de si e do que ela acredita ser o seu lugar. Ela vê o racismo. Ele a incomoda. E isso se acentua com a situação. Porém não há a exposição de “vitimismo”. É real e cada vez mais a faz questionar a forma como ela, de certa forma, se vê, principalmente no que diz respeito a deixar seus mundos separados. O alinhamento disso é algo que a personagem vai buscar.

Esse também é um livro sobre luto, pois mesmo que o choque seja um fator, é no luto de Starr que muitas dessas questões surgem. E, claro, a questão da polícia. Tem uma parte do livro que explicaria uma logística social para manter as “periferias” do mesmo jeito, sendo a sociedade a alimentar esses lugares para que eles mantenham seus status. A proteção policial sobre o seus, acima da verdade. A própria lei abrindo brechas para que o racismo aconteça.O próprio significado do nome do livro tem um peso sobre a história e o que ele representa. A explicação vem no começo e depois sofre um acréscimo por um outro ponto de vista.

É muito triste pensar sobre essas coisas e ver o quanto ainda temos um longo caminho pela frente, principalmente tendo em vista que líderes de países importantes são pessoas preconceituosas que não vão auxiliar nessa evolução, muito pelo contrário.

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O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA

Autor: Angie Thomas

Editora: Galera Record

Ano de publicação: 2017

Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos.
Deixe sempre as mãos à mostra.
Só fale quando te perguntarem algo.
Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos – no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.
Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.
Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.

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