Rio: Zona de Guerra é o primeiro livro do escritor e advogado carioca Leo Lopes e foi publicado pela editora AVEC em 2014. Esse livro é uma ficção policial cyberpunk e já está sendo adaptado para o cinema, com estreia prevista para 2017.

SOBRE O LIVRO

Em um futuro não muito distante, com a crescente desigualdade social e econômica, o Estado entrou em colapso. Não podendo mais garantir a segurança pública e a ordem social, o governo foi derrubado e mega corporações multinacionais assumiram o poder. Para evitar que o caos se tornasse ainda maior, essas corporações criaram as cidades-fronteiras (cidades com enormes muros separando a elite dos menos favorecidos) e com elas, as polícias corporativas.

No Rio de Janeiro, a Fronteira, uma imensa muralha intransponível e vigiada 24 horas por dia, protege os interesses das corporações do que há do lado de fora, a chamada Zona de Guerra, onde gangues lideram e criam suas próprias leis. Porém, quando um assassinato de uma prostitua ocorre em um edifício de uma mega corporação, um detetive particular é recrutado para investigar o caso.

“Freitas imaginava até o que o policial corporativo estava pensando. Que era impossível um cara vindo da Zona de Guerra, depois de seis anos, aparecer sem um arranhão e ainda mais com um passe permanente de entrada e saída.”

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Carlos Freitas é um ex-policial corporativo que trocou sua vida na Fronteira para viver na Zona de Guerra. Freitas não se encaixava naquele estilo de vida a não compreendia como os corporativos podiam deixar tantas pessoas à mercê da desgraça no lado de fora. Agora, após 6 anos vivendo nessa área de conflito, ele é chamado por Viviam, uma prostituta de luxo, para investigar o assassinato da sua amiga. Mas o detetive não imagina que ao aceitar o trabalho, estará colocando sua vida em risco e que irá descobrir segredos que até mesmo as outras mega corporações desconhecem.


MINHA OPINIÃO

Conheci o livro por acaso quando pesquisava por livros nacionais. Fiquei bastante interessado na premissa cyberpunk/distópica  e quando vi que se tratava de uma ficção policial, fiquei mais instigado a conhecer a história. Gosto muito de ficção policial, e este tinha um cenário bem diferente do que estou acostumado a ler dentro do gênero. Fiquei um pouco receoso, contudo, devido as suas poucas páginas. Um livro curto e com um cenário futurista, onde inúmeros detalhes podem ser explorados, conseguiria contar uma boa história? A resposta é sim.

Com aproximadamente 205 páginas, Leo Lopes foi objetivo no que a trama pretendia mostrar. A narrativa em terceira pessoa foca nos passos e ações de Carlos Freitas, o detetive. Há poucos capítulos onde a narrativa muda de personagem. E quando muda, de uma forma ou de outra acaba voltando ao personagem do ex-policial.

Enquanto lia, não pude deixar de notar uma certa semelhança com o enredo do filme Eu, robô, baseado na obra homônima de Isaac Asimov. No filme, o policial Spooner não confia nos robôs e prefere as tecnologias já consideradas ultrapassadas do que as novas. Em Rio: Zona de Guerra, o detetive Freitas não confia nas mega corporações e prefere as armas antigas e de tecnologia “ultrapassada” do que as modernas. Dentro da Fronteira, desconfiando de tudo e de todos, o detetive reencontra uma velha paixão e usará esse momento para explicar os seus motivos. Renata, apesar de tudo, resolve ajudar Freitas em sua missão na cidade.

“As portas do elevador se abriram em seu andar, e ela caminhou até a placa biométrica. Reconhecendo sua proprietária, o apartamento abriu-se para ela e começou a fazer os relatórios para que havia sido programado.”

Neste cenário cyberpunk, temos uma sociedade que não vive sem tecnologia. Tudo na vida dos personagens que moram dentro da Fronteira depende dos equipamentos eletrônicos. Os apartamentos possuem inteligências artificiais que reconhecem os proprietários; os carros não possuem mais rodas, pois agora funcionam através de electromagnetismo e colchões de ar; as armas dos policiais funcionam por reconhecimento de DNA do proprietário, e o dinheiro físico não existe mais. A moeda desta sociedade é o chamado crédito , e para utilizá-lo, os personagens dispõem de um dispositivo chamado BPM – Banco Pessoal de Memória, uma espécie de pen drive que permite as transações. Nas cidades, os edifícios são descritos como tendo 30, 40 andares e a segurança é reforçada com a utilização de drones por todos os lados. Outro detalhe do cenário futurista é que não há mais prisões. Quando alguém é condenado por algum crime, é banido da Fronteira e jogado na Zona de Guerra.

Mas o principal foco deste cenário é a representação do abismo entre as classes sociais, tanto no Rio de Janeiro como no restante do mundo. Nessa sociedade futurista, quem possui muitos créditos tem uma vida plena, segura e aconchegante dentro da Fronteira. Quem não possui, é deixado à própria sorte no lado de fora da muralha, onde ladrões, assassinos, estupradores e gangues criam suas próprias leis. Se formos comparar, não é muito diferente do que acontece hoje em dia nas favelas das grandes cidades do país. Lá inúmeras pessoas vivem diariamente em meio aos confrontos entre traficantes, enquanto a maior parte da população, no centro da cidade, dispõem de mais segurança e conforto. Inclusive, o autor comenta, na orelha do livro, que usou de sua experiência pessoal para retratar as desigualdades que via no trajeto de sua casa, na Barra da Tijuca, até a faculdade, no subúrbio do Rio.

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E como era de se esperar, há romance na história. Freitas tem uma queda por Viviam, a sua contratante, mas o seu reencontro com Renata reacende alguns de seus mais profundos sentimentos. Mesmo assim, a narrativa não perde o foco e o romance entre os personagens vira mero detalhe, tão pequeno que não atrapalha no andamento da narrativa. O que ao meu ver foi muito bom. Já li vários livros onde o autor utiliza o romance – geralmente desnecessário – como forma de escapar da trama principal e acumular mais algumas páginas.

A narrativa é simples e apresenta bastante palavrões. Mas é de forma intencional, demonstrando como a sociedade declinou, tanto em educação quanto em qualidade de vida. E o que dizer desta capa? Muito bem feita, bem desenhada. A capa, inclusive, dá bastante detalhes do mundo criado por Leo Lopes, o que se mostra muito útil durante a leitura. O que poderia ser melhorado, ao meu ver, é a conexão entre as seções do livro. São poucos os capítulos que terminam de uma forma que desperte o desejo de ir para o próximo.

“- Você foi embora!!! Você acha que aquilo lá é ruim? Você não sabe as coisas que eu tive que fazer para sobreviver aqui dentro. A Zona de Guerra pode ser o Inferno, mas o Diabo mora dentro da Fronteira.”

O desfecho da história me surpreendeu um pouco. Conforme a história vai se desenvolvendo, é possível criar suspeitas sobre o futuro de alguns personagens, acreditando que eles possam ser os possíveis assassinos da prostituta. Porém, quando Freitas enfim resolve o caso, o assassino é completamente diferente do esperado. Mas aí, o autor não desenvolve muito bem esse assassino e a motivação do crime também parece não fazer sentido, o que tira o mérito da revelação. Mesmo deixando um pouco a desejar, as linhas finais sugerem uma continuação, o que já foi negado pelo autor. Segundo ele, apesar da possibilidade, o livro foi escrito para ser único.

A experiência que tive com este livro foi muito bacana e pretendo ler outras histórias ambientadas em mundos cyberpunks. E confesso que estou ansioso com o lançamento do filme, no ano que vem.  Vai ser muito bacana ver como esta sociedade futurista será representada no cinema nacional. Se você gosta de de ficção policial e ficção cyberpunk, Rio: Zona de Guerra é uma boa escolha.

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RIO: ZONA DE GUERRA

Autor: Leo Lopes

Editora: AVEC

Ano de publicação: 2014

Em um futuro próximo, as desigualdades sociais e econômicas chegaram a níveis tão alarmantes que o Estado não tem condições de manter a ordem e garantir a segurança pública. E vamos torcer para a adaptação ser um espetáculo em 2017.
Todo o poder é concentrado nas mãos de mega corporações multinacionais que criam e impõem as leis por meio de suas milícias particulares, chamadas Polícias Corporativas.No Rio de Janeiro, a Fronteira, uma muralha intransponível que cerca a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes, protege os interesses das mega corporações, relegando os habitantes dos demais bairros a uma vida sem lei em um território dominado pelas gangues.Tudo pode acontecer quando o assassinato de uma prostituta no edifício de uma mega corporação leva um detetive particular a voltar para a Barra da Tijuca após anos de exílio no que todos se acostumaram chamar de Zona de Guerra

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