A Livraria, escrito pela autora inglesa Penélope Fitzgerald, foi publicado originalmente em 1978 e ganhou, em 2018, nova edição pela Bertrand Brasil.

SOBRE O LIVRO

Florence Green, viúva e moradora da cidade de Hardborough já há oito anos, uma cidade pequena situada na costa inglesa, cansada de sobreviver apenas do pouco dinheiro que seu falecido marido a deixara, decide abrir uma livraria na cidade. Em 1959, a pequena cidade jamais vira cinema ou mesmo uma lavanderia, se virá diante da ousadia da Sra. Green em abrir a primeira livraria da cidade.

“Dizem por aí que a senhora vai abrir uma livraria. Isso mostra que está disposta a se arriscar com coisas bastante difíceis.”

Rapidamente percebemos uma forte resistência de diversos setores daquela comunidade à empreitada de Florence e começamos a perceber os pequenos impactos, positivos e negativos, que sua livraria terá nos habitantes de Hardborough. Será a resistência de Florence maior que o receio que a população parece ter da existência de uma livraria em sua comunidade?


MINHA OPINIÃO

Por meio de uma narrativa simples e delicada, Penélope Fitzgerald constrói uma história que, embora seja bastante descritiva, é tão bonitinha, agradável e envolvente que acaba sendo bastante fluida. O leitor chega ao final do livro quase sem perceber de tão rápida a leitura.

Porém, um dos motivos para esta ser uma leitura tão tranquila e rápida é também um de seus defeitos, que é a sua linearidade. Pois ao mesmo tempo que esta linearidade garante a fluidez da leitura, também me passou a impressão de que faltou ir além; de que existiria muito mais a acontecer naquele contexto e de que os personagens teriam muito mais a evoluir.

“Um bom livro é a preciosa força vital de um espírito superior, embalsamado e entesourado para que alcance vida além da vida”.

É impossível, porém, como leitores apaixonados que somos, não nos encantarmos pela personagem e por sua teimosia em trazer uma livraria para uma comunidade não-leitora, que a vê e a seus livros sempre com muita desconfiança e, até, como uma real ameaça. É interessante pensar, inclusive, em como há muitos contextos, no Brasil e em outras partes do mundo, em que abrir uma livraria é também, ainda hoje, 60 anos depois do tempo em que se passa essa história, visto com desconfiança e como uma grande ousadia.

Um dos pontos mais interessantes do momento histórico em que a obra se localiza é a questão que surge em torno do lançamento do romance Lolita que, se até hoje permanece bastante polêmico, podemos apenas imaginar qual não seriam as consequências da presença desse livro em uma cidade pequena inglesa nessa época.

Além da discussão acerca do conteúdo escandalosa da obra, também vemos surgir nesse momento da história a preocupação em distinguir o que seria considerado criticamente bom, o que é uma grande obra de literatura, do que vende bem ou, até, do que ela, pessoalmente, considera  uma leitura agradável. Em que obras investir enquanto dona de uma livraria? O mais importante é a obra-prima ou o que as pessoas desejam?

“Confio em meus julgamentos morais, sim, mas sou uma varejista; não fui instruída para entender as artes e não sei quando um livro é uma obra-prima ou não.”

Sobre a adaptação para o cinema, acho interessante comentar que ela é bem próxima da obra original e, até, parece esforçar-se para dar ao expectador um sentido, uma conclusão mais completa que a fornecida pela autora, preenchendo lacunas de forma distinta da oferecida pela obra de Penélope Fitzgerald. É um dos poucos casos em que considero que as mudanças feitas pelo filme funcionaram a favor da história original, assim como considero esta capa uma das poucas que conseguem pegar o filme e fazer dele uma capa de livro interessante. Recomendo tanto a leitura quanto o filme para todos os utópicos amantes da literatura.

A LIVRARIA

Autor: Penélope Fitzgerald

Editora: Bertrand Brasil

Ano de publicação: 2018

O livro que deu origem ao filme estrelado por Emily Mortimer, de A ilha do medo, e Patricia Clarkson, de House of cards Florence Green, uma viúva de meia-idade, decide abrir uma livraria — a única — na pequena Hardborough, uma cidade costeira no interior da Inglaterra. Florence não esperava, contudo, que seu projeto pudesse transformar Hardborough em um campo de batalha: enquanto a influente e ambiciosa Violet Gamart, que tinha outros planos para a centenária casa que ela escolheu como sede, faz de Florence sua inimiga, a empreendedora também conquista um aliado na figura do excêntrico Sr. Brundish. Na história de Florence Green enfrentando a cortês mas implacável oposição local, vê-se a denúncia de uma estrutura de privilégios apoiada em invejas e crueldades, e, no microcosmo de Hardborough, Penelope Fitzgerald monta um cenário repleto de detalhes precisos e personagens atemporais.

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