A Amiga Genial é o primeiro livro da tetralogia napolitana da autora Elena Ferrante, publicado no Brasil pela Editora Biblioteca Azul, em 2015.
Sobre o livro
Elena, mais conhecida pelo apelido Lenu, atende uma ligação já na madrugada. É Rino, o filho de sua amiga Lila. Ele, por sua vez, está desesperado porque a sua mãe sumiu, o guarda-roupa está vazio, e até mesmo suas fotos tiveram o rosto recortado.
Lenu logo lembra que a amiga sempre desejou isso. Sempre quis sumir sem deixar rastro algum. Então aconselha Rino a deixar sua mãe em paz, era isso que ela queria. Mas Lenu não vai deixar a amiga desaparecer assim. Ela senta e começa a escrever sobre toda a vida delas em um dos bairros mais pobres de Nápoles, onde passaram sua infância e juventude.
Minha opinião
Elena Ferrante já carrega o mistério em seu nome, ou melhor, pseudônimo. Para mim toda a história por de trás da autora já era motivo de curiosidade, e quem já era fã assumido da autora sempre me dizia para começar a ler a partir da tetralogia napolitana.
A Amiga Genial é um romance de formação. Lenu narra toda a vida dela e Lila numa Itália pós guerra, onde a miséria era algo cotidiano. As tentativas de sair daquele bairro eram pouquíssimas e logo de cara já se percebe o preconceito diário vivido naquele bairro pobre de Nápoles.
Lenu é uma menina muito inteligente, mesmo com pouca idade já é muito próxima do estudo e faz de tudo para ser a melhor em sua turma. Lila é uma criança rebelde, muitos a chamam de malvada porque a garota parece ter uma resposta afiada para tudo. A amizade delas acontece em um momento inusitado, onde Lenu sente a necessidade de ficar perto dessa menina tão rebelde, tão estranha que é Lila.
A história conta com muitas personagens e narra o dia a dia daquele bairro. Quase sem perceber o leitor é transportado para aquela vida, e o personagem citado no início, que mal parece ter relevância, acaba sendo inserido em alguma história no decorrer da narrativa. As brigas de Melina e a mulher de Sarratore, ou a máfia de Dom Achille, tudo parece se encaixar em algum momento.
Lenu e Lila dividem sentimentos conflitantes. Ora são amigas e confidentes, ora rivalizam com absolutamente tudo. A leitura na parte da infância é extremamente fluída, rápida e com capítulos bem curtos. Nesse tópico nós conseguimos entender um pouco mais sobre cada família, seus trabalhos e o surgimento da amizade das duas protagonistas.
“Com certeza me adestrei em aceitar de bom grado a superioridade de Lila em tudo, inclusive seus abusos.”
Em muitos momentos fiquei me questionando sobre Lila. Ela é uma personagem que o leitor não consegue se decidir se gosta dela ou não. Muito decidida e por vezes teimosa, Lila faz com que se perceba uma certa maldade, em alguns momentos até mesmo inconsciente, como foi o acontecimento da ida ao mar.
A violência que constituía aquele bairro é algo bem pontuado durante toda a narrativa. Desde tapas entre pais e filhos, até a violência doméstica entre marido e mulher. Até mesmo os diálogos mostram uma certa violência, aspereza nas palavras dos moradores.
“Já Fernando urrava, quebrava coisas, e a raiva se autoalimentava, ele não conseguia parar, muito ao contrário, as tentativas que a mulher fazia para contê-lo deixavam-no ainda mais possesso e, ainda que sua fúria não fosse contra ela, terminava por surrá-la.”
O livro não tem grandes acontecimentos, é basicamente a narrativa de uma vida, uma história de vida. Mas ele consegue nos fisgar em toda a sua complexidade. Uma escrita bem densa e elaborada, a autora brinca entre uma ficção e realidade, fazendo o leitor se questionar se realmente não é uma história pessoal.
A Amiga Genial termina de uma forma para tirar o fôlego do leitor, deixando o gancho para os próximos livros. Sem dúvidas foi uma maravilhosa surpresa conhecer a escrita de Elena Ferrante. Os temas abordados durante todo o livro nos mostram todas as nuances que aqueles personagens estão inseridos e os tornam mais reais do que nunca.
Finalmente entendi o motivo dessa série ser tão aclamada no exterior. A Amiga Genial é fascinante e indico para todos os que querem mergulhar em uma escrita primorosa e personagens complexos.
A AMIGA GENIAL
Autor: Elena Ferrante
Tradução: Maurício Santana Dias
Editora: Biblioteca Azul
Ano de publicação: 2015
A Série Napolitana, formada por quatro romances, conta a história de duas amigas ao longo de suas vidas. O primeiro, A amiga genial, é narrado pela personagem Elena Greco e cobre da infância aos 16 anos. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, tem sua vida transformada quando a família do sapateiro Cerullo chega ao bairro e Raffaella, uma criança magra, mal comportada e selvagem, se torna o centro das atenções. Essa menina, tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela.As duas se unem, competem, brigam, fazem planos. Em um bairro marcado pela violência, pelos gritos e agressões dos adultos e pelo o medo constante, as meninas sonham com um futuro melhor. Ir embora, conhecer o mundo, escrever livros. Os estudos parecem a melhor opção para que as duas não terminem como suas mães entristecidas pela pobreza, cansadas, cheias de filhos. No entanto, quando as duas terminam a quinta série, a família Greco decide apoiar os estudos de Elena, enquanto os Cerrulo não investem na educação de Raffaella. As duas seguem caminhos diferentes. Elena se dedica à escola e Raffaella se une ao irmão Rino para convencer seu pai a modernizar sua loja. Com a chegada da adolescência, as duas começam a chamar a atenção dos rapazes da vizinhança. Outras preocupações tornam-se parte da rotina: ser reconhecida pela beleza, conseguir um namorado, manter-se virgem até encontrar um bom candidato a marido.Mais que um romance sobre a intensidade e complexa dinâmica da amizade feminina, Ferrante aborda as mudanças na Itália no pós-guerra e as transformações pelas quais as vidas das mulheres passaram durante a segunda metade do século XX. Sua prosa clara e fluída evoca o sentimento de descoberta que povoa a infância e cria uma tensão que captura o leitor.
