Tartarugas Até Lá Embaixo é o novo livro do autor John Green, com lançamento em 2017 pela editora Intrínseca.

Sobre o Livro

Aza Holmes sofre de transtorno obsessivo-compulsivo e sua mente é uma espiral de pensamentos que fogem completamente do seu controle. Dayse, sua melhor amiga, tenta sempre puxar Aza mais para a realidade, mesmo não entendendo completamente o que acontece com ela. Com planos para o futuro, as garotas acabam por embarcar em uma investigação que pode render uma boa grana.

“Você dá poder demais aos seus pensamentos Aza. São apenas pensamentos. Eles não são você. Você pertence a si mesma, mesmo quando seus pensamentos não pertencem.”

Um milionário da cidade desapareceu, e há uma recompensa em jogo para quem apresentar uma pista que leve a encontrá-lo. Porém, um dos filhos desse cara é amigo de alguns anos de Aza, e ela não sabe muito bem como se sente em relação a isso.

Enquanto busca pistas e reencontra velhos sentimentos, também precisa lidar com a confusão que se passa em sua cabeça, onde um pequeno grão de areia vira algo incrivelmente enorme em bem pouco tempo.


Minha Opinião

Há quem ame o John Green e há quem deteste. Eu fico em um meio termo de quem não é exatamente o público dele, mas que tirou coisas positivas de seus livros. Porém, independente da minha relação com o autor, eu sempre acompanhei a pessoa dele e do irmão também, através do canal vlog brothers. Com isso, durante anos vejo-o falando sobre questões da sua vida e, entre elas, a ansiedade.

Caso você não saiba, Green sofre da mesma condição da protagonista e surpreendeu a todos quando anunciou esse livro, à beira da publicação, já que já havia pedido para que os pedidos de novos livros cessasse. E, mesmo conhecendo a “fórmula” presente nos outros livros, os quais li todos há vários anos, fiquei feliz por saber que isso significava que, de certa forma, ele estava melhor.

Tartarugas Até Lá Embaixo foi bem diferente do que eu imaginei que seria. Quando li a sinopse pensei que seria mais uma road trip, daquelas que o autor gosta tanto. Porém, a viagem acontece sem sair do lugar, na cabeça de Aza. Esse é um livro para que possamos tentar compreender melhor quem sofre com o distúrbio, identificar alguns pontos e nos tornarmos mais compreensivos. TOC não é “frescura” e existe em vários níveis. O da protagonista aqui escalona conforme caminhamos pelas páginas e é possível se sentir ansiosa junto com ela.

E foi aí que o livro me pegou. Você sente enquanto lê, o nervoso, a impotência, de simplesmente não conseguir ajudar aquela pessoa, mesmo sendo ela fictícia. Aza sabe o que tem e faz tratamento, ela está já sob medicação, mas há um inconformismo nela em pensar que a única forma de ela ser ” normal” é através de um remédio, o que faz com que ela negligencie esse aspecto, não tomando o que lhe foi receitado como deveria.

“Não é que a gente se iluda achando que comportamentos desse tipo são normais. A gente sabe que tem um problema. Só não consegue descobrir o que fazer para consertá-lo.”

Isso, aliado aos fatores externos, faz com que ela vá piorando exponencialmente ao longo do livro. No começo são pequenas coisas, mas já é possível ver o quanto aquilo a consome, conforme passamos pelas páginas, em questão de algumas semanas, vemos a garota se consumindo ainda mais, de uma forma que parece estranhamente natural. Não houve estranhamento em ver ela se sentindo daquela forma ou na amplitude do que estava por vir, e isso foi algo que ao mesmo tempo me assustou e me pôs a pensar.

Nós temos a mania de sempre que reclamamos de algo que tenha a ver com limpeza ou organização, mencionamos o TOC, com isso a evocação da condição fica banalizada e não realmente expressa o que ela verdadeiramente causa em uma pessoa. Como mencionei, há diferentes níveis que podem se modificar ao longo da vida ou nunca chegar a escalonar, mas é muito importante compreender a seriedade que uma condição grave de transtorno obsessivo compulsivo representa.

E eu acho que o autor conseguiu exprimir aqui de forma muito clara o que isso significa. Estar na cabeça de Aza é algo atormentador e é exatamente isso que precisamos sentir pra compreender. Ela não é uma personagem que se faz de vítima ou é completamente estranha, mas há pedaços de sua personalidade que gritam a sua situação. Sua melhor amiga não compreende verdadeiramente o que acontece e a julga distante, por exemplo, e aos poucos também compreendemos outras visões e sentimentos.

“O verdadeiro terror não é ter medo, é não ter escolha senão senti-lo.”

Diferente de suas outras histórias, esse é um livro realmente focado na protagonista e no que ela sente, sem se expandir muito para romances ou mistérios. Há uma conformidade no que é trabalhado. Esses “acessórios” trazidos por John Green estão ali para dar liga a uma situação maior que se passa dentro da cabeça de Aza e isso faz com que o livro tenha vários momentos, mas seja unificado em nos mostrar algo maior.

A escrita mantém o tom jovem e é cheia das já conhecidas e esperadas boas quotes. O nome do livro também se explica, caso você já não tenha sacado, pois é um fato já utilizado em outras referências, assim como a aspiral por trás do título. Mais uma vez, tudo muito amarradinho.

Acho que Tartarugas até lá embaixo roubou algumas posições no meu ranking do John Green. Mesmo o considerando “melhor” que Quem é Você, Alasca?, o meu preferido do autor, vou deixar ele em segundo lugar, pois admito que esse segundo falou mais comigo no momento em que eu li, apesar de também ter sentido muito com a trama de Aza.

O livro cumpre o seu papel, passa uma mensagem importante, esclarece sobre algo que precisa ser mais discutido e ainda nos presenteia com uma história bonita e interessante, na companhia de uma personagem que em outro cenário seria incompreendida, mas que aqui ganha nossa simpatia e faz com que torçamos fielmente para que tudo dê certo pra ela.

Porém, mais do que tudo isso, o livro parece um coração aberto do próprio autor. Tenho certeza de que há muito do John Green aqui, do que ele sente e passa, ao ter TOC, e, que melhor forma de se conectar com seu leitor, do que abrindo uma parte de si. Fica então a recomendação para os já fãs e para aqueles que querem se aventurar pela primeira ou mais uma vez.

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Autor:John Green

Editora: Intrínseca

Ano de lançamento: 2017

SA história acompanha a jornada de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que sai em busca de um bilionário misteriosamente desaparecido – quem encontrá-lo receberá uma polpuda recompensa em dinheiro – enquanto tenta lidar com o próprio transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Repleto de referências da vida do autor – entre elas, a tão marcada paixão pela cultura pop e o TOC, distúrbio mental que o afeta desde a infância –, Tartarugas até lá embaixo tem tudo o que fez de John Green um dos mais queridos autores contemporâneos. Um livro incrível, recheado de frases sublinháveis, que fala de amizades duradouras e reencontros inesperados, fan-fics de Star Wars e – por que não? – peculiares répteis neozelandeses.

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