Os Robôs da Alvorada é o terceiro livro da Série dos Robôs, escrito por Isaac Asimov. Foi relançado pela editora Aleph 2015.

SOBRE O LIVRO

Dois anos depois dos eventos em Solaria, o detetive Elijah Baley se tornou famoso em todos os mundos siderais e reconhecido como o melhor investigador para casos complexos. Agora, um novo crime surgiu para ele resolver, mas as evidências são controversas e praticamente improváveis.

Em Aurora, o mais antigo e mais desenvolvido planeta Sideral, um robô humanoide, idêntico ao seu colega Daneel Olivaw, foi “assassinado” e todas as evidências apontam para uma única pessoa: o criador do robô, Dr. Hans Fastolfe. Entretanto, também há evidências que provam que o Dr. é completamente inocente.

“Se nós estivermos cercados por uma civilização mais interessada e mais vibrante, vamos definhar com o simples poder da comparação; nós morreremos quando percebermos o que nos tornamos e o potencial que desperdiçamos.

Diante desse caso paradoxal, Elijah mergulhará em descobertas importantes para o futuro da Terra e futuramente de toda a Galáxia, ao mesmo tempo em que se vê imerso em um mundo onde humanos e máquinas já não possuem tanta diferença entre si, sejam elas física ou psicológica.


MINHA OPINIÃO

Lá pela metade da leitura deste livro percebi uma coisa que até então eu não tinha certeza: as histórias da Série Robôs nada mais são do que a contínua exploração das Três Leis em seus mais profundos sentidos. Se lá nos contos da coletânea “Eu, Robô“, o autor já havia explorado várias possíveis falhas, nesta série ele mostrou que é possível ir um pouco mais além. Assim sendo, por mais que as Três Leis sejam garantidas de segurança aos seres humanos, elas ainda pode ser contornadas, de um jeito ou de outro.

Também neste livro, que é o mais longo dos três, temos uma notável diferença na expansão do universo da série. Não só conhecemos o planeta mais antigo da colonização humana – logo, o mais bem desenvolvido tecnologicamente –  como também temos uma pequena introdução para as duas séries que vem na sequência – a série Império Galático e aclamada série Fundação. E, claro, a “marca registrada” do autor: construir críticas sociais diante dessa nova sociedade aparentemente igualitária e sem preconceitos.

“Tudo é aceito no que se refere a sexo… tudo o que é voluntário, que gera satisfação mútua e não causa dano físico a ninguém. Que diferença poderia fazer para qualquer outra pessoa o modo como um indivíduo ou uma combinação qualquer de indivíduos encontrou satisfação? Alguém se preocuparia em saber que livro-filmes eu vi, o que eu comi, a que hora fui dormir ou acordei, se gosto de gatos ou não gosto de rosas? O sexo também é uma questão de indiferença… em Aurora.

Após ter uma espécie de epifania no planeta Solaria, o detetive Elijah Baley já não mais teme tanto os espaços abertos. É apenas questão de tempo até o personagem se adaptar ao ambiente em questão. Mesmo assim, anos de ‘reclusão espacial’, não são apagados com facilidade, e em alguns momentos a fobia de sair voando pelo céu de uma hora para outra o aflige. Um desses momentos acontece em Aurora, mas de propósito. O Dr. Hans Fastolfe, cientista por inteiro, vê em Elijah uma chance de “praticar ciência” e por isso o usa como cobaia em vários momentos. Isso é interessante pois, desde o começo da narrativa temos por certo que o Dr. Hans é inocente da morte do Robô, mas as suas ações dão a ele uma personalidade questionadora. Se ele faz testes não informados em Elijah, será que também não teria de fato testado o robô até o seu limite? Será que Hans é mesmo inocente como alega?

Aurora é um planeta belo e até mesmo distópico. A sociedade é composta por humanos e robôs coexistindo em harmonia, a lei trata como crime a destruição de máquinas robotizadas e os autômatos até mesmo não tem a comum distinção “Robô Fulano de Tal”, como acontece nos outros planetas. Ali eles são simplesmente “Fulano de Tal”, como qualquer ser humano. Não são vistos apenas como um amontoado de engrenagens e fios; são aceitos também como um ser vivo.

“A insuperável Primeira Lei da Robótica declara: ‘Um robô não pode ferir um ser humano…’: repelir um gesto de amizade feriria o humano.

É legal notar a diferença nos questionamentos que esta série trás em relação às questões socais. No primeiro livro, temos uma grande onda de desconfiança e ódio em relação às máquinas. No segundo, temos uma completa “devoção” e dependência fornecida por elas. Já neste livro, o que temos é o modelo “ideal” de sociedade, uma liberdade poética utópica. Aurora seria A República de Platão, a Ilha de Utopus descrita por Thomas More. Aurora é o mundo onde humanos e máquinas coexistem, se dão bem e se aceitam como são. A Lei trata como crime vandalismo contra robôs, concede à eles direitos que em nenhum outro mundo sideral teriam. Os autômatos são tratados como seres vivos também.

Fazendo uma breve reflexão com o mundo que nos cerca, vemos como são importantes estes questionamentos trazidos por Asimov. Nossa sociedade tem problemas em aceitar orientação sexual, diferentes etnias, movimentos culturais, etc. Vivemos em um “mundo civilizado” mas isso está longe de ser o melhor que podemos ter. Enquanto que, como alegoria crítica, temos uma sociedade que evoluiu a tal ponto de aceitar máquinas – esses amontoados de engrenagens, fios e pecinhas minúsculas – como seres vivos. Dá pra imaginar isso?

Claro que, apesar de tudo, um mundo 100% perfeito não existe e a “morte” do robô proporciona a exposição desses defeitos. Quanto mais tempo Elijah passa no planeta sideral, mais ele nota que os auroreanos esconde pequenas pequenos preconceitos, sutis sensos de superioridade, e por aí vai. Não apenas isso, também observa que os humanos daquele planeta deixaram de evoluir em alguns outros sentidos. A sociedade de lá poderia ser muito mais avançada do que realmente é, ter várias culturas, crenças e gostos, mas tudo parece ser único e global; isso desperta uma profunda inquietação no detetive. É nesse momento que temos um novo estalo e pensamos “é aqui que o título do livro faz ainda mais sentido”.

“Pessoas que sonham com justiça são tão propensas a se desapontar… e costumam ser pessoas tão maravilhosas que odiamos ver isso acontecer.”

Asimov não poupou esforços em transformar este livro em uma grande discussão política e social. Por isso mesmo, por querer tratar de vários assuntos e se estender muito neles que a leitura se tornou um pouco arrastada e cansativa. Ao meu ver, algo que seria muito bom para dar ritmo à narrativa seriam cenas de ação. Porém, são mais presentes longos monólogos de análise política e suas devidas implicações. De vez em quando há uma cena ou outra que acelera um pouco a trama, mas fora isso, a maior parte é mais devagar mesmo.

Apesar de ter sido uma leitura mais demorada que a dos livros anteriores, eu gostei da forma como o livro “conclui” a série dos robôs. Há um quarto livro, mas ele serve mais de ponte entre esta série e a outra do que continuação mesmo. Inclusive, este quarto volume já está em posse da editora Aleph, mas sem previsão de quando vai ser publicado (o que é uma pena!). Chegando ao fim desta jornada robótica, me despeço dos robôs com carinho e maior admiração. Em meio a tantas histórias e filmes sobre máquinas mortíferas, Asimov despertou em mim um pouco mais de esperança sobre o futuro, para que quando ele chegar até nós, usemos máquinas em benefício de todos, e não como ferramentas de destruição e guerra. Quem sabe assim, quando superarmos todas essas barreiras e preconceitos que hoje temos, possamos de fato nos chamar de “civilizados”.

OS ROBÔS DA ALVORADA

Autor: Isaac Asimov

Tradução: Aline Storto Pereira

Editora: Aleph

Ano de publicação: 2015

Os Robôs da Alvorada, terceiro volume da Série dos Robôs, de Isaac Asimov é uma mistura de ficção científica e romance policial. Dessa forma, ele mantém o mesmo estilo noir dos outros livros da série, considerada uma das mais populares do gênero. Lançado em 1983, este é o romance responsável por conectar todo o universo criado por Asimov. Nele os personagens dialogam com contos de Eu, Robô, o Homem Bicentenário e citam conceitos que serão utilizados na versão dos anos 1980 de Fundação. Em Os Robôs da Alvorada, o detetive Elijah Baley é novamente convocado para uma investigação em um Mundo Exterior. Com ajuda de seu parceiro e amigo R. Daneel Olivaw, Baley terá de solucionar um crime bastante peculiar: um caso de roboticídio que coloca em xeque a reputação de um importante estudioso de Aurora, um planeta onde robôs e humanos convivem em harmonia. Desta vez, o detetive está prestes a enfrentar conflitos ainda mais complexos que influenciarão não só sua própria segurança, mas também o futuro da humanidade.

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