A Caminho de Marte é um livro de não-ficção, com teor científico do físico brasileiro Ivair Gontijo. É um lançamento de 2018 pela Sextante.

SOBRE O LIVRO

Em A Caminho de Marte, o físico brasileiro Ivair Gontijo narra a sua jornada, desde sua infância pobre em Minas Gerais até as graças de trabalhos relevantes e renomados dentro da NASA, a Agência Espacial Norte Americana. Mais do que só falar como chegou lá,  ele também nos conta em destalhes como foi o processo de criação, testes e envio da nave marciana Curiosity, talvez uma das mais famosas e importantes naves não tripuladas em Marte. O Curiosity é responsável por várias descobertas desde sua chegada no planeta vermelho, e desde então, conhecemos um pouco mais sobre nosso irmão solar.

“Todos nós, sem exceção, somos capazes de pensar, planejar e fazer muito mais do que imaginamos. Os maiores obstáculos estão dentro de nós mesmos.”

Em uma jornada cheia de desafios e turbulências, Ivair nos explica de forma breve como surgiu o fascínio humano pelo planeta e quais os objetivos esperados nas próximas décadas para as futuras missões. Além disso, com as descobertas do Curiosity, é possível afirmar com quase 100% de certeza que Marte já foi, em um passado distante, mais do que uma rocha árida e avermelhada. Houve uma época em que a vida poderia sim ter surgido por lá, já que as condições químicas e físicas eram palpáveis. A grande missão do Curiosity é, contudo, entender o que aconteceu no planeta que o tornou um deserto e se em algum período antigo houve vestígios de vida.

De forma bem dinâmica, A Caminho de Marte leva o leitor em uma grande jornada pelo espaço, desde os povos antigos, passando pelo intenso momento histórico da Guerra Fria, onde a disputa por conquistar o espaço trouxe não apenas inovação na área científica, mas também mais conhecimento sobre o nosso próprio planeta e as formas que atuam nele. Conforme nos expõe o autor, Marte não é a nossa jornada final, mas apenas a primeira de muitas futuras casas que a humanidade poderá um dia vir a habitar.


MINHA OPINIÃO

Marte é até hoje um dos planetas de maior fascínio da espécie humana, desde a sua descoberta. A razão, entre muitas, está no fato de que esse pequeno planeta, pouco menor que a Terra, apresenta indícios de que um dia já foi um provável lar para vida como a conhecemos. A questão é que, alguma coisa no passado aconteceu e então ele se tornou o que é hoje: um deserto estéril, avermelhado e praticamente inabitável.

Nós humanos somos movidos a base de perguntas. As respostas são apenas consequência daquilo que buscamos, mas nunca é o bastante. Somos insaciáveis. E em meio há tantas perguntas, uma que até hoje se mantém uma incógnita é: há vida além da Terra? Essa pergunta sem resposta alimentou a mente de muitas pessoas, sendo que até hoje ela é feita. Mas o que antes era só parte do imaginário popular, hoje ganha os holofotes da ciência.

“A Astronomia é a mais velha das ciências e é um privilégio sermos os herdeiros desse conhecimento acumulado por mais de 60 séculos.”

Várias missões já foram enviadas para Marte, com diversos objetivos: coletar amostrar, estudar a composição geológica, entender o campo magnético, etc. A Curiosity, uma das missões recentes, possui vários desses objetivos, mas entre eles, está o de pesquisar os elementos base que compõem a vida como a conhecemos: carbono, oxigênio, enxofre, água, entre outros. Além de procurar esses elementos, a missão também tem como objetivo desvendar o passado do planeta e tentar entender o que deu de errado. Para onde foi toda a água que corria sobre o solo marciano? Porque ele perdeu sua atmosfera? Há fósseis lá?

“Nossa mente acha a solidão  e a indiferença do resto do Universo quase repelentes. Queremos acreditar, queremos esperar que não estejamos sozinhos.”

Ivair nos explica todas essas questões de modo prático e bastante intuitivo. Conforme o autor, que foi um dos responsáveis por construir o radar da nave, a resposta mais exata para essa pergunta até agora é: não sabemos. Há muitas suposições, porém pouca prova para o que de fato aconteceu. O que se sabe, graças à Curiosity, é que sim, os blocos químicos básicos para a vida existem por lá, o que comprova que em um passado remoto a água permanecia em estado líquido na superfície do planeta. Além disso, a Curiosity também está tentando desvendar o mistério das emissões de metano. Na Terra, há duas formas de se produzir o gás: organicamente ou através de reações químicas. Já em Marte, esporadicamente o gás é detectado, mas até o momento não se sabe o que o produz. Seriam bactérias pré-históricas?

Uma das coisas interessantes narradas pelo autor é o processo de criação e testes da nave ou sonda. Eu particularmente nunca parei pra pensar o quão complicado deve ser elaborar o projeto, testar, aprimorar, e ainda assim não ter garantida de que tudo vai dar certo quando chegar no destino. É um jogo arriscado, no qual as chances são de 50% para ambos os lados. E quase sempre alguma coisa dá de errado. Os capítulos que falam sobre a construção da Curiosity são bastante interessantes e científicos, mas não há tempos extremamente complicados. Até há, nas páginas onde ele cita siglas ou palavras de uso não comum, notas de rodapé para explicar ou orientar o leitor a respeito do que se trata. Em algumas, inclusive,  há links para fotos e vídeos dos testes e simulações da chegada em Marte.

O livro intercala capítulos sobre a vida pessoal do autor, com capítulos onde ele faz um retrocesso desde os tempos antigos, de Copérnico e Kepler, até os dias atuais. Achei legal uma parte onde o autor questiona que muitas pessoas até hoje não creem que o homem foi à Lua. Nesse ponto, ele narra todos os processos envolvidos, desde pessoas, países e agências, bem como redes inteiras de TV e rádio, que acompanharam passo a passo a ida do homem ao astro. Aí então ele pergunta como que dois países rivais (Eua  e URSS) conseguiram manter tanta gente “guardando segredo” por tanto tempo? Diante dessa impossibilidade, o autor argumenta que é muito mais fácil de fato termos ido até a Lua do que por mais de 50 anos enganar milhares de pessoas que estiveram diretamente ligadas ao projeto.

“Ver duas espaçonaves terrestres ao mesmo tempo, com os próprios olhos, voando lá em cima e se preparando para o acoplamento vale mais  do que muitas outras emoções que sentimos aqui embaixo.”

Inicialmente, o livro é um pouco lento, devido aos capítulos do passado do cientista, e um pouco repetitivo, no que se refere ao passado da astronomia. Como recentemente eu havia lido Cosmos, algumas das coisas que ele cita eu já havia visto naquele outro livro. Porém, conforme o autor vai adentrando no momento em que ele integra a equipe do JPL – Jet Propulsion Laboratory – e começa a descrever todos as atividades da missão, o livro se torna mais agradável de ler. Além disso, no meio dele há um caderno de fotos onde podemos ver esquemas de simulação, fotos reais feitas do planeta, fotos da equipe, protótipos do Curiosity, entre outras fotos interessantes. Na verdade uma das primeiras coisas que fiz ao receber o livro foi procurar imagens. Um livro de ciências como esse sem imagens já iria perder alguns pontos comigo, mas no caso esse se garantiu.

O modo didático como o livro foi escrito é um dos grandes triunfos dele, o que torna o seu conteúdo mais prático de assimilar. Apesar de ter um ritmo de leitura um pouco mais devagar, eu gostei bastante dessa leitura pois eu sou um amante nato de praticamente quase tudo o que se refere à Astronomia e espaço. É uma boa recomendação para quem gosta de saber mais sobre o planeta vermelho ou sobre a exploração espacial. E foi bacana também ver isso tudo do ponto de vista um brasileiro, que nasceu em uma situação de quase pobreza e hoje pode se orgulhar de saber que foi um dos responsáveis por uma das mais importantes missões espaciais atuais. Como o próprio autor diz, “a grande tragédia de nossas vidas não é sonhar algo demais e fracassar; a grande tragédia é ter sonhos pequenos demais e ficar somente naquilo”. Marte é só apenas uma parte de um sonho maior, que já começou a se concretizar.

4estrelasb

A CAMINHO DE MARTE

Autor: Ivair Gontijo

Editora: Sextante

Ano de publicação: 2018

Na noite de 5 de agosto de 2012, o clima no Jet Propulsion Laboratory da NASA era de tensão. Já passava das 22h15 e uma das mais audaciosas missões espaciais dos últimos tempos vivia momentos decisivos em Marte. Minutos depois, na sala de controle, uma engenheira anunciou as três palavras mágicas: “Tango Delta Nominal.” A multidão que assistia do lado de fora não sabia, mas aquele código significava que o veículo Curiosity pousara com sucesso em solo marciano. Neste livro, o físico brasileiro Ivair Gontijo, responsável pela construção do coração do radar usado na descida triunfal do Curiosity no planeta vermelho, faz um relato fascinante dos bastidores do projeto de desenvolvimento, lançamento e operação do mais complexo veículo robótico já enviado para outro mundo. Nascido às margens do Rio São Francisco, em Minas Gerais, Ivair intercala histórias da sua jornada pessoal, do interior do Brasil até a NASA, com um panorama das grandes viagens espaciais feitas até hoje. Com uma linguagem clara e acessível, A caminho de Marte reúne as descobertas científicas mais recentes sobre nosso vizinho, aborda a busca por evidências de vida no planeta vermelho e também trata dos desafios futuros na exploração do espaço. Além de despertar a paixão pela ciência, este livro busca inspirar todos aqueles que sonham alçar grandes voos na carreira e na vida.

Relacionados

Destaques

Insta
gram

[jr_instagram id='3']

Parceiros