A Filha do Pântano é da autora Franny Billingsley e foi lançado em 2016 pela Novo Conceito.
Sobre o livro
Em meio a uma época de Caça às Bruxas, onde todos temem o que não é possível explicar, o pequeno vilarejo de Swampsea convive com seres sobrenaturais e bruxas. Entretanto, essa convivência nem sempre é amigável. As bruxas também são caçadas e julgadas por aqui e ninguém tem coragem de se aventurar pelo pântano onde vivem os Antigos, exceto a jovem Briony Larkin que sente-se totalmente à vontade nesse lugar.
“Como vocês podem pensar que sou inocente? Não deixem meu rosto enganá-los; ele conta as piores mentiras. Uma garota pode ter um rosto angelical e um coração horrendo.”
Ela é filha do pastor e é conhecida por ser uma moça séria para seus tenros 17 anos e por cuidar da irmã gêmea Rose, que possui certas dificuldades em interagir e se comunicar com as outras pessoas. O que eles não sabem é que desde muito cedo sua madrasta contou um segredo que ela carrega por todos esses anos: Briony é uma bruxa.
Convencida de que é uma pessoa má, ela procura manter-se afastada e sempre ocupada com suas incumbências. Mas, tudo isso está prestes a mudar desde a chegada do misterioso Eldric, um rapaz que desperta sentimentos que ela não acreditava ser capaz de sentir. Agora, a jovem precisa lidar com essa novidade, continuar zelando pela irmã e escondendo de todos sua real natureza.
Minha opinião
Imagine se você carregasse todos os dias a certeza de que é uma pessoa má, responsável por diversos eventos que abalaram as estruturas da sua família? Pense em como seria se sentir deslocada o tempo inteiro, em como seria difícil esconder um segredo de todos que estão a sua volta e o pior, esse segredo pode ser responsável pela sua própria morte. Todas essas dúvidas giram em torno da cabeça de nossa protagonista que foi responsável por me deixar muito intrigada. Ela era tão veemente em afirmar que era malvada, cruel e que não sentia nada por ninguém, que por muitas vezes me perguntei se não estava lendo a história de uma vilã.
Briony é uma jovem que esconde muitos segredos dentro de si, alguns que nem ela mesma entende. Soturna e sempre se esquivando das outras pessoas, vemos nela uma jovem forte, mas que não aceita nenhum tipo de contato ou brincadeira. Durante toda a narrativa teremos vislumbres de sua infância e de eventos que a levaram até o presente momento e eles só serão revelados no finalzinho. Confesso que esperava tudo, menos isso. E o pior é que todas as pistas estavam na minha frente. Admito que essa revelação me confundiu um pouco e não achei ela tão original assim, mas foi uma explicação plausível.
“É nesse ponto que histórias decentes começam, não? Quando o belo forasteiro chega e tudo dá errado? Mas esta não é uma história decente e, insisto, eu deveria ser enforcada.”
Sabemos que as mulheres sempre sofreram durante os anos, mas as que foram caçadas e queimadas vivas em fogueiras por lunáticos são as que sentiram, literalmente na pele, todo esse sofrimento. Quando comecei essa história, fui convencida de que não se trataria de uma história de amor, bem como a própria Briony promete, pensei que trataríamos mais de bruxas e o que elas passaram, mas em certo momento a trama muda de rumo e temos mais do mesmo aqui. Também senti falta de um desenvolvimento melhor sobre o pântano e os seus Antigos, seres sobrenaturais que vivem por lá e que são vistos apenas pela jovem. Além disso, o título não fez muito sentido pra mim.
A figura do pai me intrigou bastante, sua distância das meninas, o quanto ele não toca no nome da madrasta e em como ele entrega os cuidados de Rose totalmente para a sua irmã. No entanto, ele é uma figura importante e que tem o respeito dos outros habitantes do vilarejo. Apesar disso, Briony guarda grande mágoa dele e conforme ela narra sua história entendemos os seus motivos, que nos levam no mesmo instante a questionar quais foram os motivos dele para agir assim. Cada um dos habitantes possui algo que esconde dos demais e que justifica, pelo menos para eles, suas atitudes.
“Deixei minha mente vagar. Fingi ser uma pessoa normal. Inalei o ar gorduroso e a cerveja amarga, exatamente como alguém normal. Prestei atenção às conversas atrás de mim exatamente como alguém normal.”
As descrições do vilarejo, dos costumes e das pessoas da época me agradaram. Conforme adentrei nesse mundo, imaginei todo o cenário do filme “A Bruxa” (2015), conforme as referências que foram sendo passadas para compor o ambiente, gostei muito desse ponto, pois me ajudou a formar um lugar cheio de misticismo e com uma atmosfera mágica. Também achei interessante a apresentação dos preconceitos e superstições que sempre permearam o imaginário do povo e em como a religião é usada para justificar eventos naturais que as pessoas relutavam em buscar explicações.
O que me incomodou na história foi não explorar alguns personagens que pareciam muito ricos e cheios de possibilidades, senti que alguns seres sobrenaturais não tiveram o devido mérito e explicação. A autora conseguiu criar seres fantásticos e que dariam mais histórias, mas optou por girar em torno de um segredo e de algumas reviravoltas, poderia ser mais. Além disso, algumas repetições propositais feitas pela protagonista me deixaram cansada da leitura. A capa também me deixou meio receosa e a sinopse da contracapa e da primeira orelha entregam muito. Não leiam elas! Senti que elas estragam um pouco da minha experiência. Tirando esses detalhes, esse é um livro com uma leitura que flui muito bem e que é totalmente capaz de prender o leitor.


A FILHA DO PÂNTANO
Autor: Franny Billingsley
Tradução: Camila Fernandes
Editora: Novo Conceito
Ano de publicação: 2016
Há anos, a jovem Briony Larkin esconde alguns segredos… Segredos que comprometeram para sempre a saúde mental de sua irmã gêmea, Rose, e que mataram sua madrasta. Mistérios que a impedem de sair de Swampsea. Consumida pela culpa, Briony só encontra alívio nas profundezas do pântano, cercada pela presença dos Antigos os espíritos que assombram o lugar. O problema é que só as bruxas podem vê-los, e na sua aldeia elas são condenadas à morte. Por isso, ela vive com medo de que seu segredo seja descoberto, mesmo que ela acredite merecer as piores punições por todo o mal que já fez às pessoas que ama. A chegada de Eldric faz sua vida mudar, pois ele representa o que ela sempre desejou ser, tudo aquilo que ela teme sentir. Prender-se à magia ou libertar-se para o amor? Caberá a Briony fazer a decisão mais importante.