A Sombra do Vento é o primeiro livro da série do Cemitério dos Livros Esquecidos de Carlos Ruiz Zafón. A editora Suma de Letras está relançando o título em 2017, mas sua primeira publicação no Brasil foi em 2004 e posteriormente 2007.

Sobre o Livro

Daniel Sempere, um menino de 11 anos que perdeu a mãe, acorda atormentado por não conseguir mais lembrar o rosto dela. Acalmado pelo pai, este promete lhe apresentar algo muito importante e, em plena madrugada, saem às ruas de Barcelona em busca desse segredo. O ano é 1945 e os reflexos da guerra estão por todos os lados.

O que o pai de Daniel lhe apresenta é o Cemitério dos Livros Esquecidos, uma biblioteca escondida que guarda os mais raros exemplares. Ao ser introduzido nesse local, o menino tem o direito de escolher um exemplar de seu gosto para levar consigo e tornar-se guardião. Daniel escolhe A Sombra do Vento, um romance de Julian Carax, um autor até então desconhecido de si, mesmo sua família tendo uma livraria passando de geração em geração.

“Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece.”

Fascinado pela história, o garoto quer saber mais sobre o autor e conhecer outras obras, mas esbarra em um problema. O autor foi declarado morto há anos e alguém tirou como missão queimar todos os exemplares de seus livros. Insatisfeito, Daniel tenta buscar mais e mais informações, acabando por chamar a atenção de alguém que tem interesse no exemplar que o garoto possui, que pode ser único. E, mesmo com o passar dos anos e a continuidade das dúvidas, algo estranho e maligno ronda esse mistério.


Minha Opinião

Esse é um dos livros mais importantes da minha vida. Eu não sei explicar ao certo como ele alcançou esse status, mas certamente houve muito significado desde a primeira vez q ue o li. Essa foi minha terceira leitura e, mesmo com medo de não curtir tanto, foi novamente um prazer. Cada palavra que me marcou ainda estava ali, cada trecho emocionante ainda surtiu o mesmo efeito e os personagem que habitam meu coração, permaneceram em suas posições. A Sombra do Vento segue um favorito e um daqueles livros que eu sempre indico a todo mundo.

Carlos Ruiz Zafón escreve com muita emoção e sobre algo que todo leitor ama: livros. É incrível encontrar nas páginas o mesmo amor que nós temos em nossa vida por esse objeto tão simples e, ao mesmo tempo, cheio de magia. A narrativa do autor é muito única e ele consegue transformar cada personagem em um velho amigo nosso. Mesmo com um ar de mistério, há trechos engraçados, emocionantes e também assustadores. Existe uma aura de suspense e incredulidade que norteia muito das obras de Zafón, fazendo o leitor questionar a todo momento se em algum ponto teremos algo sobrenatural, ou se a história vai sustentar seu teor lúgubre baseada somente na nossa realidade.

“Nunca uma história me seduziu e me envolveu tanto como aquela que narrava o livro.”

Um autor que compõe suas obras com um tipo semelhante de narrativa é Stephen King, mas ao contrário dele, Zafón não se perde na prolixidade das descrições. Sua profundidade aos personagens é dada pela forma intensa em que eles sentem e passam isso ao leitor, sem perder em nada também na ambientação, que mesmo de forma sucinta, consegue transmitir tudo o que precisa. Estamos em um ano de guerra e mesmo com o passar de algum tempo na trama, as consequências econômicas e morais do que aconteceu é algo latente e palpável.

A Sombra do Vento é o volume inicial dessa série, mas pode ser lido separadamente. Cada um dos livros foca em um momento e, em ordem cronológica, esse não é o mais antigo em história. Haverá um livro antes e um depois do tempo aqui retratado, além do quarto e livro final que é O Labirinto dos Espíritos. Há sempre algo, alguém ou algum momento que interliga os volumes, proporcionando ao leitor uma amplitude da história. Eu já li todos os livros do autor – com exceção desse último que está saindo agora – e digo que a fórmula dele de construir essas tramas é realmente sua assinatura. E, por mais que cheguemos a um ponto em sua obra de livros únicos, que estamos até “acostumados” com a fórmula, é sempre uma surpresa quando alcançamos o final.

“Na cena que eu acabara de presenciar, aquele estranho poderia ser qualquer noctívago, um figura sem rosto ou identidade. No romance de Carax, aquele estranho era o diabo.”

Daniel Sempere é um personagem para se apaixonar. Ele é um garoto de coração enorme, com boas intenções, ingênuo em vários momentos, mas que mantém sua malícia quando preciso. Isso tudo o torna real, vívido e é impossível não torcer imensamente por ele em suas buscas. Sua mãe, a situação financeira, a relação com o pai, um amor não correspondido e o mistério de Julian Carax. Sua vida é pautada por esses momentos que o assombram e o motivam a correr atrás de respostas, numa busca que por vezes vai de divertida a perigosa em um virar de páginas. Ele é, certamente, um personagem que eu vou carregar comigo pra sempre.

Julian Carax, o misterioso autor e presença sombria durante todo o livro, é um personagem a parte. Mesmo ele não estando “fisicamente” presente, é sua história que vamos descobrindo junto com Daniel. Sua adolescência, o colégio, o primeiro amor e sua jornada como escritor vão sendo desvendadas e se inter laçam com a trama real do garoto Sempere. É incrível como duas histórias separadas por anos, por linhagens, por basicamente tudo, podem colidir de forma tão mágica, dando todo um novo significado ao livro.

O livro tem dois momentos: o de Daniel mais novo, sendo apresentado a esse mundo, descobrindo sobre Julian Carax, buscando algumas respostas e se aproximando da jovem Clara Barceló; e 5 anos depois, quando nosso protagonista está mais velho e toda essa trama volta a lhe assombrar, ao lado de Tomás Aguilar, seu melhor amigo e a irmã dele, Bea. No meio de tudo isso conheceremos também Fermín Romero de Torres, o personagem com mais malandragem que você vai respeitar. Ele também é o alívio cômico da história e peça importante para manter Daniel no caminho certo.

“Lentamente , invadiu-me a certeza absurda de que tudo era possível e pareceu-me que até aquelas ruas desertas e aquele vento hostil tinham cheiro de esperança.”

Esse é um livro de mistério, mas também é um livro sobre as relações entre pessoas, família e amigos e como lidamos com elas. E, claro, um livro sobre o poder dos livros e das histórias. Não vou dizer pra vocês que todo o desfecho é surpreendente e nada igual a tudo que você já tenha visto antes porque essa não é a realidade. O que digo é que não há como fugir do envolvimento com a narrativa e com os personagens. Chega um ponto da leitura onde estamos tão desesperados pra descobrir o que realmente aconteceu – e está acontecendo –  que parecemos mais ansiosos que o próprio Daniel.

Carlos Ruiz Zafón me conquistou com esse primeiro livro e manteve a chama acesa em todos os outros. Esse é certamente o meu favorito pela forma especial que me relaciono com a história e com os personagens, mas também recomendo demais Marina, que é um stand alone e também tem um personagem muito cativante.

Estou fazendo a minha paz com essa repaginação nas capas, mas fiquei feliz em ver novamente atenção voltada pra esses livros, proporcionando que mais pessoas venham a conhecer a história. Pra mim, está sendo um prazer revisitar esses momentos especiais e finalmente compartilhar com vocês. Já há outros pequenos textos sobre A Sombra do Vento e O Jogo do Anjo, segundo livro, aqui no blog, bem do comecinho, em 2014. Mas naquela época eu não escrevia em formato resenha e está tudo muito vago, por isso resolvi reler e trazer um pouco mais de coerência pra essas obras que são tão importantes pra mim.

A Sombra do Vento é um livro mágico, sombrio e instigante. Nele caminhamos por uma Barcelona com lugares escondidos e personalidades misteriosas, que nos intrigam e instigam o leitor a buscar mais respostas. Daniel Sempre e Julian Carax terão suas histórias reveladas, e cada um deles, ao seu modo, tem algo importante pra nos contar.

A SOMBRA DO VENTO

Autor: Carlos Ruiz Zafón

Editora: Suma de Letras

Ano de publicação: 2017

Numa madrugada de 1945, em Barcelona, Daniel Sempere é levado por seu pai a um misterioso lugar no coração do centro histórico: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Lá, o menino encontra A Sombra do Vento, livro maldito que mudará o rumo de sua vida e o arrastará para um labirinto de aventuras repleto de segredos e intrigas enterrados na alma obscura da cidade, A busca por pistas do desaparecido autor do livro que o fascina transformará Daniel em um homem ao iniciá-lo no mundo do amor, do sexo e da literatura.
Numa narrativa de ritmo eletrizante que mistura gêneros como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo, Carlos Ruiz Zafón mantém o leitor em estado de contínuo suspense. Ambientada na Espanha franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, A Sombra do Vento é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros.

Relacionados

Destaques

Insta
gram

[jr_instagram id='3']

Parceiros