É interessante pensar que houve um tempo em que livros eram disponibilizados apenas para altos clérigos, guardados em bibliotecas secretíssimas, como a de O Nome da Rosa, de Humberto Eco. Depois, a nobreza também passou a ter a chance de ter livros em casa, e as damas e mocinhas burguesas mais educadas da sociedade, e que portanto podiam ler, devoravam livros com lindos poemas. Hoje em dias as coisas são diferentes, e é fascinante ver como um produto de extremo luxo outrora hoje é um item de fácil acesso. Fácil acesso, entretanto, não significa menos custosos, tanto para bolsos quanto para a produção, e nem que, necessariamente, haja interesse suficiente pelos livros.
Assim como atualmente livros têm se tornado muito mais acessíveis, tanto são outras formas de entretenimento e/ou cultura que dividem a atenção com esses, como filmes, teatro, televisão, jogos de cassino, jogos de computador, redes sociais, etc. Por outro lado, há tempos escutamos que o mercado de livros está em crise e que as vendas vêm diminuindo, e ao que parece, agora chegamos mesmo a um ponto crítico. Em outubro, a Livraria Cultura fechou sua última loja no Rio de Janeiro, e entrou na justiça com pedido de recuperação para ajudar a pagar a dívida com várias editoras, que já está acumulada em milhões de reais. E logo depois foi a vez foi a vez da Saraiva, que fechou mais de 20 lojas espalhadas pelo país, e entrou com pedido também. Como as duas são livrarias poderosas, a sua situação preocupa também outros editores, já que sem os lucros provenientes delas o mercado editorial em todo entra em risco.
O cenário é tão preocupante que o diretor e fundador da Companhia das Letras, Luis Schwartz, publicou no blog oficial da empresa uma carta pedindo para que as pessoas nesse final de ano comprem livros para dar de presente. Segundo ele, “o Brasil vive seus momentos mais difíceis. A Companhia das Letras foi bastante afetada pelos atrasados de pagamentos das livrarias. A Saraiva, por exemplo, deve à editora cerca de R$18 milhões, e a Cultura cerca de R$7,5 milhões. Schwartz finaliza dizendo que “Presentear com livros hoje representa não só a valorização de um instrumento fundamental da sociedade para lutar por um mundo mais justo como a sobrevivência de um pequeno editor ou o emprego de um bom funcionário em uma editora de porte maior; representa uma grande ajuda à continuidade de muitas livrarias e um pequeno ato de amor a quem tanto nos deu, desde cedo: o livro.”
Se para as editoras são tempos preocupantes, é válido lembrar que a situação quanto à leitura já é além de preocupante no Brasil há tempos. O IBGE publicou em 2016 uma pesquisa que revelou que a cada 10 brasileiros, 3 não sabem ler. Agora, dos que lêem, as notícias também não são boas, já que uma pesquisa anterior (porém do mesmo ano) revelou que apenas 8% sabem se expressar e compreender plenamente, neste caso, ler emails, descrições, artigos. Cerca de 27% são analfabetos funcionais. Ao que parece, a crise do mercado editorial apenas é um consequente sintoma em larga escala de um paciente que já agoniza há tempos.
Há várias matérias divulgando o assunto, caso você se interesse por saber mais e, também, muitas campanhas incentivando os leitores a fazerem ações que possam via a ajudar o mercado enquanto consumidores.