A Menina Submersa é da autora Caitlín R. Kiernan e foi primeiramente publicado em 2014 pela Darkside Books, em edição brochura e posteriormente, em 2015, ganhou uma nova edição em capa dura.

Sobre o livro

India Morgan Phelps quer contar sua história sobre fantasmas e para isso ela começa a escrever suas memórias em um livro. Imp, como também é chamada, tem esquizofrenia desorganizada, assim como sua mãe e sua avó também tiveram e ambas cometeram suicídio. Após descobrir que possui a doença ela começa o tratamento, mas mantém seus momentos menos lúcidos.

Como característica da esquizofrenia desorganizada, Imp por vezes não sabe distinguir o que é real do que acontece somente em sua imaginação, ou o real momento em que algo aconteceu, mantendo uma linha do tempo bastante desorganizada. É dessa forma que ela vai contar pra nós sobre a menina submersa.

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“Uma coisa que comecei a entender sobre as verdadeiras histórias de fantasmas é que raramente sabemos que elas estão acontecendo conosco até depois do fato, quando somos assombrados e os eventos da história propriamente dita já aconteceram e acabaram. Esse é um exemplo perfeito do que quero dizer. A primeira mulher que eu beijei foi l’Inconnue de la Seine, a imagem de uma suicida não identificada que nasceu cem anos antes de mim”.

Nesse livro que lemos – que também é o livro que India escreveu – ela descreve como quando ainda criança viu o quadro de Phillip George Saltonstall, A menina submersa, pela primeira vez e do quanto ele a assustou. A partir daí ela começou a pesquisar sobre e descobriu várias coisas intrigantes a seu respeito. Porém, para explicar a importância do quadro Imp precisar passear com o leitor sobre alguns meses da sua vida, como quando ela conheceu a namorada que vivia com ela no momento em que encontrou a misteriosa Eva Canning pela primeira vez e como esse encontro mudou sua vida e a trouxe de volta para dentro do quadro de Saltonstall.


Minha opinião

A Menina Submersa é um livro complexo, estranho e desorganizado. Tudo isso se dá ao fato de estarmos dentro da cabeça de uma protagonista esquizofrênica que não tem a noção de tempo bem definida e que também não sabe diferenciar o que real do que não é. A narrativa não é linear, o que faz com que o leitor precise estar atento a todos os fatos e aos poucos ir definindo ele próprio a ordem certa de alguns acontecimentos, bem como também tentando separar o que é verdade do que apenas aconteceu na cabeça de Imp.

Acho que a primeira dica para compreender a obra de Kiernan é saber que você não receberá um livro mastigado e com todas as respostas. A autora exige do leitor um esforço a mais e, portanto, esse é um livro que precisa ser lido com atenção e calma, e talvez não seja para todas as pessoas.

A segunda coisa importante é como a narrativa transcorre. Aparentemente estamos lendo o livro que India escreveu, mas a India as vezes conversa com ela mesma, fugindo da “história” do livro e introduzindo sua outra personalidade, Imp. O nome e o apelido estão presentes e se você reparar bem, talvez veja duas vozes diferentes falando. Dessa forma temos três situações dentro da narrativa: a história do livro, os debates internos de India e as afirmações de Imp.

“Gente morta, ideias mortas e supostamente momentos mortos nunca estão mortos de verdade e eles moldam cada momento de nossas vidas. Nós os ignoramos e isso os torna poderosos.”

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Logo no começo ela diz que vai escrever uma história sobre fantasmas, porém os fantasmas da protagonista vão além dos seres paranormais que estamos acostumados, para ela fantasmas representam tudo aquilo que a persegue em sua mente, novamente de forma real ou não, portanto não espere um livro assustador ou com algo de terror, porque ele não vai acontecer dessa forma.

Esse é um livro composto de várias personagens intrigantes e femininas. A mãe e a vó de Imp, Abalyn – a namorada, Eva Canning, a médica e a amiga do emprego. De homens temos o pintor, que é apenas mencionado e o pai de India, que também só está presente na memória dela por contar como ficava pensando em maneiras horríveis para ele morrer.

Confesso que no começo eu demorei pra entender como a coisa funcionava e me perdia em várias partes tentando compreender o que estava acontecendo, já que a forma de narrar, a história e a voz mudava sutilmente. Porém, depois que compreendi que talvez não estivesse lidando somente com um “livro” e sim com mais de uma possível narradora – mesmo que as duas sejam uma –  a leitura fluiu melhor e eu passei a aproveitar a história. Confuso, não?

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E que edição linda da Darkside, a começar pela capa que nem título tem, deixando bastante para a imaginação do leitor. Por dentro está tudo muito caprichado, com detalhes e ilustrações que complementam a história e passam a fazer sentido conforme você vai conhecendo e desvendando a mente de Imp.

Ao fim, ainda ficaram alguns pontos abertos para serem discutidos, mas em geral eu gostei bastante da experiência de leitura e do livro em si. Acho que nunca tinha pegado uma história que fosse propositadamente confusa pra descrever como a mecânica funciona na cabeça da protagonista, por causa da esquizofrenia. Dessa forma, esse é um livro que eu recomendo se você quer sair um pouco da sua zona de conforto e enfrentar algo completamente novo, está preparado para se dedicar a essa leitura e para compreendê-la como ela merece.

A MENINA SUBMERSA

Autor: Caitlín R. Kiernan

Editora: Darkside

Ano de publicação: 2015

Com uma narração intrigante, não-linear e uma prosa magnífica, Caitlín vai moldando a sua obsessiva personagem. Imp é uma narradora não-confiável e que testa o leitor durante toda a viagem, interrompe a si mesma, insere contos que escreveu, pedaços de poesia, descrições de quadros e referências a artistas reais e imaginários durante a narrativa. Ao fazer isso, a autora consegue criar algo inteiramente novo dentro do mundo do horror, da fantasia e do thriller psicológico.

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