Solaris é um livro de ficção científica escrito pelo polonês Stanislaw Lem. Foi relançado em 2017 pela editora Aleph.

SOBRE O LIVRO

Numa região distante do universo, um planeta chamado Solaris abriga um oceano imenso e muito incomum. Há anos a raça humana mantém uma base científica no planeta para estudar e entender a sua natureza. Segundo os estudos, o oceano é um imenso organismo vivo, e até onde parece ele está tentando se comunicar com os humanos.

Para tentar desvendar esse mistério e possivelmente estabelecer uma comunicação, é enviado à estação o psicólogo Kris Kelvin. Logo que chega na unidade de pesquisa, Kelvin percebe que Solaris esconde muito mais segredos do que até então fora revelado ou compreendido. Para complicar a situação, ele nota uma certa tensão e temor por parte de seus colegas, que passam a maior parte do tempo trancados em seus laboratórios ou quartos.

“Nós partimos para o cosmos preparados para tudo, quer dizer, para a solidão, para a luta, para o martírio e para a morte. Por modéstia, não expressamos isso em voz alta, mas às vezes pensamos que somos maravilhosos. Entretanto…entretanto, não é que queiramos conquistar o cosmos, mas ampliar a Terra até o limite dele.”

Os dias vão passando e a situação ficando mais estranha, até que Kelvin começa a receber a visita de uma estranha aparição, mas muito familiar a ele. A sua noção de realidade e sanidade começa a ser afetada e, para não enlouquecer completamente, Kris precisa agrupar o máximo de informação que tem sobre o planeta e sobre o oceano e, se for o caso, entender o que ele está tentando dizer.


MINHA OPINIÃO

A trama é bem diferente do que eu esperava que fosse para uma ficção científica. Na verdade, a questão da ficção científica fica meio de lado, já que grande parte de sua trama é focada no drama e no suspense envolvendo os personagens e os seus respectivos visitantes, os espectros que supostamente são gerados pelo oceano vivo de Solaris. O começo do livro até que é legal e nos leva por uma onda sombria em que tudo é desconhecido e assustador. Mas, conforme as páginas vão passando, vai ficando difícil gostar da história, pois são longas e longas linhas que se enrolam entre si e, no fim das contas, não levam a lugar nenhum.

“Nós…nós somos banais, somos o capim do universo e nos orgulhamos desse nosso ordinarismo que é tão generalizado, e pensamos que tudo se pode acomodar nele. “

O protagonista da trama é Dr. Kris Kelvin, um psicólogo um tanto quanto estranho, mas que há anos detém de conhecidos a respeito de Solaris. Ele já havia lido vários livros sobre o planeta, mas somente agora é que de fato teria contato real com o objeto. Sua missão é compreender a “mente” oceânica e tentar estabelecer a comunicação com ela. É um homem bastante introvertido e que divaga muito em pensamentos, porém, ao contrário dos demais, ainda consegue manter a cabeça lúcida mesmo quando as evidências desafiam a lógica. O estranho desse personagem é que ele meio que cai de paraquedas na trama, e somente com ele é que acompanhamos o que acontece na estação científica de Solaris. Assim, a trama fica limitada a apenas sua forma de pensar e ver o mundo, não dando espaço para outros insights.

É complicado simpatizar com Kelvin pois, por grande parte das vezes, ele se perde em longas explicações científicas e/ou psicológicas sobre tudo o que presencia. Até certo ponto se faz necessário, o problema é que ele vai além desse ponto aceitável. Por vezes, senti uma certa morbidez, tendendo ao pessimismo. Ou seja, além de sabermos pouca coisa sobre quem ele de fato é, também não se gera uma empatia para com ele.

“O homem saiu para encontrar outros mundos, outras civilizações, sem saber nada sobre seus próprios recessos, ruas sem saída, poços e portas bloqueadas e escuras.”

Outro ponto que não me agradou muito na história é a questão dos espectros. A inserção deles na trama é bastante interessante, pois não se há informações sobre o que são. Há apenas a suspeita de que seja uma forma de o oceano estabelecer uma comunicação. A questão é: qual a sua real intenção? Essa pergunta não foi respondida de forma satisfatória. O protagonista, juntamente com outro cientista da estação, até chegam a criar a teoria de que o oceano não tem consciência de si mesmo, e assim recria informações próximas de si. Entretanto, tudo fica muito vago e não dá uma certeza sobre nada. Uma pena pois realmente gostaria que a trama tivesse focado mais em explicar a inteligência do oceano e como ela se parece tão estranha para nós.

Uma coisa bacana do livro, pelo menos (que fica subentendido) é demonstrar de que forma a humanidade anseia encontrar uma forma de vida inteligente e que possa se comunicar. Solaris fora de longe a melhor aposta que a humanidade já teve, porém, mesmo quando estão diante dessa descoberta, não sabe-se quase nada sobre o que fazer, ou como agir. As várias tentativas das pesquisas também mostravam poucos resultados favoráveis, a tal ponto que os cientistas perdiam o interesse em estudar o planeta.

“Esse era o esquema com o qual partíamos com coragem e alegria para a imensidão: os outros mundos” E então, o que são eles, esses outros mundos?

Diante disso, pode-se traçar um paralelo com nossa realidade e questionar: caso encontremos uma forma de vida alienígena hoje, saberíamos nos comunicar com ela? E caso ela faça contato primeiro, conseguiremos entendê-la a seu modo, ou seria diferente demais para nossa mente compreender? São pontos interessantes, apesar de terem ficado ofuscados.

O livro já teve duas adaptações cinematográficas, sendo a mais recente em 2002, estrelada por George Clooney e Natascha McElhone. Até o momento não decidi se vou ou não assistir, já que receio ter uma experiência semelhante à leitura. Apesar da fama de clássico da ficção científica e uma das mais importantes obras dos anos 60, não consegui gostar da trama e tão pouco criei interesse por outras obras do autor. Mas é aquela velha história, não dá pra julgar um autor por apenas uma obra. Então, só resta esperar que a Aleph lance outros livros dele. Quem sabe alguma outra narrativa me conquiste e faça eu reconsiderar a relevância do autor no cenário do sci-fi, não?

SOLARIS

Autor: Stanislaw Lem

Editora: Aleph

Ano de publicação: 2017

O livro traz a história do cientista Kris Kelvin, psicólogo que vai ao planeta Solaris para estudar um oceano vivo – e possivelmente inteligente – que cobre a sua superfície. Mas ao chegar na estação espacial, Kelvin encontra colegas de trabalho hostis e amedrontados. Logo ele descobre que esses respeitados cientistas estão sendo perturbados por estranhas aparições, que também começam a afetar sua própria percepção. O que ele vê são suas memórias mais obscuras e reprimidas, materializadas por obra de alguma misteriosa força atuante no planeta.

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