Tudo Que Deixamos Para Trás é um distopia da autora Maja Lunde, lançada no Brasil em 2016 pela editora Morro Branco.

Sobre o Livro

No ano de 2098 as abelhas já estão extintas a muito tempo e a configuração do mundo mudou. A fome assombra a todos e técnicas de polinização manual foram desenvolvidas. Tao vive no distrito 242 em Sichuan, e é uma das pessoas que faz esse árduo trabalho, passando dia após dia em cima das árvores dando pinceladas. Ela tem um pequeno e teme pelo futuro do menino, já que com apenas 8 anos as crianças já são arrastadas para o pomar.

Em 2007 conhecemos George, um apicultor de Ohio que tem na sua criação de abelhas sua única fonte de renda. Seu desejo é que o filho assuma seu lugar e dê continuidade no legado da família, mas o garoto foi pra faculdade e parece cada vez mais distante do que seu pai quer.

“Os desaparecimentos tinham recebido um nome agora. Desordem do Colapso das Colônias.”

Na Inglaterra, em 1852, William não tem forças para viver. Acamado há um tempo, sua família fica a mercê da falta de dinheiro, pois sem ele para carregar certas responsabilidade, o negócio da família teve que fechar as portas. O homem é um estudioso e sua busca é por uma colmeia mais eficiente, mas seu desejo por tocar seus projetos desapareceu e ele precisa reencontrá-lo novamente.

Como isso se interliga é um mistério, mas é no futuro, com Tao, que teremos o início de uma busca, quando seu filho sofre um acidente que vira seu mundo de cabeça pra baixo. Enquanto ela corre atrás de respostas, as outras linhas temporais nos mostram como tudo aconteceu, até que a trama entre elas se torne clara.


Minha Opinião

Tudo que deixamos para trás foi uma surpresa. Quando fui apresentada ao livro e a premissa de uma distopia que focava no desaparecimento das abelhas, achei que seria uma trama chata pela qual eu não me envolveria, mas fui positivamente surpreendida pela forma como a história vai se enlaçando.

Em um primeiro momento tudo vai parecer desconexo. Três situações em três épocas diferentes. Três pessoas com quase nada em comum a não ser uma conexão com abelhas, mas esse não é o único ponto de convergência e é muito legal ver tudo sendo explicado enquanto caminhamos pela vida desses personagens. Além da distopia em si, esse é um livro sobre o relacionamento familiar. Pode não parecer, mas entendendo mais sobre os protagonistas é fácil ver como cada um deles tem uma relação forte com os filhos e de como isso se torna relevante e com destaque na narrativa.

Tao é uma lutadora. Ela tem 28 anos, é casada e tem um filho. Nessa sociedade você só pode engravidar até os 30 anos e precisa pagar uma taxa para ter um segundo filho, a qual eles estão economizando. Como vivem em um regime praticamente escravo tudo é muito difícil. No futuro ela vê o filho seguindo o mesmo caminho que todas as demais crianças, indo pra escola aprender a polinizar e saindo de lá um soldadinho que fará mecanicamente um trabalho injusto. Mas ela quer mais e no privado tenta ensinar o menino matemática, geografia e outras coisas que considera importante.

“Não quis aprender por aprender, quis aprender para compreender.”

Quando algo acontece com o menino, há um estopim na história e vemos as coisas começarem a girar em volta de um conflito mais real. É em Tao que vemos a garra e a vontade de mudar o futuro. É nessa mulher esquecida em um lugar no ocidente que reside a gana por buscar respostas e com a qual infelizmente algumas coisas ruins podem acontecer.

William é o personagem que eu menos gosto e passei o livro todo questionando sua presença. Ele quer status, mas tudo dá errado. deixa a família a mercê de sua doença, não fornecendo suporte, até que não haja mais o que fazer. Quando finalmente se põe de pé, seus olhos se voltam para o único filho homem e herdeiro de seu nome, enquanto ignora as filhas e aquela que parece realmente entender o que ele está fazendo.

George é o típico pai conservador que quer que o filho siga seu mesmo caminho. O jovem, porém, quer ser escritor. A relação dos dois é bem evasiva e distante e os esforços do patriarca parecem afastar ainda mais o garoto. Mesmo assim Tom entende o peso que aquilo tem para sua família e por vezes se dobra a vontade do pai, ajudando quando necessário nas poucas vezes em que está em casa. É com esse núcleo que vamos acompanhar a coisa realmente acontecer.

“Assim como o zangão, sacrifiquei a vida pela procriação.”

Segundo a trama o desaparecimento das abelhas começou em 1980 e alcançou seu estopim entre 2007 e 2011, não deixando nada depois disso a não ser um mundo que precisava achar formas de sobreviver sem o importante animal. Sem os insetos e sua polinização a fertilização foi a baixo e tudo entrou em colapso. O motivo seria o excessivo uso de pesticidas e claro, o impacto disso na natureza.

Ao fim do livro a autora cita uma série de artigos reais e científicos que embasam o livro e um possível estudo do que aconteceria caso as abelhas realmente desaparecessem. Isso, enquanto outros tantos livros de distopias trazem fatos bem menos críveis, foi o que também deu crédito pra mim à história. Não é algo impossível ou até distante. Todos sabemos que ano após ano animais são extintos graças a feitos da raça humana. Já temos uma infinidade de raças que ficou no passado e isso tende a aumentar conforme o desgaste que causamos no planeta e o descuido com ele.

Sendo uma distopia em volume único, achei a proposta bem diferente e interessante depois que mergulhei na história. Acho que fãs de livros como A Evolução de Calpurnia Tate ou com uma pegada mais ambientalista podem se identificar bastante com o cenário. Outro fator é termos personagens adultos e não adolescentes comandando a narrativa. Tudo que deixamos para trás não é um young adult e acho que a capa e o trabalho gráfico já deixam isso claro.

“Tinha pensado que teria que escolher, mas eu daria conta das duas: tanto da vida como da paixão.”

Pra mim que fui sem expectativa e esperando algo bem diferente, a leitura demorou um pouco a engrenar. Mas depois de estar dentro do livro e ter compreendido totalmente as três visões, foi super fácil avançar e a escrita da autora se tornou fluída e rápida.

Então, caso você esteja procurando uma distopia diferenciada, adulta e bem diferente, Tudo que deixamos para trás pode ser uma boa opção para investir. A editora também fez um bom trabalho com a edição deixando ela bem característica.

TUDO QUE DEIXAMOS PARA TRÁS

Autor: Maja Lunde

Editora: Morro Branco

Ano de publicação: 2016

Em 1852, William é um deprimido biólogo inglês, que deseja criar um novo tipo de colmeia capaz de trazer reconhecimento para sua família. Em 2007, George é um apicultor americano que luta para manter o negócio produtivo e acredita que seu filho pode ser a salvação de sua fazenda. Em uma China futurista, quando todas as abelhas desapareceram, Tao trabalha com polinização manual. Enquanto passa seus dias pendurada em árvores, deseja para seu filho uma educação e vida melhores do que a sua.
Mais do que uma distopia sobre o desaparecimento das abelhas, em que passado, presente e futuro se encontram, Tudo Que Deixamos Para Trás é uma poderosa história sobre o relacionamento entre pais e filhos e o sacrifício que fazemos por nossas famílias.

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