Quando apareceu a primeira vez em Capitão América: Guerra Civil (2016), o Pantera Negra causou grande expectativa. Ao sair do cinema, eu tinha a sensação de que um heroi muito incrível havia sido inserido no Universo Cinematográfico da Marvel e fiquei ansiosa para assistir à história solo do personagem. Apesar de o filme não ser tudo que eu imaginava, a obra tem muito mérito e aponta discussões relevantes.

O primeiro ponto que merece destaque é a questão da representatividade. E aqui dois aspectos são muito importantes: a cor e o gênero. Até então, a Marvel só havia nos apresentado heróis brancos e, em sua esmagadora maioria, homens. E por mais que vários outros elementos que compõem os personagens sejam importantes para estabelecermos uma ligação, os dois citados acima são os primeiros pontos que chamam a atenção. Dessa forma, o estúdio expande o seu universo ao apresentar homens negros com fonte de riqueza e poder, como T’Challa (interpretado por Chadwick Boseman) e Erik Killmonger (interpretado por Michael B. Jordan), e mulheres negras fortes, guerreiras e determinadas como Nakia (interpretada por Lupita Nyong’o) e Okoye (interpretada por Danai Gurira).

O mote principal da história é a disputa pelo trono de Wakanda e toda a sua fonte de Vibranium (o mesmo metal do escudo do Capitão América). A cidade veio sobrevivendo ao longo do tempo graças a proteção do Pantera Negra – que há muitos anos atrás unificou as cinco tribos da região. Com a morte de seu pai, T’Challa precisa passar por um ritual para assumir o trono: cada um dos líderes das tribos podem oferecer um desafiante para confrontá-lo em uma luta até a morte ou até que um deles desista. O vencedor ganha o reino e os poderes do Pantera. Isso serve de pano de fundo para uma discussão profunda sobre as escolhas que o pai de T’Challa, assim como outros reis, fizeram ao longo dos anos. Ao assumir, ele deseja manter a tradição de esconder a cidade e toda as suas riquezas, bem como de não interferir em disputas de outras nações.

Como contraponto a visão de mundo de T’Challa, temos a personagem de Lupita Nyong’o, que apesar de gostar do seu rei não acredita que essas escolhas estejam ajudando as pessoas negras que vivem fora do território. Dessa forma, ela busca, por conta própria, outras maneiras de lutar e proteger seu povo. Essa também é a ideia do personagem de Michael Jordan (que por sinal está muito bem nesse filme), mas sua busca por justiça vem de anseios mais violentos e radicais. Sendo também um herdeiro legítimo ao trono, visto que é primo de T’Challa, Erik quer usar todo o avança tecnológico e poder de fogo de Wakanda para eliminar quem ele acredita ser o inimigo.

A sensação que tenho é que tanto T’Challa, quanto Erik, têm pontos de vistas válidos, mas, ao mesmo tempo, controversos. Por um lado, o novo rei acredita que a melhor forma de proteger seu povo é mantendo Wakanda e sua fonte de Vibranium escondidos, mesmo que precise ignorar as disputas e mortes que ocorrem fora do território. A negligência beira, até mesmo, os povos de dentro da comunidade, como na cena em que o líder da tribo dos Jabari lhe nega ajuda dizendo que ele é o primeiro rei que visita sua aldeia em séculos e agora quer dizer que todos são um só e devem lutar juntos. Por outro lado, o personagem de Jordan deseja acabar com todo o sofrimento imposto aos negros ao longo dos anos (mesmo que ele mesmo tenha matado vários deles trabalhando no exército). Ele não cresceu em Wakanda, mas em uma região pobre dos EUA. Sua história de vida e visão de mundo são bem diferentes das de T’Challa, de maneira que o personagem tem falas fortes como “Curar e então me prender? Não. Só me joga no oceano, com meus ancestrais que saltaram dos navios, já que a escravidão era pior que a morte”.

Do ponto de vista estético, o filme é muito bonito. A construção dos cenários (sejam eles digitais ou não), o uso das cores e o cuidado com os figurinos demonstram o quanto a produção e o diretor (e também co-roteirista, Ryan Coogler) tiveram cuidado em transmitir a cultura negra em toda a sua essência e diversidade. É curiosa a forma como o moderno e o antigo se mesclam no filme. É perceptível que Ryan deseja mostrar que por mais avançada tecnologicamente que Wakanda possa ser, nem todas os moradores da cidade, nem os das demais tribos que a norteiam, compartilham desse ‘avanço’ (fica o questionamento se é para mostrar que certos povos desejaram manter suas tradições ou se, na verdade, somente os mais próximos ao rei podem ter acesso a tecnologia). As lutas, apesar de bem sincronizadas, não oferecem tanta ação e movimentos formidáveis do Pantera, mas são razoáveis.

No final das contas, Pantera Negra não é o filme que eu esperava, mas é um filme necessário.

PANTERA NEGRA

Diretor: Ryan Coogler

Elenco: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong’o e mais

Ano de lançamento: 2018

Após a morte do rei T’Chaka (John Kani), o príncipe T’Challa (Chadwick Boseman) retorna a Wakanda para a cerimônia de coroação. Nela são reunidas as cinco tribos que compõem o reino, sendo que uma delas, os Jabari, não apoia o atual governo. T’Challa logo recebe o apoio de Okoye (Danai Gurira), a chefe da guarda de Wakanda, da irmã Shuri (Laetitia Wright), que coordena a área tecnológica do reino, e também de Nakia (Lupita Nyong’o), a grande paixão do atual Pantera Negra, que não quer se tornar rainha. Juntos, eles estão à procura de Ulysses Klaue (Andy Serkis), que roubou de Wakanda um punhado de vibranium, alguns anos atrás.

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